quarta-feira, 28 de maio de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Paule e sua insegurança ao se preparar para a reunião na mansão de Belhomme; Anne e suas reflexões a respeito das vacilações da amiga; Lucie, ares arrogantes e malevolentes; a mansão e os tipos que a frequentavam

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_28.html antes de ler esta postagem:

Não podemos dizer que Anne estivesse totalmente à vontade perante Paule e sua baixa autoestima... A moça pretendia apresentar-se dignamente ao grupo que se reuniria na mansão de Belhomme, mas nada do que experimentasse lhe caía bem... A prova dos vestidos foi uma tormenta... Assim, ou o vestido estava muito velho, ou ela não conseguia se sentir à vontade com outro... A ela importava, ao menos, não ser vista como “alguém comido por traças”... Isso seria a glória para a milionária proprietária da Amaryllis.
Anne quis saber por que Paule estava se submetendo àquela situação. Então a moça falou do passado, quando era jovem e bem mais bonita do que Lucie... Tinha mesmo conquistado alguns de seus amantes... Recusar o convite seria o triunfo da outra... Anne encheu-a de incentivos e garantiu que ela não precisava temer nada, pois era certo que sempre seria a mais bonita. Disse isso, mas por dentro notava que Paule estava com um semblante carregado de cansaço.
Certamente Paule apresentava traços envelhecidos... Isso não era fácil esconder... Já usando um velho vestido preto, tentava dar aos cabelos e cílios alguma dignidade... Árdua tarefa foi a de encontrar um par de meias que combinasse... Anne não conseguia notar “remédio” para o caso da amiga, que depois passou a não ter certeza se penduraria um “colar pesado, de cobre, âmbar e osso” no pescoço... Certamente sua “joia exótica” poderia causar muito espanto. Anne pensou que, de fato, aquilo não combinava... Mas depois sentenciou que Paule poderia usar o que bem entendesse, afinal as amigas de Lucie não estariam na reunião para comê-la.
Das poucas certezas de Paule para aquela noite, a de que seria “devorada” era a maior.
(...)
Seguiram de ônibus até a mansão... Anne notara como a amiga se movimentava sem nenhuma majestade. A própria Paule confessara que seu estilo pessoal era “mais à vontade”, dando a entender que não estava muito à vontade... Anne quis saber de Henri, e a moça foi dizendo que depois de dez anos podia dizer que, enfim, o conhecia um pouco melhor... Contou sobre a novela que ele escrevia e que mantinha em segredo... Então fez questão de falar sobre a ocasião em que, após a leitura autorizada, perguntou-lhe sobre o trecho em que o personagem principal deixa claro a uma mulher que sua existência era “envenenada” por ela... Paule havia perguntado a Henri se ele havia escrito aquilo pensando em sua relação com ela...
Anne sentenciou que estava assombrada com a reação descrita... Como que a mostrar que suas reservas não eram sem fundamento, Paule falou sobre o episódio em que Henri foi fotografado no Iles Borromées ao lado da jovem, bela (e insignificante) Josette Belhomme... Até para que não pensassem que ela desse muita importância às aventuras de Henri, fazia questão de comparecer ao evento. Anne confirmou ter visto uma fotografia da moça... Paule foi emendando que sinceramente não acreditava que Henri se sentisse realizado com aquela situação, e manifestou que parecia que ele não se considerava mais digno dela, já que até havia pedido para não mais dormirem juntos.
Anne ouvia a outra com a certeza de que ela sabia que mentia para si mesma... De qualquer modo, não podia deixar de admirar sua teimosia... Quando estavam para entrar na mansão, Paule perguntou se ela a considerava “uma vencida”... Anne disse que ela parecia uma princesa.
(...)
Aconteceu que foi só entrarem e Anne já notou que a atmosfera era das mais desfavoráveis... Certo pânico a invadiu... O perfume e a maldade podiam ser respirados ali... Na sequência, Anne descreve móveis, tapetes, quadros, livros e cristais e outros detalhes do gosto e pretensões intelectuais da dona da casa... Foram recebidas pela própria Lucie, que surgiu majestosa (segundo Anne, podendo provocar “complexos de inferioridade à Duquesa de Windsor”) e sem conseguir disfarçar a mesquinhez e malevolência do olhar... Dirigindo-se à Paule, tomou-lhe as mãos e disse que não se viam há doze anos e que provavelmente, noutra circunstância, não a reconheceria... Depois as levou para as apresentações.
Anne viu que as amigas de Belhomme eram mais jovens e mais bonitas do que as que Claudie costumava reunir... Constatou que elas desfilavam um padrão específico (vestido preto, mesma cor no cabelo tingido, saltos altos e longos cílios...)... Certamente aqueles tipinhos eram manequins ávidas por uma oportunidade que as levasse ao estrelato... A doutora imaginou que se fosse um homem interessado em alguma aventura teria dificuldade em definir alguma preferência ali...
Também havia moços bem bonitos que educadamente beijam-lhes as mãos... Anne constatou que o mais provável era que eles se interessassem uns pelos outros... Entre os adultos notava-se a presença de Dudule, o “amante titular de Lucie”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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