A investigação que a
jornalista Daniela Arbex realizou sobre o Hospital Colônia, manicômio em
Barbacena localizado na Serra da Mantiqueira, estado de Minas Gerais, resultou
no livro Holocausto Brasileiro –
Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil.
Barbacena é cidade produtora de flores, mas ficou famosa pelo hospício
que funcionou desde o começo do século passado.
Para lá eram encaminhados
pacientes de todas as partes do país. Eles eram transportados nos “trens
doidos” e desembarcavam na estação Bias Fortes, que dava para os fundos do
hospital.
Não. O Colônia não era uma referência para tratamentos
psiquiátricos... Projetado para atender até 200 pacientes, o local tornou-se um
depósito para o qual se destinavam aqueles que deviam ser mantidos afastados do
convívio social.
A partir dos anos 1960 sua população chegou a contar cinco mil
miseráveis!
As péssimas condições do
ambiente e o tratamento desumano a que as milhares de pessoas foram submetidas
não eram conhecidos pelo público... Aliás, a ideia que se tinha da função do
Colônia era exatamente a de “esconder” aquele contingente desprezado pelos “não
loucos”.
Escondidos pelos muros da instituição, tornavam-se expropriados
de qualquer direito e definitivamente excluídos da sociedade... Perdiam a
identidade e sequer eram tratados por seus nomes. Os pavilhões se tornavam
repletos de pessoas esfarrapadas (muitas delas permaneciam o tempo todo nuas)
que não recebiam a menor atenção. Mantinham-se jogadas no chão ou perambulando
desnorteadamente... Recorriam à água do esgoto para matar a sede.
Como podemos notar, as condições eram as piores e mais degradantes que
se possa imaginar... A tortura fazia parte do cotidiano... O tratamento
dispensado aos mais agitados era o eletrochoque nas têmporas, e as injeções com
medicamentos intoxicantes faziam parte da rotina. Havia celas para o isolamento
total do paciente problemático; os doentes ainda eram submetidos a duchas de
água fria e tinham de passar a noite ao relento. Também a alimentação era parca
e preparada sem a menor higiene.
Holocausto!
Não é por acaso que a mortandade no Colônia era altíssima. Contavam-se
dezesseis mortos ao dia! Sabe-se que a instituição vendia cadáveres a
faculdades de medicina... E ossadas também. Tanto é que os próprios pacientes
presenciaram funcionários mergulhando cadáveres em tambores cheios de gasolina.
Mas a quantidade de internações não parava de aumentar. Isso garantia o
recebimento de verba governamental. Com os dormitórios lotados, tornou-se comum
acondicionar doentes em montes de capim para que passassem as noites.
Mais da metade dos que eram internados em Barbacena não tinham laudo
psiquiátrico, porém o cotidiano marcado pelas condições sub-humanas só podia
levá-los à loucura... Muitos nem sabiam por que haviam sido internados!
Tiveram aquele destino
porque sofriam ataques epilépticos, e suas famílias queriam mantê-los afastados...
Havia os casos dos que foram apanhados nas ruas sem documentos... E também das
mulheres abandonadas por maridos ou familiares que pretendiam escondê-las por
terem engravidado antes de se casarem...
Entre os flagelados
contavam-se muitas crianças. Como se pode imaginar, elas sofriam todo tipo de
violação.
Há muitos dramas registrados em Holocausto
Brasileiro. Mas ali eles não são dados frios de gráficos do holocausto... Arbex
entrou em contato com personagens que vivenciaram os dias mais sombrios daquela
instituição. Médicos, funcionários e pessoas abnegadas na defesa dos direitos
humanos e de cidadania deram os seus depoimentos. E além desses, sobreviventes
foram visitados. As páginas do livro tornaram suas histórias conhecidas.
Traremos mais detalhes sobre a pesquisa nas
próximas postagens.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/03/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_13.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto