quarta-feira, 28 de outubro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – terceiro ato – Peste podia trazer Vitória à vida, mas Diogo teria de renunciar sua luta contra o regime; ao ditador interessava apenas o poder total; o jovem rebelde entende que não pode colocar o seu prazer pessoal acima da liberdade do povo; pode-se ser feliz sem fazer mal aos demais?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_27.html antes de ler esta postagem:

O “remédio” para aquela constatação estava em renunciar o engajamento na luta em defesa dos outros. Peste afirmou isso, mas não conseguiu convencer Diogo...
O jovem explicou que, depois de se enveredar pelo caminho das lutas sociais, não tinha como retroceder... Garantiu que o ditador podia esperar perturbações, pois jamais seria poupado pelos que queriam o fim do regime.
(...)
A situação estava posta.
Diogo estava disposto a sacrificar a própria vida para que sua amada permanecesse entre os viventes de Cádiz... Peste pretendia dissuadi-lo, mas dada a insistência do rapaz, deixou claro que seria obrigado a aceitar a troca...
Então Vitória poderia voltar a viver.
No entanto, deixando claro que tinha outros projetos, apresentou uma alternativa. Devolveria a vida à moça e permitiria que ambos fugissem para longe, deixando a cidade livre para os “seus cuidados”.
Diogo não aceitou... Disse que “conhecia seus poderes”.
(...)
Peste não ficou nem um pouco satisfeito com o que ouviu... Disparou que das duas uma: ou se tornava senhor absoluto de tudo; ou não seria senhor de nada.
Se Diogo saísse de seu controle, toda a cidade lhe escaparia.
Infelizmente, para Peste, aquilo era uma das consequências de antigas regras... Nem mesmo ele sabia “de onde elas vinham”...
Diogo afirmou que vinham “do mais fundo das idades”... E que se tratava de “regra da natureza”... Aquilo significava que “o povo havia vencido”.
O ditador não se deu por rogado. Garantiu que estava negociando tendo ao seu favor o corpo da jovem...
Sua proposta considerava devolver a respiração à Vitória, porém Diogo deveria optar entre morrer ou entregar a cidade aos seus caprichos.
(...)
Ainda havia amordaçados na cidade... Era possível ouvi-los murmurando.
Diogo contemplou Vitória...
Depois se virou na direção do coro e disse que “é duro morrer”. Peste concordou e repetiu a frase.
Após breve silêncio, Diogo sentenciou que “a morte é dura para todos”.
(...)
Peste percebeu que estava difícil fazer o rapaz mudar de opinião. Chamou-o de imbecil e esbravejou que ele ganharia muito mais se decidisse viver com Vitória... Sentenciou que “dez anos do amor desta mulher valem mais do que um século de liberdade daqueles homens” de Cádiz.
Diogo emendou que o amor que nutria por Vitória era algo que apenas a ele pertencia... Aquilo era o “seu reino” e podia fazer o que bem entendesse a respeito... Por outro lado, a liberdade das pessoas não lhe pertencia.
(...)
O ditador ainda quis convencê-lo... Afirmou que “ninguém pode ser feliz sem fazer mal aos demais”, pois a justiça da terra era essa mesma.
Diogo redarguiu dizendo que não nascera para consentir naquela justiça.
De sua parte, Peste observou que ninguém pedia tal consentimento... Simplesmente essa era a ordem do mundo; não era porque o rapaz não se conformava que ela seria alterada.
(...)
Na sequência há o desabafo de Diogo.
Ele apresenta a antítese de tudo o que os poderosos de todos os tempos cimentaram sobre os que sofrem dominação.
Mas isso fica para a próxima postagem.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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