sexta-feira, 26 de setembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – J.R. Isidore inicia fusão mental, espiritual e física com Wilbur Mercer; como tudo começa

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_25.html antes de ler esta postagem:

Estamos no ponto em que J.R. Isidore inicia o dia (aquele no qual toda a história se passa)... Ele fazia a barba enquanto ouvia a televisão sintonizada no único canal a que o aparelho tinha algum acesso... Vimos que este tipo morava num imenso e abandonado prédio e que, além de “especial” tratava-se de um “cabaça de galinha”... A falação na televisão girava em torno das vantagens que os “normais” teriam se se mudassem o quanto antes para uma das colônias espaciais... Tudo muito maçante para J.R. que já estava atrasado para o trabalho.
Ao desligar a televisão o silêncio arrebatador que dominava toda localidade mais uma vez se apossou do ambiente.
(...)
Não seria melhor deixar a televisão em constante funcionamento para não ter que pensar a respeito do “silêncio que sufoca”?
O aparelho capenga só transmitia anúncios que interessavam aos “normais” e reportagens que a todo o momento lembravam-no de que não se passava de um “especial”, um tipo “não desejado”, sem utilidade...
Para que ouvir a televisão? Isidore só podia esperar sinceramente que todos se estrepassem e que também as colônias espaciais fossem palcos de guerras como a que dizimou a Terra.
Ele pensou a esse respeito e decidiu que era momento de trabalhar... Mas no instante mesmo em que abriu a porta, e reconheceu o vácuo pelos corredores escuros do “interminável prédio”, percebeu que não estava pronto para percorrer as escadarias até o piso de saída (onde sabia que certamente não toparia com qualquer ser vivente)...
Em vez de se encaminhar para o trabalho, J.R. Isidore resolveu recorrer à caixa de empatia...
(...)
O que segue descrito dá a entender em que consistia o ritual de “fusão física” com Wilbur Mercer:
Isidore ligou o aparelho e o tubo de raio catódico se iluminou tal como os aparelhos valvulados de televisão... Cores se embaralharam... Depois disso ele tomou os manetes, segurou-os com firmeza, um em cada uma das mãos.
Aos poucos a imagem se formou e revelou a paisagem conhecida por aqueles que buscavam a identificação e fusão física, mental e espiritual com Mercer... O ambiente de interação era estéril, de ervas secas e céu estranhamente nublado... Numa íngreme colina via-se um velho trajando surrada túnica... Este tipo é o velho Mercer...
Conforme apertava os manetes, Isidore sentia o seu ambiente real se desvanecer... Sala, paredes e móveis sumiram de sua consciência... Aos poucos ele deixou de ver o ancião para se tornar, ele mesmo, o tipo que subia a colina e sofria com as dores nos pés provocadas pelas pedras do caminho... Devoto e praticante do “mercerismo” ele conhecia bem aquela experiência... Sabia que logo respiraria uma “atmosfera amarga” que descia do céu sombrio...
Definitivamente o lugar nada tinha a ver com a Terra, e a caixa de empatia o subtraía cada vez mais do imenso e abandonado prédio.
Qualquer um que, no mesmo instante, na Terra ou em qualquer das colônias espaciais, fizesse o mesmo ritual (bastava apertar os manetes da caixa de empatia) pelo qual Isidore estava passando, vivenciaria a mesma experiência... Disso resultava (sempre) a incorporação dos pensamentos e conflitos existenciais dos demais “fiéis”...
Mas o que, afinal, todas essas pessoas buscavam ao pretenderem a fusão com Wilbur Mercer?
O mestre (cada um experimentando a personificação) os levava a subir a colina...
A cada dia que se passava, velhas e novas distâncias eram percorridas... A sensação de pedras nos pés se repetia sempre...
A cada fim de jornada, uma contemplação do próximo trecho a ser vencido...
“Impossível divisar o fim. Longe demais. Mas o fim viria”...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_29.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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