segunda-feira, 29 de setembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – J.R. Isidore e a fusão com Mercer; pedras são atiradas contra ele; consciências mescladas conhecem (e se reconhecem?) o louco passado do líder espiritual

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_26.html antes de ler esta postagem:

Precisamos voltar à experiência de Isidore... Mentalmente, ele (e tantos outros) está integrado ao mestre... Está integrado à paisagem ritual e suas sensações são aquelas mesmas provocadas pelo “cenário sagrado”.
A realidade na qual se envolve é de sacrifício... A labuta da subida é acompanhada por “antagonistas” que consegue divisar pelo canto dos olhos...
(...)
Pedras são atiradas contra Mercer (que em seu ser carrega Isidore e todos os demais fiéis que seguram os manetes firmemente)...
A dor provocada pela pedrada é intensa... Mas a caminhada deve prosseguir... Ela nunca tem fim... Não havia como quantificar as ocasiões anteriormente experimentadas... O momento ritualístico também não podia ser definido num tempo específico... Futuro, passado e presente se fundem na escalada...
Haveria sentido em tudo aquilo? Como que a se desconectar, J.R. Isidore revolta-se e se pergunta se o seu padecimento era justo... Afinal jamais soubera qual a finalidade de todo aquele “sacrifício solitário”... Ao refletir sobre essa “solidão”, a “mútua balbúrdia de todas as outras pessoas em fusão quebrou a (sua) ilusão de isolamento”.
Isidore até se comunicou com elas... Ficou sabendo que também elas sentiram a pedrada que feriu o seu braço esquerdo...
(...)
Na sequência conhecemos um pouco do quanto a “fusão espiritual” levava o indivíduo a um confuso estado de consciência...
A mescla de personalidades permitiria a personificação existencial do próprio Wilbur Mercer... Somos tentados a atribuir a construção da “viagem louca de Isidore” em seu retorno à realidade concreta ao envolvimento de PKD com drogas pesadas.
É claro que os que acompanhavam na escalada da colina também sentiram a agressão... A pedrada fora das mais violentas... Ele (na verdade Wilbur Mercer) se lembra de que houve tempos menos violentos, e até “mais felizes”...
Tudo começou quando seus pais adotivos, Frank e Cora Mercer, o resgataram quando flutuava numa boia de borracha sobre as águas (não se recordava do local – Nova Inglaterra ou perto do porto de Tampico, no México?)... A infância feliz havia sido marcada também por sua capacidade de restaurar a vida e a forma física de animais que ele tanto amava (sua existência havia sido entre coelhos e besouros. E não importava onde eles estivessem, pois para qualquer “mundo-colônia” ele podia ser transportado para permanecer junto aos bichos)...
As reflexões levam-no a referências sobre assassinos que o teriam capturado (quantas dessas informações devem ser creditadas à condição de “especial” de Isidore?)...
Tantas agressões sofrera que perdera as faculdades cognitivas... Continuou a praticar a ressureição de animaizinhos mortos... Fazia isso secretamente nas florestas, mas quando tinha 16 anos uma “lei local” proibiu esse tipo de prática, que se constituía em basicamente “reverter o tempo”... Mercer teria sido denunciado por uma anciã... Os assassinos bombardearam o único nódulo de seu cérebro com cobalto radioativo (Isidore e tantos outros também não passaram por agressões equivalentes ao tempo da guerra terminus?)...
Então, atirado numa “fossa de cadáveres e ossos mortos” teve de lutar muito para se livrar dessa terrível condição... Durante anos, apesar de sua limitação intelectual, fez ressurgir vários animais... O sapo e o burro eram os que mais mereciam sua estima... Mas tanto tempo se passou que esses se extinguiram.
Foi um pássaro que chegou para ali morrer que lhe revelou sua real condição no submundo... Apenas de modo macabro pôde se retirar dali... Os ossos ao seu redor foram reconstituídos e foi assim que, integrado ao metabolismo de outras criaturas, pôde ressurgir.
De fato, tudo muito confuso... Mas essa narrativa ainda não se esgota aqui.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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