terça-feira, 27 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – terceiro ato – Vitória morre; Diogo se desespera e o coro das mulheres sintetiza a sua dor; o rapaz propõe morrer no lugar da amada; Peste quer envolvê-lo em seu plano de restaurar o poder; “coisas boas da vida” que as pessoas sem ambições podem aproveitar

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_71.html antes de ler esta postagem:

Várias pessoas chegaram... Elas vinham como que em cortejo; traziam o corpo de Vitória estendido numa maca.
Só então conseguimos relacionar a fuga de sua irmã da casa dos pais, e a ansiedade da menina ao apoderar-se do caderno da secretária... Só então podemos adivinhar o nome que ela procurou e riscou.
(...)
Diogo se aproximou... Os sentimentos que despertaram de seu coração eram dúbios... Avistar a amada naquelas condições o impulsionava a matar ou a ansiar pela própria morte?
Difícil saber.
O rapaz implorou à amada que não o abandonasse; que não se deixasse conduzir ao “outro mundo”. A morte de Vitória significaria o fim também para ele.
O coro de mulheres registrou o seu momento de dor. Sintetizou que quando a “morte rasga a garganta daqueles que amamos” compreendemos amargamente que não temos mais tempo para o amor...
(...)
Era notório que Diogo havia se desprendido dessa relação enquanto esteve engajado na luta contra o regime de Peste... Mas havia essa contradição... O amor voltava ao seu coração quando o destino não lhe era mais favorável.
(...)
A situação de Vitória era muito delicada... Mas um frágil coração ainda palpitava em seu peito. Diogo escutou o seu tímido gemido e isso o empolgou... Enfim ela podia ouvir suas palavras de incentivo e reconhecimento por dar-lhe força nos momentos mais difíceis. Sim! Ele jamais deixou de pensar nela enquanto esteve em combate.
Vitória conseguiu manifestar o seu lamento. Tudo o que Diogo conseguiu ouvir foi que, para ela, era certo que seria esquecida por ele... Teve energia ainda para dizer que se sentia atormentada por isso naquele momento de morte.
(...)
A jovem disse isso e virou-se.
Tudo indicava que aqueles eram os seus estertores.
Enquanto a morte a levava, o coro de mulheres fez o comentário a respeito da “beleza real” que acabava de deixar este mundo...
Pobre Diogo... Podia apenas soltar a sua voz reclamando o impossível... Acusar-se equivaleria a reconhecer o arrependimento... O corpo da bela Vitória era a sua “pátria”... Sua memória não a resgataria.
(...)
Peste se aproximou de Diogo. Entre os dois jazia Vitória... O ditador quis saber se o rapaz renunciava ao seu projeto político... De sua parte, Peste desejava apenas o poder. Via que o moço estava fragilizado e com o olhar perdido.
Diogo propôs morrer no lugar de sua amada...
Peste desconversou e garantiu que aquelas palavras só podiam ser resultado de sua estafa... Garantiu que o pior para Vitória já estava feito.
Diogo insistiu que sua proposta era típica daqueles que são fortes.
Mais uma vez a questão sobre “quem tem a força” foi discutida... Peste insistiu que ele mesmo incorporava a força...
Diogo sugeriu-lhe que tirasse o uniforme militar.
O ditador disse que o rapaz só podia estar louco ao apresentar tal proposta. Diogo o provocou ao garantir que, despidos de seus uniformes, os “homens da força” não são nem um pouco belos.
(...)
Peste retornou ao assunto principal da conversa... Disse que “a vida tem coisas boas”. Talvez fosse melhor o rapaz pensar a respeito de seu projeto de “morrer no lugar de Vitória”.
Certamente o ditador arquitetava alguma manobra para reconquistar a cidade de modo definitivo e, de alguma maneira, esperava envolver Diogo em seus planos.
O moço explicou que sua vida era nada... As razões de viver são o que devemos levar em consideração.
Peste enumerou algumas situações em que os homens comuns valorizam em seu cotidiano: “o primeiro cigarro; o odor da poeira, ao meio do dia, sobre os aterros; as chuvas da noite; a mulher ainda desconhecida; o último copo de vinho”...
Diogo não discordou... Tudo aquilo, de fato, era “alguma coisa”... Mas garantiu que Vitória viveria melhor do que ele.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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