domingo, 7 de junho de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Henri tranquiliza Josette a respeito do dossiê; cena de ciúme; Sézenac propõe acordo com Lambert; a certeza sobre libertação de Mercier a partir do falso testemunho podia ser confirmada documentalmente por Lambert; a mentira requer do mentiroso posturas que a sustentem

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de.html antes de ler esta postagem:

Henri trabalhou até tarde da noite em sua redação sobre as atrocidades em Madagascar... Não parou nem mesmo para jantar... Eram pouco mais de onze horas da noite quando decidiu passar pelo teatro para pegar Josette.
(...)
Já estavam no carro quando ela perguntou se tudo havia corrido bem como sua mãe informara... Ele a tranquilizou e disse que não acreditava que seu testemunho pudesse gerar qualquer tipo de suspeita.
Josette quis saber se ele mesmo havia queimado os papéis e se teve curiosidade de olhá-los... Henri respondeu afirmativamente... Ela foi logo dizendo que tinha certeza de que nunca tiraram “fotografias inconvenientes” dela...
Henri disse que não sabia o que ela entendia por “inconveniente”, então emendou que ela aparecia sorridente em várias fotografias, sempre bonita e ao lado do capitão alemão. Ele falava sobre isso enquanto pensava que a pequena que estava ao seu lado era aquela mesma que estivera “indiferente a todos os infortúnios”, acompanhada dos “inimigos da nação” e servindo-os.
Ao chegarem ao prédio de Josette, Henri esclareceu que não subiria, pois também estava muito cansado e tinha ainda muito a fazer. Obviamente ela quis saber se ele reagia com rancor... De modo vago, ele explicou que na época da ocupação ela era livre e desimpedida para amar quem bem quisesse... Talvez fosse um pouco de ciúme, mas não estava zangado, apenas decidido a não subir.
(...)
No dia seguinte, Henri telefonou para Lambert para marcar o encontro tantas vezes adiado. Mas dessa vez foi o próprio Lambert quem manifestou a impossibilidade de se encontrarem no dia seguinte ou nos próximos...
Henri entendeu que o moço estava mesmo bem magoado... Garantiu que na semana seguinte se encontrariam... E para demonstrar que estava interessado, voltou a entrar em contato para reafirmar o compromisso.
De fato, alguns dias depois, Henri resolveu ter pessoalmente com o melindrado Lambert no jornal...
(...)
Ele subia a escada quando topou com Sézenac, que estava se retirando. Como já fazia um bom tempo que não se viam, Henri sugeriu que ele o acompanhasse para trocarem umas ideias... Ficou claro que o moço não estava para proza, já que deu a entender que “nada de especial” ocorria com ele... Então, sem dar satisfações, apressou o passo e desceu os degraus em direção à rua.
Henri notou que Sézenac estava visivelmente mais pesado, e pensou que a sua aparência desgastada só podia ser o resultado do uso abusivo de drogas...
(...)
No corredor encontrou Lambert encostado à parede... Parecia mesmo que ele o aguardava. Henri antecipou-se a dizer que havia acabado de falar com Sézenac.
Lambert respondeu que também tinha visto Sézenac. Disse que, ao que tudo indicava, ele estava se virando como delator da polícia...
Henri quis saber a respeito daquela conclusão ao mesmo tempo em que deu a sua opinião levando em consideração que todo viciado em droga precisa de dinheiro e, assim sendo, pode mesmo se tornar informante da polícia.
Ao notar que Lambert parecia transpirar mais do que o normal, Henri perguntou-lhe a respeito do assunto que tinham tratado...
Lambert falou que Sézenac chegou propondo “algo esquisito”... Em troca de certas informações, ele apontaria os patifes que haviam assassinado o seu pai... Deixou claro que as informações que o outro esperava eram exatamente sobre Henri. 
(...)
Não era bem a polícia que buscava informações a respeito de Henri... Lambert explicou que era o próprio Sézenac que o tinha como alvo...
Ele disse que sabia que Henri havia testemunhado em favor de certo Mercier, um tipo que “fazia mercado negro” na região de Lyons e que era frequentador da mansão de Lucie Belhomme...
Lambert disse mais... Ele mesmo conhecia detalhes do depoimento de Henri, que dava conta de que Mercier atuava com eles entre 1943 e 1944, e que este tipo estivera com Henri em La Souterraine 23 de fevereiro de 1944.
Henri respondeu que as informações correspondiam ao que ele havia jurado... Lambert retrucou com certo triunfo que nada daquilo era verdade... Sézenac e ele sabiam... Mercier simplesmente não existia para o grupo! Lambert não se afastava de Henri durante as ações... A própria tarefa em La Souterraine foi adiada para o dia 29 de fevereiro, Lambert o acompanharia, mas foi Chancel que acabou o levando à localidade. Como poderia se esquecer desses detalhes?
As palavras de Lambert soaram agressivas... E foi com agressividade que Henri o atacou... Sustentou que só ele conhecia Mercier; que ocorreram duas viagens a La Souterraine; e que na primeira delas os dois teriam ido juntos.
Henri disparou que Lambert não merecia nenhuma resposta, já que indiretamente o acusava de ter dado falso testemunho à Justiça.
Lambert não se intimidou... Garantiu que aquelas datas não lhe saíam da memória... Além do mais ele mesmo possuía suas agendas de registros da época... Era só uma questão de consultá-las, mas era praticamente certo que, no referido dia 23. Henri permanecera em Paris... Foram várias discussões a respeito da viagem, e ele sabia que foi uma só...
O que estaria por trás daquela mentira? O próprio Lambert sabia. E deixou claro para Henri que concluíra facilmente que Mercier tinha o controle sobre as Belhomme... Para salvá-las (as duas “cabeças raspadas”), Henri havia inocentado um delator da Gestapo.
(...)
Henri mostrou-se injuriado... Expulsou o rapaz do escritório gritando que poderia arrebentá-lo... Lambert se retirou. Deteve-se para dizer que nada falara a Sézenac, mas sua vontade era a de vê-lo denunciando aquele golpe sujo.
Lambert foi embora... Enfim estava livre de Henri.
Henri sabia que não era apenas uma questão de sustentar que a versão de Lambert era falsa...
A questão era bem outra... O rapaz o tinha em alta consideração, mas agora estava claro que aquele que falava de lealdade também era dado a “julgar aos outros”, e pouco se importava com os escrúpulos.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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