Diogo manifestou o amor que nutria pela sua gente...
Pelo visto se manteria fiel aos seus mais altos propósitos até o fim de seu entrevero com Peste.
O ditador ressaltou que o desprezo era a única expressão de fidelidade que devia ser dispensada àquele povo... Apontando para o coro, cujos integrantes revelavam-se prostrados, quis saber de Diogo se o seu sacrifício realmente valia a pena.
O rapaz reafirmou que o seu desprezo se destinava aos carrascos... Não importava o que Peste fizesse, seria sempre inferior aos que ele explorava... Não havia como compará-los à aberração que Peste representava... É claro que ocorriam crimes de mortes entre as gentes do povo, mas eles eram resultados da “loucura de um instante”.
(...)
O
que dizer dos crimes praticados pelo regime de Peste e os massacres impetrados
segundo sua “lei e lógica”?
O
maior dos crimes que as gentes do povo cometessem poderia sempre ser
desculpado. Bem diferente dos crimes contra eles cometidos...
O
que dizer da criminosa ideia de Peste de a tudo codificar na “imunda ordem”
imposta por ele?
As
gentes do povo sofriam há séculos... Isso Diogo fez questão de escancarar ao
ditador. Ele não devia rir ou troçar “de suas cabeças curvadas, pois há séculos
o cometa do medo passa por cima deles”; nem de seu temor, pois “há séculos eles
morrem e seu amor é dilacerado”.
(...)
Essas
palavras foram como que a “última prova”.
Diogo triunfou sobre Peste, que revelou que caso
aceitasse entregar-lhe a cidade, acabaria também perdendo Vitória.
Nada havia mais a ser feito.
Cádiz ficaria livre do regime que estava apenas em seu início...
Como classificar um tipo
como Diogo?
Peste o chamou de
insensato... Tipos como ele morriam para “salvar o resto”...
(...)
Aqueles
que torciam para que Diogo conseguisse livrar a cidade das mãos tirânicas de
Peste, o veem como personalidade heroica...
Um pouco como o “salvador
da pátria”, que merece o abraço da mulher amada ao final da história.
Há
quem pense como Peste...
Esses
concordariam com ele quando, depois de pensar, sentenciou que “o resto não
merece ser salvo”.
(...)
Também
Diogo tornou-se reflexivo...
Repetiu
o juízo de Peste: “o insensato morre”...
A
reação do ditador foi a de observar a hesitação de seu oponente.
Amarga
foi a conclusão de Diogo ao estender que a honra que buscara seria encontrada
apenas “entre os mortos”.
Peste revelava-se fatigado de toda aquela falação...
Disse que Diogo devia se preparar... Pelo visto chegavam ao final de seu acerto
de contas.
Diogo respondeu que estava pronto... Peste
imprimiu-lhe novas marcas de infecção... Elas provocaram intensa dor e não foi
por acaso que o jovem começou a se contorcer com evidente padecimento.
(...)
O ódio manifestado por
Peste não podia ser mensurado.
Ele não escondia seu
prazer ao contemplar seu inimigo “assistir a própria morte”.
Diogo gemia...
Peste
teria de deixar a cidade.
Foi a teimosia daquele
rapaz que o impediu de prosseguir com o seu projeto político em Cádiz...
Teria de recomeçar em outra
paragem.
Chamou a secretária para que aquele trabalho
fosse finalizado.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/10/estado-de-sitio-de-albert-camus_42.html
Leia: Estado
de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto