sábado, 27 de dezembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – outras considerações (algumas retomadas) sobre o livro – Parte I

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/09/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas.html antes de ler esta postagem:

Por que iniciei este texto?
Porque gostaria de escrever um pouco mais sobre o louco mundo imaginado por PKD...
Infelizmente a vontade é maior do que a competência... Paciência.
(...)
Demorou, mas chegamos ao fim de Androides sonham com ovelhas elétricas?.
P.K. Dick tinha razão... Aqueles que conhecem o filme Blade Runner apreciam o seu livro. E o contrário também é verdadeiro.
O filme (de 1982) dirigido por Ridley Scott é considerado uma das obras primas do cinema de ficção... O pessoal dos efeitos especiais (liderados por Douglas Trumbull) caprichou tanto que nos sentimos transportados para a realidade futurista...
A trilha sonora elaborada por Vangelis se encaixa com perfeição nos cenários e situações vivenciadas pelo solitário Rick Deckard...
Por curiosidade, veja a abertura do filme de Scott... Um espetáculo!
Quem já assistiu, e revê o começo, tem dificuldade de interromper.
A leitura do texto de Dick proporciona “complementariedade” diferenciada... Pode conferir. E o contrário também é verdadeiro.
(...)
Poderíamos escrever sobre os pontos em que o filme se diferencia do apresentado no livro... Não são poucos...
Também é verdade que não são muitos os filmes feitos com a intenção de reproduzir fielmente um texto literário... Poucos resultam em satisfatórios.
Não vou discutir... Cada um pode fazer sua análise...
(...)
Em Androides sonham com ovelhas elétricas? os sobreviventes não têm esperança de que o mundo anteriormente conhecido se recupere... Apesar de possuírem vários recursos possibilitados pela engenhosidade de técnicos e cientistas, não têm como escapar da realidade do “recomeço”...
Infelizmente o recomeço não é o da “volta à natureza” (aqui faço referência à ficção de René Barjavel, Devastação – ou a Volta à Natureza, 1973) simplesmente porque a Terra se tornara inviável.
(...)
Os que sobreviveram à “Guerra Terminus” sabiam que ela havia sido causada pelos desentendimentos políticos das superpotências “armadas até os dentes”... Definitivamente, a destruição e o caos resultantes não foram obras de Deus...
E tem mais: após a devastação não apareceu nenhuma legião de anjos para dar início ao “Juízo Final”...
Tudo bem... Poderíamos pensar que o “Juízo” viria depois... Mas o certo é que, em vez disso, a Grande Poeira cheia de venenos tornou-se fenômeno permanente e itinerante... Assim, os viventes estão condenados ao “novo mundo” onde não há como garantir proteção eficiente.
(...)
Ao que tudo indica, nenhuma das religiões tradicionais sobreviveu nesse “novo mundo”... Há trechos em que vemos Deckard ou outro personagem qualquer invocando Jesus Cristo, mas isso talvez pudesse ser atribuído aos hábitos de antes da grande guerra.

A guerra trouxe o caos... Ela não gerou vencedores... Pelo contrário! A natureza foi alterada para pior... As potências beligerantes tiveram de se unir no esforço de salvar a espécie humana e o que restou dos valores de outrora.
A condição de “espécie dominante” neste mundo levou-nos à destruição do mundo e de tudo o que há de maravilhoso nele... Algo bem triste de se imaginar, porém cada vez menos improvável.
Na triste realidade engendrada por PKD vemos que as pessoas se apegam às espécies animais... Elas se consideram culpadas por terem destruído aquilo que, de alguma maneira, identificava o antigo “modo de ser” e que (aprenderam isso) tinha sido criado por Deus.
De repente as espécies animais se tornaram muito difíceis de serem obtidas. Ser proprietário de um animal, além de demonstrar sintonia com a identificação passada, passou a ser motivo de prestígio social... E isso era tão importante que a falta de animais naturais foi suprida pelas imitações elétricas.
(...)
A ONU e os governos incentivavam a emigração dos considerados “normais” para as colônias espaciais... Incentivavam também a prática da fusão com Mercer que, no mínimo, tornava as pessoas menos perturbadas com a realidade e mais afeitas à empatia.
Nem mesmo para os humanoides a atmosfera e paisagens das colônias espaciais eram sequer razoáveis... Para uma constatação mais detalhada basta relermos o trecho em que Pris conversa com Isidore (em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_13.html)...
Por isso eles se rebelam e fogem para a destruída Terra... Isso é um transtorno para os viventes... Os caçadores de recompensa têm a função de identificá-los e eliminá-los. Essa é a função a função de Rick Deckard.
(...)
As empresas que faturam com a fabricação dos andys buscam aperfeiçoá-los a cada nova série e, ao mesmo tempo em que querem evitar os incômodos que resultam em decadência para os negócios, procuram torná-los menos identificáveis pelos caçadores de recompensa.
E aquela fusão com Mercer? Também ela não pode ficar de fora desses últimos rabiscos.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas