quarta-feira, 10 de junho de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Dubreuilh não acreditou nem entendeu os questionamentos de Sézenac a respeito de Henri e o falso testemunho; nada além da verdade; pode-se levar uma vida correta numa sociedade que não o é?; fim da nona parte

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_10.html antes de ler esta postagem:

Dubreuilh passou a falar a respeito da visita de Sézenac... Comentou que havia sido uma situação bem estranha... Henri explicou que já fazia um bom tempo que o moço havia sido demitido por ele.
Dubreuilh fez referência às perguntas de Sézenac, que queria saber se ele conhecia certo Mercier e também se Henri permanecera em Paris num determinado dia de 1944... Como não entendia os motivos das perguntas, e nem tinha condições de solucionar suas dúvidas, resolveu “despedi-lo secamente”.
Com ares de preocupação, Dubreuilh emendou que Sézenac podia tornar-se perigoso... Ele deu a entender que não acreditava na história que o moço lhe contou...
Em síntese, Sézenac havia dito que Henri dera um falso testemunho para livrar um delator da Gestapo da prisão... E tudo por influência de Josette Belhomme!
Para Dubreuilh aquilo não passava de boato, mas em sua opinião não podiam permitir que aquele mexericose espalhasse ao bel prazer do rapaz... Sua conclusão era a de que Sézenac devia odiá-lo para proceder daquela maneira.
(...)
Henri percebeu que poderia se aproveitar da inocência de Robert naquele caso e, quem sabe, manter a aparência de bom homem... Porém decidiu dizer a verdade e respondeu que a narrativa de Sézenac correspondia à realidade... Achou mesmo que ninguém precisaria ter atitudes melindrosas em relação a ele... Então completou dizendo que dera o falso testemunho para “salvar Josette”.
Dubreuilh quis saber se o tal Mercier era mesmo um delator da Gestapo... Henri confirmou e garantiu que o tipo merecia ser fuzilado... Perguntou se sua atitude era “digna de uma patifaria” e ao mesmo tempo tentou se justificar dizendo que só o fizera para salvar a pequena e que, além do mais, não se perdoaria se ela se suicidasse...
Henri acrescentou que não considerava a libertação de Mercier digna de lamentação... Definitivamente aquilo não lhe tirava o sono, já que um salafrário a mais ou a menos não faria diferença...
Dubreuilh observou que seria preferível “um a menos”... Henri perguntou-lhe se seria correto permitir que Josette se matasse... A resposta reconhecia que a decisão devia ter sido das mais difíceis.
Henri explicou que não demorou a se decidir e, além disso, não podia dizer que estivesse arrependido do que havia feito... Dubreuilh pensou sobre o que ouvia e sentenciou que aquela história provava “que a moral particular não existe”... Algo que eles acreditavam, mas podiam constatar que não tinha o menor sentido... Henri quis deixar claro que no momento em que teve de tomar sua decisão viu-se “emparedado”, sem escolha, porém não havia como não levar em consideração que, se não tivesse se envolvido com Josette, nada teria ocorrido...
(...)
O que Henri queria dizer é que reconhecia que havia falhado ao não resistir aos encantos da garota... Dubreuilh lembrou que dificilmente conseguimos resistir a todas as tentações, sustentou que “o ascetismo é bom quando é espontâneo” e que temos direito a “satisfações positivas”...
É claro que muitas dessas satisfações jamais serão experimentadas por nós... Ele explicou que até mesmo por não realizarmos algumas delas corremos o risco de praticarmos certas tolices. Afinal, pode-se levar “uma vida correta numa sociedade que não o é?”.
Isso, na opinião de Dubreuilh, seria mais um aprendizado... “Não há salvação pessoal possível" dado que fatalmente nos tornamos presas das ciladas que estão sempre à espreita.
Puro fatalismo... Henri estava notando que o outro queria dizer que “não nos resta grande coisa”... Ele quis saber o que Dubreuilh teria feito em seu lugar, mas este o preveniu de que não tinha a menor condição de saber...
Henri topou contar-lhe tudo a respeito do que havia vivenciado.
Fim da nona parte.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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