sexta-feira, 15 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Louis pretendia que os diálogos discorressem a respeito da beleza; Henri considera perigosa a tentativa de desvincular a literatura dos assuntos políticos; Lambert critica “Vigilance”, Louis faz coro; “literatura pura” salvaria tipos como Chancel, Sézenac, Vincent e Lachaume?; Scriassine se embebeda, quer que Henri diga se levará suas denúncias em consideração; os dois se desentendem ao discutirem sobre Socialismo e URSS

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html antes de ler esta postagem:

Lambert participou do diálogo entre Perron e Volange, que dizia que era um desperdício discutir política num encontro tão agradável... Vimos que Henri Perron pretendia retirar-se por não suportar a conversa com aquele “tipo complacente ao tempo da ocupação nazista”. Estamos no ponto em que Louis Volange argumentava que, ao tratarem de exclusivamente de política, deixavam de lado os temas da beleza, poesia e verdade... Henri quis finalizar a “ladainha” com um “há pessoas que se interessam por aqueles assuntos”. Foi então que Lambert quis saber quem se interessa...
O rapaz provocou ao dizer que a Vigilance não publicava textos que não tratassem de política... Poesia e beleza não eram levadas em consideração pela revista de Dubreuilh... Louis aproveitou a deixa para demonstrar que sua opinião em relação à Vigilance era a mesma, e acrescentou que o desejável era a literatura assumir os “direitos que lhe são próprios”... Com isso queria dizer que nem todo romance precisa tratar necessariamente de temas políticos.
Para Henri, a ideia de garantir uma “literatura pura”, defendida por Louis, era um tanto sem sentido... Ele disse que isso de “isolar a literatura de tudo o mais” era até perigoso... Volange destacou que aquela situação depende muito da época, e citou o ano de 1940, quando ele próprio imaginava que o ser humano podia defender-se da política, isentar-se... Sem dúvida, de acordo com o seu próprio juízo, um grave erro. Porém garantiu que os tempos eram outros e o “direito de escrever gratuitamente, por exclusivo prazer” podia ser retomado.
Lambert concordava com Louis e isso permitia um congraçamento tímido entre ambos... Volange disse algo sobre o círculo vicioso que leva o indivíduo a crer que não passa de um nada... Lambert ouviu isso e quis que Henri se lembrasse de conversa semelhante que tiveram tempos atrás, e citou os conhecidos que acabavam se “nadificando” (“Chancel deixou-se matar de propósito, Sézenac se entrega a entorpecentes, Vincent se embriaga, Lachaume vendeu a alma ao PC”)...
Henri rebateu aquelas críticas dizendo que não sabia se tipos como Vincent ou Sézenac tirariam proveito da “literatura pura”... Argumentou que histórias de indivíduos “perdidos e reencontrados”, como Louis pretendia ressaltar, eram como “saladas”... Queria dizer que depende muito do que cada indivíduo faz da própria vida e que, quando se é jovem, é natural tornar-se entediado por ainda não possuir convicções... O importante, concluiu, é se interessar por alguma coisa que não seja simplesmente por si mesmo. Depois, irritado com a afinidade que se percebia entre Lambert e Louis, quis retirar-se.
(...)
Scriassine teve tempo de perguntar-lhe sobre se suas informações (de denúncias contra os soviéticos) seriam levadas em consideração por Henri... Ele respondeu que nada do que ouviu representava informação que devesse ser considerada... Então Scriassine pôs-se a beber e a justificar que dessa forma (embriagando-se) poderia “esquecer” o que mais vinha lamentando, pois acreditava mesmo que em dois anos os russos invadiriam a França e todos ali os acolheriam de joelhos... Huguette espantou-se com aquela dramaticidade, enquanto Henri refutava peremptoriamente e garantia que o ódio que Scriassine nutria em relação à União Soviética fazia com que os fatos fossem desfigurados... Para Henri, ao criticar a URSS, Victor Scriassine pretendia atingir o Socialismo.
Scriassine advertiu que a URSS nada tinha a ver com Socialismo... Ele próprio teria sido condenado à morte por aquele regime... Disparou que quando Henri tivesse notícia de seu fuzilamento explicaria em L'Espoir “que a razão estava com eles”.
A conversa não parou por aí... Henri disse que o argumento do outro estava mais para o “golpe dos futuros fuzilados”... Scriassine atirou o copo contra a parede e quase atingiu a cabeça de seu interlocutor... Este sugeriu-lhe que fosse deitar... Claudie pediu que não o levasse em consideração, pois estava bêbado.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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