Os “meninos do Colônia” acolhidos na Casa Amarela pela madre Mercês são “sobreviventes do holocausto”. Felizmente as mudanças em suas vidas foram para uma condição muito melhor. Elas possibilitaram uma vivência digna e cidadã.
(...)
Poderíamos encerrar por ai...
Mas a lembrança do capítulo
”Sobrevivendo ao holocausto” nos remete a outras histórias de vidas marcadas
por muito sofrimento... E também por superações.
Dona Ana P. de Oliveira era lavadeira na cidade de
Grão Mogol, norte do estado de Minas Gerais. Viúva desde o início da década de
1930, e com um casal de filhos para criar, de fato, levava uma existência pobre
e cheia de dificuldades na pequena e modesta casa de barro... Às margens o rio
Itacambiruçu, lavava as roupas que lhe davam o sustento.
A amargura de dona Ana cresceu depois que todos notaram que o seu filho
mais velho, Luizinho, passou a apresentar comportamentos excêntricos... Em 1950,
o moço contava 16 anos e era incompreendido em sua quietude, já que quase não
saia de casa e não se relacionava com os demais de sua idade.
A simplicidade de dona Ana, lavadeira analfabeta,
levou-a a confiar plenamente nos conselhos sobre a necessidade de um tratamento
específico para o menino no hospital de neuropsiquiatria de Oliveira.
A mulher passou a crer que Luiz sofria mesmo de alguma moléstia
mental... Assim, não perdeu a oportunidade de prepará-lo para a viagem. O texto
dá a entender que havia ocasiões especiais em que as crianças e adolescentes da
região, com suspeitas de distúrbios mentais, eram apanhados e encaminhados para
o famoso hospital.
Foi numa dessas ocasiões que o filho da lavadeira de Grão Mogol foi
recolhido... Esperançosa, a mulher o vestiu com as melhores roupas que possuía (a
calça reformada era de seu falecido pai)... Na despedida o menino permaneceu
silencioso; a mãe o abençoou, prometeu rezar por ele e que em breve se
reencontrariam.
(...)
Não. Mãe e filho nunca mais se viram...
Dona Ana passou o resto de seus dias (faleceu a 14 de julho de 1976)
aguardando que o trouxessem de volta... Esperançosa, vivia arrumando sua cama e
a se perguntar onde ele estaria.
Luiz era tímido... Um tipo ensimesmado...
Embora não possuísse um diagnóstico de loucura, classificaram-no como insano.
As crianças
desafortunadas eram tratadas assim mesmo... Por serem pobres e desprotegidas
era assim que se definia o seu confinamento.
(...)
Sabe-se que no início de 1952, Luiz foi encaminhado para o Colônia.
Passou tanto tempo lá que “perdeu a noção dos anos”. A saudade da mãe e do
lugar onde nasceu jamais o abandonou.
Das recordações do Colônia,
Luiz não se esquece das noites em que os internos faziam um “mutirão de camas”,
ajuntando as camas para que pudessem se aquecer um pouco e, assim, sobreviverem
às baixas temperaturas... Sua lembrança mais amarga dos tempos de Colônia é
também a mais sofrida.
Ele e outros internos eram
explorados como escravos por um dos funcionários do hospital... O tipo se
tornou uma espécie de empreiteiro que construía casas populares. Seus pedreiros
eram os recrutados no Colônia. Eles nada recebiam pelas intermináveis e
cansativas jornadas. E ainda eram agredidos com tapas no rosto e na orelha!
O inescrupuloso “patrão” projetou se enriquecer a
custa de Luiz e seus infelizes companheiros.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_18.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto