África Africans, a maior mostra de arte contemporânea organizada em nosso país, está montada desde 25 de maio no Museu Afrobrasil, que fica no Parque do Ibirapuera (Avenida Pedro Álvares Cabral, Portão 10 - Parque Ibirapuera, São Paulo).
Até 30 de agosto.
De terça a domingo: 10:00 - 17:00. Entrada franca.
(...)
A intenção aqui é a de deixar algumas considerações
sobre as obras de Aston e Gérard
Quenum (do Benin) e de Yinka Shonibare Bem (Inglaterra/Nigéria).
Há muito que ser relatado a
respeito das demais obras... Mas tal empreitada exigiria esforço ainda maior...
Sem dúvida, a falta de capacidade intelectual do autor também é inibidora de
tal intento.
As instalações de Aston e de Quenum estão no piso inferior... Ao
entrarmos no museu temos de descer os degraus que dão acesso ao salão onde
também se realizou o desfile de moda.
(...)
A obra de Aston ocupa grande parte do pavimento...
Várias peças (a maioria delas é de resíduos plásticos, arames e borrachas)
recolhidas pelo artista durante mais de vinte anos compõem um enorme painel que
bem pode ser comparado a uma maquete.
De um lado vemos o mapa da África... Do outro lado notamos várias
embarcações que parecem seguir para o continente... Entre os dois vemos
numerosos elementos representando africanos capturados e encaminhados para o
tráfico. Muitos “seguem” juntos no rumo das embarcações. Eles parecem unidos
por um instrumento que os acorrenta.
Por todo lado vemos “corpos” caídos... Esses tombaram durante a
resistência que travaram contra os opressores... Há aqueles que se tornaram
vítimas da violência praticada pelos imperialistas.
As embarcações estão abarrotadas... Vários “corpos” estão fora, como que
descartados ao mar... Pura evidência da grande quantidade de prisioneiros
mortos durante as trágicas viagens.
Também há uma embarcação que parece repleta de detritos... Talvez
represente o lixo que os países europeus devolveram àqueles povos.
Cavaleiros (ou guerreiros
africanos montados em camelos) foram posicionados como que a formar uma moldura
que lembra o contorno de uma embarcação gigante (um navio negreiro?). Entre
eles há muitos caídos.
Tudo isso nos faz pensar...
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A obra de Gérard
Quenum que está posicionada na parede é assustadora... Evidentemente ela denuncia
os horrores provocados pelas guerras que acontecem em todo o mundo.
Os capacetes usados por soldados nos dão a impressão de terem sido
utilizados há bem pouco tempo... Cada um “carrega” uma cabeça de boneca.
Normalmente o artista
consegue essas bonecas abandonadas por aí... Sabe-se que em várias de suas
obras elas são “motivações” recorrentes. Em África
Africans elas conseguem retratar um
pouco dos dramas que as inocentes crianças sofrem a cada conflito travado entre
os beligerantes.
(...)
Vemos um painel repleto de ovos separando dois manequins que trajam belas
vestes guerreiras. Na parte superior do painel os ovos estão destruídos...
Nenhum dos oponentes tem cabeça.
Podemos pensar que os dois soldados são europeus (os
manequins são brancos)... O motivo pelo qual lutam, ou talvez o próprio
conflito, pode explicar o fato de terem “perdido a cabeça”...
Eles bem poderiam estar atirando ovos um contra o outro... Mas são armas
de fogo o que têm às mãos! Por que lutam? O que disputam?
Se pensarmos que a referência nos remete aos
conflitos “neocolonialistas”, poderemos considerar que a divertida obra também
está denunciando (de modo debochado) a ganância e intolerância dos
imperialistas, além do seu descaso em relação aos nativos...
Um abraço,
Prof.Gilberto