Cada vez que o Doutor Q.I. soltava a sua voz metalizada, Miguel se surpreendia... Principalmente porque o vilão mostrava que conhecia muito a seu respeito... Ele falou os nomes de Crânio, Magrí e Calu e deu a entender que possuía o controle de várias situações... Isso deixou Miguel muito irritado... Mas o pior é que estava em condição desfavorável... Restava-lhe ouvir o que o outro tinha a dizer.
(...)
Então ele ficou sabendo que estava na “Pain Control”, uma poderosa
indústria farmacêutica que, apesar de desconhecida, controlava muitas empresas
do ramo... O vilão deixou bem claro que sabia dos planos de Miguel ao causar a
impressão de que ele e os comparsas haviam sido sequestrados, quando na verdade
estavam escondidos e tramando contra o projeto que ele desenvolvia com tanto
afinco.
É claro que essas palavras preocuparam Miguel...
Mais uma vez, por sua causa, pessoas de quem gostava corriam perigo... Mas
considerando suas limitações, apenas disse que não era correto utilizarem
pessoas sadias para fazer experiências com medicamentos, e que remédios devem
servir apenas aos doentes.
(...)
O Doutor Q.I começou a falar freneticamente.
Reconheceu que o garoto era muito inteligente, porém precisava saber que a “Pain
Control” possuía um plano que ninguém conseguiria conter... O próprio significado
“Controle da Dor” já era uma indicação do que ela era capaz de realizar... Não
demoraria e todos os habitantes do mundo seriam atingidos pelas garras da
indústria... A quantidade de dor e de moléstias, duração da vida humana, e até
mesmo o número de novos nascimentos ou de mortes seriam definidos pela “Pain
Control”... Assim como a sociedade das formigas, os humanos viveriam uma
realidade absolutamente perfeita.
Miguel não podia acreditar no que ouvia... A voz metalizada não
interrompeu sua falação até anunciar que era por tudo aquilo que faziam os testes
com a Droga da Obediência... Futuramente teriam condições de controlar até a
vontade das pessoas em qualquer parte do mundo.
(...)
O Doutor Q.I. falava sobre essas coisas e se empolgava
ao garantir que o sucesso do empreendimento só traria vantagens para a sociedade...
Ninguém mais demonstraria nenhuma iniciativa nem mesmo para protestar contra
uma ordem recebida... Isso simplesmente significaria o fim de revoluções, pois ninguém
mais expressaria qualquer tipo de vontade. Os únicos desejos válidos seriam os
do próprio Doutor Q.I., incutidos nos organismos dos viventes.
O quadro que foi apresentado para Miguel era algo que ele jamais poderia
imaginar. As palavras que ouviu eram diabólicas... Conseguiu dizer que aquelas
ideias significavam a destruição do ser humano e que o líder daquele
empreendimento não passava de um louco...
O poderoso chefe da “Pain Control” respondeu que o rapaz devia pensar
melhor, pois tudo é relativo e que “a verdade tem várias facetas”... Se ele se
esforçasse para pensar um pouco mais, entenderia que o desenvolvimento do
projeto proporcionaria uma realidade “de paz, sem conflitos ou turbulências”...
Depois disso provocou afirmando que sabia que Miguel diria que “só existe uma verdade”,
mas acrescentou que ele deveria ter a humildade de reconhecer que a verdade
estava nas mãos dele.
Miguel passou a falar sobre uma série de desvantagens que a obediência
cega promoveria, principalmente a repetição de erros antigos... Em contrapartida,
garantiu que a liberdade possibilita a sobrevivência da humanidade, e que o
progresso só ocorre quando há respeito às divergências...
(...)
Novamente o Doutor Q.I. o provocou dizendo que, enquanto liderança
estudantil, também ele assumia comportamento ditatorial ao não permitir que “opiniões
idiotas” atrapalhem as deliberações que defende. O vilão fez questão de
garantir que aquilo era uma postura louvável... Até por isso ele o convidava
para participar da “Pain Control”...
Miguel, então, faria parte de uma elite jovem e inteligente... O convite
foi feito porque o rapaz tinha o reconhecimento da empresa. Ele não precisaria
tomar a droga, pois sua posição seria de comando ao lado do grande chefe.
(...)
O final da conversa foi de total pasmo. Miguel
não deu nenhuma resposta. Em vez disso aparentou refletir sobre tudo o que
ouvira... O Doutor Q.I. se animou e disse que esperava contar com a ajuda de
jovens como ele... Garantiu que em breve conheceria a Droga da Obediência e que
alguém o apanharia para uma visita a outras instalações.
O tipo não conseguiu esconder a ansiedade e o desejo
de ouvir uma resposta positiva de Miguel. Mas isso ficaria para depois.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/06/a-droga-da-obediencia-de-pedro-bandeira_29.html
Leia: A droga da obediência. Editora Moderna.
Um abraço,
Prof.Gilberto