segunda-feira, 28 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – perseguições ao autor de “Críticas do hospital psiquiátrico”; repercussão na imprensa e fim de sindicância; visita de Basaglia aos hospitais psiquiátricos de Minas Gerais; Antônio S. Simone visita o Colônia com Franco Basaglia, que chama o local de “campo de concentração nazista”; reestruturação da assistência psiquiátrica

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_28.html antes de ler esta postagem:

Na verdade, a classe médica se sentiu muito incomodada pela repercussão dos juízos de Barreto, que não se cansava de afirmar que as faculdades de medicina eram abastecidas “por generosa quota de cadáveres provenientes de Barbacena”, que os hospitais públicos para “crônicos” eram “instituições finais” (como a “solução final” nazista), e que a realidade dos hospitais psiquiátricos apresentava-se banal porque havia uma acomodação daqueles que podiam exercer reivindicações.
A repercussão do trabalho de Barreto na grande imprensa mineira fez com que a sindicância contra ele fosse arquivada.
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!979 foi o ano da visita de Franco Basaglia a o Brasil (mais sobre isso em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_11.html). Ele veio exatamente para realizar visitas aos manicômios locais. Antônio Soares Simone, médico psiquiatra que à época contava vinte e oito anos, aproveitou para convidar o italiano para conhecer o Instituto Raul Soares e o Hospital Galba Veloso, os dois em Belo Horizonte, e também o Colônia, em Barbacena.
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Antônio Soares conhecia o Colônia de longa data e disse a Basaglia que não entendia o silêncio dos médicos em relação ao que ocorria em Barbacena... Eles nem procuravam saber onde eram “fabricados os cadáveres que alimentavam as salas de anatomia das faculdades”!
Foi o próprio Simone quem fez o transporte de Basaglia até Barbacena... E é ele mesmo que garante que o psiquiatra italiano ficou atônito após conhecer o Colônia e que, depois, permaneceu em silêncio na viagem de volta à capital...
Após ter proferido sua conferência na Associação Médica Mineira, Franco Basaglia pediu que Simone convocasse a imprensa para uma coletiva. Foi então que a autoridade italiana manifestou ter estado “num campo de concentração nazista” e que em nenhum lugar do mundo havia presenciado tragédia semelhante à verificada no Colônia.
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As declarações de Basaglia atraíram a atenção da imprensa mundial, inclusive o New York Times... Por outro lado, Simone tornou-se perseguido e foi processado pelos hospitais... Até mesmo o seu diploma foi ameaçado.
Mas ele garante que todo o sacrifício foi recompensado, pois contribuiu para colocar um “fim à fábrica de cadáveres e ao grande sofrimento humano em Barbacena”.
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A Associação Mineira de Saúde Mental, fundada pelo psiquiatra Ronaldo Simões, ganhou muita força depois da visita de Basaglia ao Brasil... Muitos se animaram e se tornaram “militantes basiglianos”. Esse foi o caso de Paulo Henrique R. Alves, que “transmitiu os conceitos de humanização para seus alunos” da UFMG...
Em 1980 a Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) aprovou o Projeto de Reestruturação da Assistência Psiquiátrica, consonante com o III Congresso Mineiro de Psiquiatria... Graças a isso, “os porões da loucura, finalmente, começaram a ser abertos”.
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Ocorreram mudanças nos vários hospitais, inclusive no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (o Colônia).
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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