quarta-feira, 28 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Nadine e seu inconformismo com a lamentação de Lambert pela perda do pai; uma carta de Lewis e os limites impostos pela distância; Paule conta com a companhia de Anne para a visita a Lucie Belhomme, a rica proprietária de Amaryllis e mãe de sua rival

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_25.html antes de ler esta postagem:

Lambert se afastou... Nadine pôs-se a criticá-lo... Disse que não aceitava a investigação que faria na Alemanha e que, ao menos, deveria tratar antecipadamente com ela... Em sua opinião, a irritação do rapaz era apenas uma desculpa para permanecer só... Talvez para continuar chorando a morte do pai, que Nadine fazia questão de classificar como salafrário.
A moça não se conformava com o fato de Lambert ter derramado lágrimas pelo velho... Não aceitava a reconciliação que aconteceu e nem a insistência de Lambert em garantir que o pai havia sido assassinado...
Anne ouvia a filha tentando contemporizar sua relação com Lambert... Mas Nadine estava inconformada e, após o jantar, saiu para caminhar pelo campo... As duas só voltaram a se ver pela manhã. A moça estendeu uma carta, disse que vinha de Chicago e quis saber se Anne não a abriria.
É claro que Anne fez o que pôde para não demonstrar o seu espanto com a correspondência. Disse que não se tratava de nada urgente e voltou a tomar chá... Logo Robert interveio querendo saber de Nadine a respeito de Vigilance... Enquanto os dois tratavam a respeito da revista, Anne deu uma desculpa qualquer e se retirou para o quarto.
(...)
Por pouco a carta não foi danificada devido à ansiedade da doutora em capturar algo que fosse de seu amado Lewis... A folha “era datilografada, era alegre, gentil e vazia”... Anne a contemplou por um bom tempo... Mas dali nada sairia “de novo” e tampouco ela poderia transmitir qualquer “palavra nova, sorriso ou beijo”. O papel cravava-lhe a certeza única de que Lewis permanecia na distante Chicago, onde vivia sem ela... Assim, nada mais tinham em comum... O passado comum já era ignorado e os futuros de ambos não se cruzavam.
Anne olhou pela janela... O dia seguia esplêndido... Em Chicago a noite avançava... De sua garganta sentiu os soluços que não conseguia sufocar.
(...)
Foi com insistência que Paule convidou Anne para um encontro em sua casa... Esta pensou que, ao menos, a visita proporcionaria um arejar às ideias.
Anne seguiu de ônibus com Nadine até Paris pensando em como as pessoas acabam se habituando às condições que transformam seus cotidianos...
As ruas da grande cidade repleta de pessoas a fizeram pensar em como a incompatibilidade da distância é tormentosa... Todos aqueles homens que por ela passavam podiam estar carregando juras de amor e promessas de carinho, mas nenhum deles era Lewis e ali nada estava reservado para ela.
(...)
Mais tarde, no caminho da casa de Paule, Anne lembrou-se daquela triste figura... Alguns dias depois que regressara da América, Paule a visitou... Notava-se que fez isso não sem esforço... Recebeu com animação os presentes trazidos por Anne, mas parecia um tanto distante quando perguntada sobre as novidades... Também as narrativas sobre sua viagem não a deixaram menos amuada.
Conforme se aproximava do apartamento de Paule, Anne observava como nada havia mudado por aquelas paragens... A loja que comercializava animais, e isso incluía o macaquinho acorrentado à sua frente, não havia sofrido alterações... A porta, tapete e mobília do apartamento de Paule eram rigorosamente os mesmos de antes.
(...)
A moça estava envolvida num roupão e despejou lamentações por fazer Anne se deslocar até ali... Ela se apresentava abatida, vulnerável mesmo, e precisava da companhia da amiga para ir até a casa de Lucie Belhomme para uma reunião social.
Todos aí sabem que a filha dessa Belhomme, Josette, estava de caso com Henri e graças a ele ingressava no mundo artístico... É claro que para Paule a reunião seria maçada... Anne também não tinha certeza se o seu comparecimento seria uma boa ideia...
Mas a própria Paule esclareceu que a milionária havia feito o convite insistindo que levasse Anne consigo...
Embora entendesse que para Lucie o que mais importava era incorporar os Dubreuilh aos seus círculos, Paule pretendia demonstrar caráter altivo participando da reunião que, para ela, equivalia a “descer à jaula de leões”... Certamente ela confiava que se sentiria menos vulnerável se estivesse acompanhada por Anne.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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