Roriz tem o mérito de inserir em meio aos diálogos, principalmente entre Psique e suas irmãs, narrativas sobre outros mitos (Édipo, Midas, Prometeu, Faetonte...). Na narrativa de Bulfinch isso não ocorre.
(...)
Estamos no ponto em que Psique despediu-se dos pais após a consulta ao
Oráculo... Ela estava pronta para seguir o seu “desventurado destino”, e foi
isso mesmo o que fez.
No alto da montanha, Psique
era o retrato fiel do desespero. Zéfiro intercedeu levantando-a e conduzindo-a
até um vale florido (bem diferente do escaldante deserto egípcio apresentado na
narrativa de Roriz).
A princesa dormiu e despertou próxima a um lindo
bosque. A poucos passos deparou-se com bela fonte de águas cristalinas e, não
distante dali, com o “magnífico palácio”. Psique viu tudo nitidamente (colunas
de ouro, paredes com baixos-relevos, pratarias, tesouros...) e concluiu que o
ambiente só podia ser morada de algum deus.
(...)
Em Eros e Psique apresentado
por Roriz, além de não visualizar os empregados do lugar, Psique também não
podia vislumbrar as paredes do palácio, seus móveis e ornamentos.
O
Livro de Ouro da Mitologia revela que os criados do lugar foram muito bons para
Psique. Embora invisíveis, eles se esmeraram nos cuidados ao seu bem estar...
(...)
Os dias se passaram e, apesar de casada, Psique não via o próprio
marido. Ele a tratava muito bem, mas não permitia que ela o visse. Chegava
apenas “nas horas de escuridão e partia antes do amanhecer, mas suas expansões
eram repletas de amor”...
Psique insistia para que a deixasse vê-lo, mas ele não admitia e
argumentava que isso não era necessário. Ela devia dar-se por satisfeita por
ser bem tratada e amada sem levantar dúvidas... Ele mesmo admitia que se ela o
visse poderia temê-lo ou adorá-lo... De sua parte, preferia “ser amado como um
igual em vez de adorado como um deus”.
Foi a lembrança da família (e o seu sentimento de que vivia numa “esplêndida
prisão”) que fez Psique suplicar ao esposo a permissão da visita de suas duas
irmãs... Foi a muito custo que ele consentiu.
Zéfiro transportou as duas...
(...)
O Texto de O Livro de Ouro da Mitologia não cita
nenhuma conversa de Zéfiro com as duas... Bem diferente da narrativa de Roriz,
que dá a entender que o deus do Vento permaneceu o tempo todo de viagem a falar
em rimas sobre situações que as moças acharam desinteressantes e sem graça.
(...)
As irmãs de Psique
ficaram maravilhadas com o que viram. Tanto conforto e esplendor contemplaram
no palácio onde a outra vivia que foram tomadas de inveja... Encheram-na de
perguntas e quiseram que ela falasse a respeito do marido. Insistiram demais e
Psique não teve como esconder que jamais o vira.
De fato passaram a alarmar a jovem. Disseram-lhe que não era por acaso
que seu esposo permanecia incógnito... Lembraram o Oráculo e da revelação sobre
o seu casamento “com um monstro horrível e tremendo”, e contaram que haviam
ouvido dos habitantes da região que na verdade (é claro que estavam mentindo)
ele se tratava de uma serpente que a alimentava para em breve devorá-la...
Deixaram Psique
transtornada e depois a orientaram a descobrir a real identidade do marido
quando este estivesse dormindo... Devia fazer isso munida de lâmpada e faca
afiada para cortar a cabeça do monstro.
Esses episódios são narrados por Roriz sem
alterações significativas.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/02/capitulo-xi-de-o-livro-de-ouro-da_28.html
Leia: Eros e Psique. Coleção Mitológica. Editora Paulus.
Leia: O Livro de Ouro da Mitologia. Ediouro.
Um abraço,
Prof.Gilberto