Estamos no ponto em que Henri recebeu Lambert, Samazelle e Scriassine... Eles apareceram no escritório de L’Espoir para exercer alguma pressão sobre ele antes de seu encontro com Dubreuilh... Scriassine chegou garantindo que Robert Dubreuilh estaria inscrito no PC e, assim sendo, não teria nenhum interesse na publicação das denúncias de Peltov.
(...)
Scriassine
ressaltou que tinha provas... A ficha de inscrição de Dubreuilh no PC tinha
sido vista! E completou sua denúncia dizendo que desde 1944 o partido contava
com jovens que se opunham ao stalinismo... Scriassine sustentou que era graças
a eles que obtinha certas “informações secretas” dos comunistas.
Henri respondeu que “os
espiões de Scriassine” mentiam ou haviam se enganado porque era lógico que, se
Dubreuilh quisesse se inscrever no PC, ele comunicaria e se desligaria do SRL... Samazelle argumentou que qualquer
comunista poderia pertencer ao SRL,
mas o contrário não era permitido.
Scriassine
demonizava o PC. Para ele, o partido deliberava que alguns de seus membros se
comportassem como independentes (talvez esse fosse o caso de Dubreuilh)...
Estava disposto, inclusive, a colocar um de seus informantes em contato com
Henri. Disse isso enquanto levava a mão ao telefone. Mas Henri o interrompeu e
deixou claro que só consultaria Dubreuilh.
Scriassine
lamentou... Falou que não haveria sinceridade da parte de Robert qualquer que
fosse a pergunta que lhe fizessem... Samazelle quis caracterizar os episódios
como graves demais para que L’Espoir continuasse a manter relações com o SRL. Luc entrou na conversa e perguntou
por que Dubreuilh se empenharia em tal manobra... Scriassine respondeu que,
além de ambicioso, o PC lhe pedira... Samazelle aproveitou a deixa para fazer
críticas ao “stalinismo” do “velho”.
Henri
concluiu, e não escondeu o seu pensamento, que aquelas eram considerações
pessoais. Lambert quis saber se os campos soviéticos de trabalho forçado não
lhe diziam respeito também... A resposta de Henri deixou claro que em nenhum
momento ele se recusara a falar sobre eles, mas acrescentou que “faria tudo de
acordo com Dubreuilh”... Samazelle disse que era provável que L’Espoir
assumisse postura diferente da adotada pelo comitê.
(...)
As
visitas se retiraram. Mas Lambert decidiu permanecer junto à escrivaninha de
Henri. Ele o aconselhou a ouvir o informante de Scriassine. Advertiu que
Dubreuilh o estava influenciando em sua decisão, e é claro que os demais
deixariam de confiar nele.
Apesar
de aparentar desconfiança em relação aos temores expostos por Lambert, Henri
não tinha plena certeza de que Dubreuilh não tivesse assumido inscrição junto
ao PC... O rapaz acrescentou com dramaticidade que “esconder a verdade” era o
mesmo que participar de um crime e, sendo assim, ele mesmo estaria fora,
vendo-se obrigado a negociar suas cotas de L’Espoir.
Lambert
pretendia que qualquer vínculo de Henri e L’Espoir com o PC fosse
definitivamente rompido... O rapaz destacou que se a denúncia se referisse à
Espanha, Grécia, Palestina ou Indochina (em vez de contra os soviéticos), Henri
não silenciaria... Então sua transigência só podia ser entendida como
colaboração com o PC. Só havia uma forma de se demonstrar o contrário: o
protesto imediato contra as atrocidades cometidas nos campos soviéticos de
trabalho forçado.
Henri garantiu que protestaria e que as denúncias
seriam publicadas... Lambert disse que sua decisão de “acompanhar Dubreuilh”
demonstrava o contrário... Henri respondeu com confiança que Dubreuilh não
apresentaria nenhuma objeção.
Despediram-se.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_6.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto