Chegaram a Nova Orleans, e Lewis a apresentou a partir da vivência que experimentara há muitos anos, quando levava uma existência entre os excluídos locais... Não era sem empolgação que ele mostrava para Anne os ambientes onde tivera de vender sabonetes e se alimentar de bananas roubadas... Cada travessa abarrotada de gente lembrava-lhe suas aventuras dignas de roteiros cinematográficos.
(...)
Partiram para a Península do Yucatán (tal como aparece no livro), no
México. Instalaram-se num hotel junto a uma vasta floresta. Logo que se
ajeitaram decidiram passear numa das várias charretes que disponibilizavam aos
turistas...
O ambiente se apresentava
como um dos mais pobres que Anne já conhecera... Notava-se a ocupação espanhola
dos tempos coloniais e via-se que o casario com seus jardins e grades era uma decadência
só.
Por sugestão de Anne, o condutor da charrete os levou
a uma agência dos correios, onde era certo que haveria correspondência para
ela... Dito e feito... Carta de Robert dava notícias de seu artigo político
para a Vigilance, sobre a correção
das últimas provas de seu livro e sobre o tenebroso tempo que pairava sobre
Paris... O fato de saber que o marido retomara sua produção de textos políticos
retirava-lhe um tremendo peso da consciência.
De volta ao passeio, Anne e Lewis percorreram extensa praça onde se
organizava uma feira com artigos locais (frutas, peixes, sandálias, tecidos de
algodão...)... As mulheres usavam longas tranças e saias compridas... As
crianças indiazinhas eram sorridentes e falantes...
(...)
Numa taberna tomaram cerveja escura e comeram
azeitonas...
Apesar da pobreza local, a atmosfera romântica era mais que
satisfatória... O casal passeava como turistas numa terra exótica... Quem os
visse não poderia imaginar que sua interação pudesse ser tão vulnerável.
Anne contemplava a paisagem e analisava a simplicidade dos que tinham
ascendência maia... Os dois poderiam viver ali... Comprariam uma casa,
aprenderiam a falar a língua local e a fazer tortilhas... Dormiriam em redes
como todos.
Lewis estava pensativo e de repente disparou que Anne podia mesmo pensar
daquela forma, pois tinha “duas vidas”... Isso gerou certo mal estar porque
Anne pensou que ele estivesse sinceramente angustiado com ela... Talvez fosse
por causa da carta que ela não compartilhou totalmente com ele...
De repente ela se sentiu insegura... É claro que ele poderia dizer-lhe
francamente que não recebia dela todo o amor que ela pudesse dedicar-lhe... É
claro que ela sempre teria de partir...
Anne resolveu perguntar-lhe
se seriam inimigos em algum momento... Ele respondeu perguntando sobre quem é
que poderia se tornar inimigo dela...
(...)
Mais tarde jantaram no
hotel cercados por flamingos... Anne ainda pensava sobre o diálogo que tiveram
à tarde e se sua pergunta (se poderiam vir a se tornar inimigos) havia sido a
ideal...
Estava mergulhada
nessas inquietações quando um representante da agência de turismo apareceu para
falar-lhes a respeito da viagem a Chichen-Itza (onde há florestas com vários
monumentos maias, entre eles, a famosa pirâmide de Kukulkan)... O tipo insistia
que eles deviam fazer uso do automóvel disponibilizado... Poderiam se hospedar
no hotel Maya e teriam vantagens... Mas Anne e Lewis estavam decididos a viajar
de ônibus... Lewis disparou que detestavam guias e que preferiam andar... Anne
emendou que se hospedariam no hotel Victoria.
O rapaz da agência quis que eles entendessem que o Victoria era, na
verdade, um pequeno albergue indígena... Certamente eles passariam por situações
que exigiriam muitos sacrifícios... Mas não foi insistente, sorriu e se
despediu.
(...)
A viagem para Chichen-Itza (tal
como aparece no livro) ocorreu conforme Lewis e Anne planejaram... Seguiram de
ônibus e festejaram ao notar que o Maya era um hotel para americanos... Brogan
não tinha a menor disposição de lidar com compatriotas falantes depois de uma
viagem de retiro como aquela...
O caminho para o Victoria
não era nada fácil em meio à floresta úmida... Por um bom tempo eles nem tinham
certeza de que estavam no caminho certo... A tarde escureceu e avistaram
vaga-lumes... Ao longe ouviram vozes espanholas e o que parecia ser uma
parede... Passaram por uma barreira e notaram animais de criação como porcos e
galinhas...
Haviam chegado ao albergue, mas não pela porta
principal... O lugar estava às escuras devido a uma pane elétrica. A recepção
foi das mais improvisadas... Foram recebidos à luz de velas.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto