O filósofo e professor Michel Foucault esteve no Brasil em algumas oportunidades. Vinha para ministrar cursos e palestras. Há muitos relatos sobre suas estadias em nosso país, alguns deles bem polêmicos, e sobre a repercussão das palavras do autor de História da Loucura nos meios acadêmicos (notadamente na USP) desde a década de 1960.
Em 1975, por ocasião da morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências de quartel do exército, Foucault interrompeu o curso que ministrava em protesto aos atos de tortura e assassinatos cometidos pela ditadura militar.
(...)
Em 1973, Foucault esteve no Rio de Janeiro, onde falou a universitários
entre 21 e 25 de maio... Depois dirigiu-se a Minas Gerais para visitar hospitais
psiquiátricos e realizar conferências. A visita que fez a Belo Horizonte
possibilitou-lhe contatos com jovens estudantes e médicos psiquiatras
indignados com as formas de tratamento que se dispensavam aos internados em
hospitais de todo o estado.
Ronaldo Simões Coelho, psiquiatra natural da
histórica cidade de São João del-Rei, foi um dos que se aproximaram do
filósofo. Desde a época de estudante, Ronaldo já se mostrava contrário às
formas desumanas de tratamento verificadas nas instituições psiquiátricas de
Minas Gerais...
Holocausto
Brasileiro
registra um episódio de “sequestro” de oitenta e quatro pacientes que foram
transferidos do Hospital Raul Soares ao Colônia à revelia de médicos e
familiares. Esse acontecimento fez de Ronaldo Simões um ativo defensor da
desospitalização para melhorar o atendimento e evitar a segregação.
Ronaldo era Supervisor de Psiquiatria do Inamps (Instituto Nacional de
Assistência Médica e Previdência Social)...
No ano anterior ao da visita de Foucault a Minas Gerais,
ele pôde testemunhar várias violações aos direitos básicos às pessoas em
tratamento psiquiátrico, desde o descaso de funcionários até a falta de
estrutura física mínima nos hospitais. Numa inspeção que realizou ao Hospital
Galba Veloso, o médico fez questão de demonstrar toda a sua indignação em
relação ao que viu e ouviu. A sua coerência o fez respeitado nos meios
acadêmicos e médicos, e também pela imprensa. Não foi por acaso que Simões se
tornou guia de Foucault em sua visita a Minas Gerais e participou de todas
as suas palestras.
Arbex registra ainda as participações de Helley
Bessa e Emilio Grinbaum (Bessa era um dos grandes “defensores da humanização na
psiquiatria brasileira”; Grinbaum, “o pioneiro da Medicina Psicossomática”) na
palestra ministrada por Foucault na Casa de Saúde Santa Clara.
(...)
Foucault era um tipo muito acessível... A Simões declarou sua satisfação
em visitar o Brasil, onde havia estudantes sérios e muito interessados pelo
saber e por mudanças no tratamento psiquiátrico. O psiquiatra brasileiro
convidou o intelectual francês para uma viagem de cinco dias pelas históricas cidades
do sul de Minas Gerais (Congonhas, Tiradentes, São João del-Rei, Mariana e Ouro
Preto).
Daniel Defert, que já era companheiro de Foucault há mais de 10 anos, e Célio Garcia (professor
da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas
Gerais) também participaram da trip.
Ronaldo Simões lembra que seguiram numa rural
(veículo espaçoso e muito utilizado por sitiantes nas décadas de 1960 e 1970)
cedido Pela Secretaria da Saúde de Minas Gerais, e que Foucault não deixava de
apreciar a cachaça mineira acondicionada por Célio Garcia num odre... O
filósofo mostrou-se curioso por tudo o que viu, não deixava de perguntar o
significado das representações mineiras nos monumentos, arquitetura, afrescos e
esculturas, e não perdia a oportunidade de falar sobre os significados que se
atribuíam na Europa para representações similares.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_28.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto