segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – de volta à América, uma viagem agitada; Lewis Brogan e Anne novamente juntos; de barco pelo Ohio e Mississipi

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de_31.html antes de ler esta postagem:

Anne conseguiu encaminhar Paule para tratamento com o doutor Mardrus... Sua recuperação era uma questão de tempo.
Pelo menos Anne pensava dessa maneira.
(...)
Enfim, depois de tantas situações tensas, ela viu o mês de maio chegar... A primavera proporcionou-lhe também o reencontro com o amado Lewis Brogan.
A partida para a América foi emblemática... A pequena e velha aeronave saíra de Atenas e estava carregada de mercadores gregos falantes e suas bugigangas... Anne não conseguira firmar um pensamento sobre o que fazia naquele voo quando foi surpreendida pela notícia de que um dos motores estava avariado... Já em pleno oceano, a máquina teve de retornar para a Irlanda e pousar no aeroporto de Shannon.
Os passageiros aguardaram por dois dias até nova decolagem... Ao aterrissarem nos Açores ocorreu novo acidente, dessa vez foi um pneu que estourou... Mais vinte e quatro horas se passaram até que a viagem pudesse prosseguir... Tormentas exigiram novo traçado e o piloto seguiu para a Nova Escócia... O final foi sem maiores tropeços...
(...)
Anne teve a impressão de avistar Lewis... Mas evidentemente aquele tipo de colarinho duro e óculos dourados não poderia ser ele... Inclusive porque ela não teve o menor impulso de gritar o seu nome ou sair em disparada em sua direção.
Evidentemente os atrasos impossibilitaram a recepção...
Ao constatar que não era aguardada no aeroporto, Anne vacilou em seus pensamentos e imaginou que, talvez, não estivesse tão ansiosa por revê-lo.
Entrou num táxi e comunicou o endereço ao motorista, mas ela não tinha certeza a respeito do número da residência, então disse 1211... Ela viu que o tipo percorria longas distâncias e passava por paisagens muito semelhantes, com “trilhos e terrenos vagos”.
Nem mesmo poderia telefonar porque havia esquecido o número... De repente o taxista anunciou que a casa 1211 simplesmente não existia... Talvez a numeração tivesse sido alterada... Mas não adiantaria insistir...
Novas tentativas e Anne parecia se lembrar de certas paragens, como um viaduto, um lago... De repente avistou o letreiro em vermelho no qual se lia Schiltz... Pronto. Enfim chegara aonde tanto queria; o lugar que mantivera seus pensamentos inquietos no último ano... O motorista explicou que o número era 1112.
(...)
Lewis a aguardava ao seu modo. Na cabeça trazia um boné de basebol (casquete, de acordo com o texto)... Abraçaram-se e trocaram palavras felizes sobre a alegria do aguardado reencontro... Evidentemente, para o casal, havia sido uma demorada espera.
Anne reconheceu o ambiente, a cozinha amarela, a coberta mexicana... Tudo como antes. Depois falou sobre a sua preocupação do momento em que chegou ao aeroporto quando, em vez dele, avistou um estranho sósia... Lewis disse que também se sentira atormentado há umas duas horas, quando chegou um carro à vizinhança trazendo uma mulher que parecia desmaiada ou morta...
Mas agora tudo estava bem... Os amantes estavam juntos e podiam saciar toda a sua vontade contida... Deitaram-se, abraçaram-se, beijaram-se... Havia planos para a temporada.
As palavras de Lewis eram carinhosas e revelavam que, noite após noite, ele a aguardara.
De acordo com as palavras da própria Anne, o casal passou o dia seguinte “fazendo as malas e amando”... Só na outra manhã é que pegaram um trem até o rio Ohio para o passeio no barco a vapor.
(...)
A atmosfera era esplêndida, o céu maravilhoso... As estrelas sobre Cincinnati pareciam brilhar apenas para eles... Enfim Anne vivenciava tudo o que desejou enquanto aquele dia tardava a chegar... É como se estivessem “unidos para sempre”. Lewis também manifestou que aqueles momentos eram muito mais do que sempre quisera para si mesmo.
Os passageiros brincavam o bingo e se divertiam com a competição amistosa... Anne sentia-se como se tivesse “apenas vinte anos de idade e curtisse sua primeira viagem”...
A descida do Ohio e do Mississipi levou seis dias... Havia os locais específicos para descerem e assim podiam caminhar afastados dos demais...
Liam e fumavam... Conversavam ou nada faziam enquanto contemplavam as águas e as fazendas distantes... O barulho monótono do motor era uma constante, porém Anne não desejava que os dias fossem diferentes.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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