quarta-feira, 10 de junho de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Henri e Dubreuilh revisitam sua atuação política no pós-guerra; uma análise dos fracassos desde os tempos em que a empolgação por independência política havia sido legítima (uma parte II); dificuldades e incoerências em relação aos novos engajamentos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_9.html antes de ler esta postagem:

O passado havia sido o tempo em que as posições estavam bem definidas... Havia os companheiros e os inimigos.
Mas então, quis saber Henri, deviam ter ingressado no PC? Dubreuilh respondeu que teriam sido “péssimos comunistas”... Isso era algo que o próprio Henri advertira quando afirmara que “não se podia deixar de existir sob a própria pele”...
A conclusão era a de que nada podiam ter feito...
Para Robert, o PC nada fez... Também os comunistas acabaram encurralados.
(...)
Continuaram a beber...
Henri pensou sobre a ocasião em que dissera a Nadine que lhe faltava tempo para realizar tudo o que pretendia... Mas o que havia a ser feito? Também era de se lamentar que aquilo que aprenderam só passou a fazer parte de suas consciências depois de passarem por todas as amolações... Dubreuilh deixou claro que obviamente não poderiam ter aprendido antes...
Então não havia fracasso a se lamentar... “O erro estava abolido”.
Dubreuilh era “uma impecável vítima da fatalidade histórica”... Todo intelectual francês que se empolgou com a vitória em 1944 nada podia no pós-guerra... Afinal, o que se podia pretender num cenário em que dois gigantes (EUA X URSS) se defrontavam? Era evidente que a França não ocupava posição preeminente...
(...)
Mas e quanto a Henri, de que lhe valeram os incontáveis debates, dúvidas e entusiasmo em torno dessas questões que custaram a mudança de seu posicionamento “de um extremo a outro daquela história”?
Para ele não era fácil admitir (como o outro pretendia) uma “consciência de sua inutilidade”. Dubreuilh quis dar a entender que não se tratava de fatalismo... Ele considerava que não tinham como agir, pelo menos naquele momento específico.
Henri disse que havia lido o ensaio... Questionou sobre a afirmação a respeito de “marchar francamente” junto aos comunistas como condição para os que desejassem “fazer algo”. Dubreuilh justificou que, embora não concordasse com os comunistas, entendia que “aos que se apartavam do agrupamento” não restava grande coisa.
É claro que o fato de não ter ingressado no partido relacionava-se à sua consciência em relação aos rumos que os comunistas haviam dado à revolução... Definitivamente não era o que ele esperava na época de sua juventude... Ele entendia que sua condição era bem diferente da dos mais jovens, então não podia arriscar-se a ingressar nas fileiras do partido porque o seu tempo de envolver-se em situações de risco havia passado...
Também Henri se considerava um tipo sem motivações... Acabou dizendo que gostaria de se retirar para o campo, ou mesmo sair do país... Talvez se dedicasse à literatura... Perguntou se havia algum sentido nisso.
Como que a se desculpar pelo seu radicalismo, Dubreuilh disse que talvez tivesse exagerado em seus textos... Afinal “a literatura não é tão perigosa assim”.
(...)
Encerraram essa conversa...
Dubreuilh passou a falar a respeito de uma estranha visita que Sézenac lhe fizera na véspera...
Evidentemente Henri estava interessado em saber o que o rapaz havia falado ao velho.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas