Lucie Belhomme respondeu aos elogios de Perron à filha Josette e disse que “uma atriz nunca é bonita demais”... Então levantou a saia da moça revelando suas coxas, enquanto dizia que era aquilo que o público queria ver quando a personagem retornasse ao palco... Josette chamou a atenção da mãe, que a colocava em situação constrangedora... Enquanto isso, Henri ficava imaginando se ela não era apenas uma “boneca de luxo”... Não, ela não era inteligente, isso já havia notado.
A mãe chamava a atenção da moça exigindo que não bancasse a ingênua, e que tomasse nota do dia de sua apresentação para o autor da peça... Despediram-se com um “até terça-feira”.
(...)
Na sequência, Claudie
perguntou a Henri se a moça o agradara. E explicou que se a desejasse não
haveria motivos para vacilações, pois a rapariga “não se economizava muito”...
Claudie começou uma fofoca sobre Lucie, mas Henri não estava disposto a mais
uma sessão de frivolidades, além disso, notou que Lambert falava animadamente
com Volange... Pensou em se intrometer, mas viu que Vincent chegava próximo de
Louis, a quem perguntou o que um tipo como ele fazia por ali... Volange
respondeu que conversava com Lambert, e isso era tão evidente quanto Vincent se
embriagava. Vincent foi grosso ao dizer que o lugar de Volange não era ali,
pois o evento tratava-se “de uma reunião em beneficio dos filhos de
deportados”.
Ao mesmo tempo em que quis aparentar educação, o outro
resolveu dar uma resposta à altura da agressividade de Vincent, e disse que se
era daquela forma, pode ser que exista uma “graça especial para os bêbados”.
Lambert não se apartou da conversa e disparou que Vincent era tipo “que sabia
tudo e julgava a todos” e que, como nunca se enganava, não seria preciso
pedir-lhe para que falasse a respeito de suas convicções porque ele fazia isso “gratuitamente”.
Vincent empalideceu e disse que sabia reconhecer um patife... Louis
manifestou que a condição do rapaz era deprimente e precisava de cuidados
médicos. Henri interveio... Disse que Louis se apresentava como um puritano, e
que não havia mal nenhum na bebedeira de Vincent, que, daquela forma, fazia “a
parte do diabo”...
O embriagado disse que aqueles dois (patife e filho de
patife) deviam se entender muito bem... Lambert quis enfrentá-lo e pediu que
repetisse as ofensas. Então Vincent respondeu que ele era um “belo patife” por
ter se reconciliado com aquele que havia entregado Rosa aos nazistas (é claro
que estava se referindo ao pai de Lambert).
Henri de um lado e
Louis de outro contiveram os jovens que pretendiam se atracar no pátio...
Lambert resmungava ofensas e o desejo de quebrar a cara de Vincent. Henri o
demovia dizendo que ele poderia fazer isso outro dia, já que haviam combinado
seguir de motocicleta para casa e estava com pressa.
Enquanto saíam, Lambert reclamou que Henri não devia impedi-lo de dar
uma “boa lição” em Vincent... Henri respondeu que “dar socos é vulgar”.
(...)
Henri pensou no quadro que o aguardava...
Imaginou Paule no meio do estúdio completamente paralisada depois de ler os
manuscritos... Atônita por ter descoberto tudo o que ele pensava a seu respeito.
Isso o deixou desanimado. Sugeriu a Lambert beberem algo nas proximidades do
cais. É claro que precisava ver Paule o quanto antes, mas alguns minutos a mais
com Lambert lhe faria bem... Entraram no café-charutaria... Conversaram um
pouco sobre o entrevero com Vincent. E Lambert não podia entender como é que
Henri podia suportar o outro, “suas bebedeiras, camisas imundas, histórias de
bordel e ares de mandão”... É claro, continuou Lambert, Vincent fez parte da
Resistência no maqui e matou inimigos, mas aquilo não era motivo para que se
exibisse “com a alma a tiracolo”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_26.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto