Até mesmo Lachaume ousara publicar um texto ofensivo a Henri e a toda a sua produção intelectual... Evidentemente havia recebido a incumbência do PC... Era sem sucesso que Samazelle tentava atrair Henri para a causa dos gaullistas. Ele queria fazê-lo entender que, após as denúncias contra os campos soviéticos, não haveria alternativas a não ser o anticomunismo... Como vimos, foi Samazelle quem lhe apresentou a ofensiva edição de L’Enclume.
A indignação de Henri foi tal que a única resposta que ele considerou a altura do texto do moço foi partir para o enfrentamento físico.
(...)
Henri dirigiu-se ao Bar
Rouge, que era onde esperava encontrar Lachaume... Encontrou apenas Vincent,
que bebia com os amigos... O rapaz poderia estar na redação de L’Enclume, então Henri quis partir
imediatamente para lá. Mas aconteceu que Vincent o acompanhou até a porta e o
convenceu a largar mão daquela reação violenta. É claro que ele havia lido o
artigo, pois conhecera o texto mesmo antes de sua publicação.
Vincent contou que discutiu com Lachaume a respeito de sua matéria
ofensiva... Henri não conseguia se conter e revelou que pretendia, de fato,
socar o rapaz.
Vincent lembrou que era isso mesmo o que os comunistas
pretendiam, ou seja, um escândalo que proporcionasse novos e violentos ataques
contra ele.
Henri imaginava que não poderiam atacá-lo ainda mais... Colocaram-no na
condição de fascista!
Vincent queria que ele entendesse que as coisas podiam piorar...
Lembrou-o das fofocas que envolviam o nome de Josette... Disse que o texto
original de Lachaume continha umas dez linhas sobre a garota... Ele mesmo o
havia persuadido a suprimi-las. Certamente não a poupariam nas próximas
cartadas.
Depois Vincent argumentou que Henri não possuía mais uma “vida
particular”, pois tudo o que ele viesse a fazer se tornaria “domínio público”...
Henri refletiu sobre a vulnerável condição de Josette... Atacá-la era
algo lamentável e inaceitável... Haveria defesa contra calúnia? Os comunistas
haviam sido perfeitos ao escolherem Lachaume... Certamente eles nutriam um
verdadeiro ódio por Henri...
Vincent concordou.
(...)
Henri foi convencido
a não procurar Lachaume na redação de L’Enclume.
Vincent o acompanhou até L’Espoir.
Quando chegaram ao jornal, ele disse que precisava dar uma volta e que
em cinco minutos se encontrariam novamente... Na verdade ele queria apenas
ficar sozinho por alguns instantes para pensar a respeito da conversa que
tivera com o amigo...
Como era pesado ter de
considerar que não gostavam dele, que o odiavam...
Imaginou que alguns comunistas ainda conservariam a
estima que nutriam por ele, mas as palavras de Vincent o convenceram do
contrário. A partir de então, só uma certeza o dominava, a de que seria odiado
por onde quer que andasse...
“A amizade é precária como a vida; mas o ódio não abandona o seu homem,
e é tão seguro quanto a morte”.
(...)
De volta ao escritório, Henri encontrou Scriassine,
que o aguardava. O tipo parecia bem abatido e com forte dor de cabeça,
resultado da ingestão de muita vodca.
É claro que ele havia lido o artigo de Lachaume, e estava ali para saber
se Henri tinha mudado a sua opinião... Ele deixou claro que não...
Scriassine se referia à
conversa com Bennet e a aliança com os norte-americanos para impedir a
influência soviética sobre a esquerda europeia.
Depois advertiu que o tratamento dispensado a
ele pelos comunistas deveria levá-lo a uma reflexão melhor e ao rompimento
definitivo...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto