quinta-feira, 14 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – fim da improdutiva reunião com Bennet e Moltberg; Samazelle e sua tendência à direita e ao gaullismo; Henri e seu antiamericanismo; o artigo de Lachaume em “L’Enclume”; ataque físico em vez de “texto” como resposta

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_13.html antes de ler esta postagem:

Bennet se irritou ao perceber que Henri era favorável a uma aproximação em relação aos soviéticos... Para ele não podia haver comparação entre Estados Unidos e URSS, já que o “horror da opressão policialesca” da URSS era muito pior do que os “abusos do capitalismo americano”.
Enquanto Scriassine e Peltov conversavam em russo, Moltberg manifestava seu apoio às palavras de Bennet... Henri percebeu que era inútil afrontá-los... As recordações de tempos difíceis em suas lutas contra o Stalinismo pesava em suas ponderações...  Bennet também notou que não tinham mais o que fazer no escritório de Henri... Ao se retirarem, foi Moltberg quem encarou Henri e garantiu que ainda se encontrariam.
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Samazelle tentou resumir a reunião... Em sua opinião não era fácil discutir com aqueles radicais “que se detestavam entre si e deploravam-se um ao outro por terem permanecido por mais tempo fiéis ao stalinismo”... Depois disse que cada um carregava marcas difíceis de se livrarem (o próprio Bennet havia vivido por quinze anos em Moscou; como podia ter demorado tanto a se indignar?).
Henri ponderou que, pelo menos, o tipo não queria vínculos com o Gaullismo... De certa forma isso acabou como uma provocação a Samazelle, que disse que aquilo era um sinal de “falta de senso político”.
Já que o rapaz “havia fracassado na esquerda”, considerava “natural” associar-se à direita. Henri achou descabida a sua proposta de publicar artigos de Volange... Samazelle concluiu suas ideias afirmando que o mais correto para a “esquerda que se quisesse independente” seria buscar o apoio dos Estados Unidos, tal como Scriassine propunha... Opor-se à “sovietização do Ocidente”, segundo ele, seria a melhor maneira de construir um “socialismo autêntico”. Isso incluía a adesão à União Gaullista.
Henri deixou claro que, em relação àquelas propostas, Samazelle nem precisava contar com ele... De sua parte, continuaria a combater a política dos Estados Unidos e a considerar o gaullismo “reação”... Samazelle lembrou-o de que estavam sendo classificados como “anticomunistas”, e era certo que perderiam metade dos simpatizantes, então a chance de sobrevivência do jornal era conseguir novos leitores... Não se poderia “parar no meio do caminho”.
Henri respondeu que seria preferível falir a tornar L’Espoir um periódico anticomunista.
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É claro que Trarieux pensava como Samazelle... Mas, contando com o apoio de Lambert e Luc, Henri manteria os seus critérios como linha editorial.
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Passaram-se dois dias e Samazelle apresentou a edição de L’Enclume a Henri... Havia um artigo de Lachaume, “Abaixo as máscaras”, com severas críticas a ele e a toda a sua obra, classificada como ”fascista e reacionária”... Também a sua peça não escapou das ofensas do texto, que a reduzia a um “insulto à Resistência”... Lachaume sintetizava que seria mais honesto Henri ter se declarado anticomunista em vez de afirmar “simpatia à URSS”, pois o seu texto sobre os campos soviéticos serviram apenas para desencadear uma “campanha de calúnia”.
Henri não podia crer que Lachaume tivesse escrito aquelas ofensas... E justo aquele rapaz acolhido no passado por ele e Paule, e de tantas ocasiões em que lhe manifestara seu apreço... Simplesmente não podia aceitar que o partido escolhesse exatamente o jovem para aquela tarefa... Mas é claro que a responsabilidade do conteúdo era inteiramente dele! Lachaume sabia que o seu texto era mentiroso e violentava a amizade e os conceitos outrora partilhados.
Henri concluiu que o texto não merecia nenhuma resposta.
Ora, Lachaume sabia sinceramente o que ele pensava...
O moço merecia uma surra. E foi isso o que Henri decidiu fazer.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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