terça-feira, 5 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Scriassine insiste que Dubreuilh possui vínculos com o PC; Lambert garante se desvinculará de L’Espoir devido ao vacilo de Henri; as acusações contra Dubreuilh enchem Henri de dúvidas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html antes de ler esta postagem:

Estamos no ponto em que Henri recebeu Lambert, Samazelle e Scriassine... Eles apareceram no escritório de L’Espoir para exercer alguma pressão sobre ele antes de seu encontro com Dubreuilh... Scriassine chegou garantindo que Robert Dubreuilh estaria inscrito no PC e, assim sendo, não teria nenhum interesse na publicação das denúncias de Peltov.
(...)
Scriassine ressaltou que tinha provas... A ficha de inscrição de Dubreuilh no PC tinha sido vista! E completou sua denúncia dizendo que desde 1944 o partido contava com jovens que se opunham ao stalinismo... Scriassine sustentou que era graças a eles que obtinha certas “informações secretas” dos comunistas.
Henri respondeu que “os espiões de Scriassine” mentiam ou haviam se enganado porque era lógico que, se Dubreuilh quisesse se inscrever no PC, ele comunicaria e se desligaria do SRL... Samazelle argumentou que qualquer comunista poderia pertencer ao SRL, mas o contrário não era permitido.
Scriassine demonizava o PC. Para ele, o partido deliberava que alguns de seus membros se comportassem como independentes (talvez esse fosse o caso de Dubreuilh)... Estava disposto, inclusive, a colocar um de seus informantes em contato com Henri. Disse isso enquanto levava a mão ao telefone. Mas Henri o interrompeu e deixou claro que só consultaria Dubreuilh.
Scriassine lamentou... Falou que não haveria sinceridade da parte de Robert qualquer que fosse a pergunta que lhe fizessem... Samazelle quis caracterizar os episódios como graves demais para que L’Espoir continuasse a manter relações com o SRL. Luc entrou na conversa e perguntou por que Dubreuilh se empenharia em tal manobra... Scriassine respondeu que, além de ambicioso, o PC lhe pedira... Samazelle aproveitou a deixa para fazer críticas ao “stalinismo” do “velho”.
Henri concluiu, e não escondeu o seu pensamento, que aquelas eram considerações pessoais. Lambert quis saber se os campos soviéticos de trabalho forçado não lhe diziam respeito também... A resposta de Henri deixou claro que em nenhum momento ele se recusara a falar sobre eles, mas acrescentou que “faria tudo de acordo com Dubreuilh”... Samazelle disse que era provável que L’Espoir assumisse postura diferente da adotada pelo comitê.
(...)
As visitas se retiraram. Mas Lambert decidiu permanecer junto à escrivaninha de Henri. Ele o aconselhou a ouvir o informante de Scriassine. Advertiu que Dubreuilh o estava influenciando em sua decisão, e é claro que os demais deixariam de confiar nele.
Apesar de aparentar desconfiança em relação aos temores expostos por Lambert, Henri não tinha plena certeza de que Dubreuilh não tivesse assumido inscrição junto ao PC... O rapaz acrescentou com dramaticidade que “esconder a verdade” era o mesmo que participar de um crime e, sendo assim, ele mesmo estaria fora, vendo-se obrigado a negociar suas cotas de L’Espoir.
Lambert pretendia que qualquer vínculo de Henri e L’Espoir com o PC fosse definitivamente rompido... O rapaz destacou que se a denúncia se referisse à Espanha, Grécia, Palestina ou Indochina (em vez de contra os soviéticos), Henri não silenciaria... Então sua transigência só podia ser entendida como colaboração com o PC. Só havia uma forma de se demonstrar o contrário: o protesto imediato contra as atrocidades cometidas nos campos soviéticos de trabalho forçado.
Henri garantiu que protestaria e que as denúncias seriam publicadas... Lambert disse que sua decisão de “acompanhar Dubreuilh” demonstrava o contrário... Henri respondeu com confiança que Dubreuilh não apresentaria nenhuma objeção.
Despediram-se.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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