O passado havia sido o tempo em que as posições estavam bem definidas... Havia os companheiros e os inimigos.
Mas então, quis saber Henri, deviam ter ingressado no PC? Dubreuilh respondeu que teriam sido “péssimos comunistas”... Isso era algo que o próprio Henri advertira quando afirmara que “não se podia deixar de existir sob a própria pele”...
A conclusão era a de que nada podiam ter feito...
Para Robert, o PC nada fez... Também os comunistas acabaram encurralados.
(...)
Continuaram
a beber...
Henri
pensou sobre a ocasião em que dissera a Nadine que lhe faltava tempo para
realizar tudo o que pretendia... Mas o que havia a ser feito? Também era de se
lamentar que aquilo que aprenderam só passou a fazer parte de suas consciências
depois de passarem por todas as amolações... Dubreuilh deixou claro que
obviamente não poderiam ter aprendido antes...
Então
não havia fracasso a se lamentar... “O erro estava abolido”.
Dubreuilh
era “uma impecável vítima da fatalidade histórica”... Todo intelectual francês
que se empolgou com a vitória em 1944 nada podia no pós-guerra... Afinal, o que
se podia pretender num cenário em que dois gigantes (EUA X URSS) se
defrontavam? Era evidente que a França não ocupava posição preeminente...
(...)
Mas
e quanto a Henri, de que lhe valeram os incontáveis debates, dúvidas e
entusiasmo em torno dessas questões que custaram a mudança de seu
posicionamento “de um extremo a outro daquela história”?
Para
ele não era fácil admitir (como o outro pretendia) uma “consciência de sua
inutilidade”. Dubreuilh quis dar a entender que não se tratava de fatalismo... Ele
considerava que não tinham como agir, pelo menos naquele momento específico.
Henri disse que havia lido o ensaio... Questionou
sobre a afirmação a respeito de “marchar francamente” junto aos comunistas como
condição para os que desejassem “fazer algo”. Dubreuilh justificou que, embora
não concordasse com os comunistas, entendia que “aos que se apartavam do agrupamento”
não restava grande coisa.
É claro que o fato de não
ter ingressado no partido relacionava-se à sua consciência em relação aos rumos
que os comunistas haviam dado à revolução... Definitivamente não era o que ele
esperava na época de sua juventude... Ele entendia que sua condição era bem
diferente da dos mais jovens, então não podia arriscar-se a ingressar nas
fileiras do partido porque o seu tempo de envolver-se em situações de risco
havia passado...
Também Henri se considerava
um tipo sem motivações... Acabou dizendo que gostaria de se retirar para o
campo, ou mesmo sair do país... Talvez se dedicasse à literatura... Perguntou
se havia algum sentido nisso.
Como que a se
desculpar pelo seu radicalismo, Dubreuilh disse que talvez tivesse exagerado em
seus textos... Afinal “a literatura não é tão perigosa assim”.
(...)
Encerraram
essa conversa...
Dubreuilh passou a falar a
respeito de uma estranha visita que Sézenac lhe fizera na véspera...
Evidentemente Henri estava interessado em saber
o que o rapaz havia falado ao velho.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_1.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto