As reproduções fotográficas que aparecem em Holocausto Brasileiro são de documentos de 1961 feitos por Luiz Alfredo, que naquela época trabalhava como repórter fotográfico da revista O Cruzeiro.
Em abril daquele ano, Luiz Alfredo seguiu para Barbacena acompanhado do jornalista José Franco. A revista preparava uma reportagem sobre a “varredura na área da Saúde” capitaneada pelo secretário de governo, Roberto Resende.
É claro que logo que chegaram ao Colônia se espantaram com a situação degradante com a qual se depararam. Para José Franco, o cenário era como que uma encenação do “Inferno” de Dante... Luiz Alfredo, que não parou de disparar a sua Leica, acabou se impressionando com os amontoados humanos, que mais lembravam os campos de concentração nazistas...
Luiz Alfredo se impressionou com o esgoto a céu aberto, as banheiras coletivas repletas de fezes e de urina, além da utilização do chão imundo pelos funcionários para cortar carnes que seriam servidas na refeição dos pacientes... O repórter não teve a menor dificuldade para reconhecer o necrotério da instituição, onde se deparou com três cadáveres em adiantado estado de putrefação.
A revelação dos filmes chocou o pessoal da revista. O próprio Luiz Alfredo disparou que o Colônia não se tratava de um acidente, mas de um “assassinato em massa”... A matéria foi publicada na edição de 13 de maio de 1961 e a partir dela o Colônia ficou conhecido entre os jornalistas como “a sucursal do inferno”.
A contribuição de Luiz Alfredo para as denúncias que se passaram a fazer contra o hospício é imensurável. A reportagem causou profundo impacto na sociedade... Apesar disso, passada a efervescência, a situação permaneceu a mesma.
(...)
Arbex reserva um capítulo de seu livro para tratar do trabalho de Luiz
Alfredo e suas fotografias denunciadoras do descaso com os internados em
Barbacena... Em A história por trás da
história, a autora esclarece a trajetória do repórter desde a sua admissão
em O Cruzeiro no começo de 1952. O
texto cita suas matérias jornalísticas de maior destaque (muitas delas
premiadas): Chegada da seleção brasileira de futebol depois da conquista do
campeonato na Suécia; “sobre as linhas do Correio Aéreo Nacional” e o registro
acerca de comunidades indígenas remotas; visita ao Brasil do líder cubano Fidel
Castro no início de 1959; sobre a vida e obra do pintor Guignard em Minas
Gerais...
Na companhia do repórter Fernando Brant, parceiro de Milton Nascimento
em várias canções, Luiz Alfredo realizou uma viagem seguindo a antiga estrada
de ferro Bahia-Minas... O episódio propiciou a reportagem com belas
fotografias. Para Milton e Brant a viagem dos jornalistas resultou na
composição da bela “Ponta de Areia”.
Com José Nicolau, Luiz Alfredo realizou a cobertura jornalística da
visita de Juscelino Kubitschek aos parentes em Belo Horizonte. Na ocasião
(1967) o ex-presidente vivia no exílio e seu retorno só foi possível após
autorização do Regime Militar que vigorava no país... O fotógrafo conseguiu
registros espetaculares da euforia da multidão ao reconhecer o político
cassado.
O repórter fez matéria sobre a esquadrilha da
fumaça e cobriu o concurso de Miss Universo (1968, nos Estados Unidos) vencido
pela brasileira Martha Vasconcelos. Em 1972 ele fez reportagem no Parcel de Manuel
Luís, ambiente marítimo considerado “o maior banco de corais da América do Sul”.
Localizado a cem quilômetros da costa do estado do Maranhão, o lugar propicia
mergulhos e a contemplação de cerca de 200 embarcações naufragadas... Embora as
imagens recolhidas fossem espetaculares, nenhuma delas estampou a capa da
revista. Em vez da maravilha submersa, O
Cruzeiro destacou o beijo entre Beth Klabin (uma socialite) e Waldick
Soriano (famoso cantor conhecido por seu repertório brega).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/03/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_16.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto