segunda-feira, 23 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – ocasião em que Kapuscinski ficou sabendo que Lumumba estava morto; um discurso (gravado) para comover os parlamentares; nenhum protesto nas ruas de Stanleyville

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_21.html antes de ler esta postagem:

Como Lumumba é descrito pelo livro de Kapuscinski?
Patrice Lumumba era um tipo “alto e ágil; seu rosto escuro tinha traços europeus”...
Ele caminhava por logradouros Leopoldville e refletia sobre a luta política...
Mas isso não é tudo... Ainda “ouviremos” muito a seu respeito por aqui.
(...)
O polonês explica que estava recolhido ao quarto (setembro de 1960) com seus companheiros quando Kambi entrou anunciando que Lumumba estava morto...
Kambi havia sido nomeado ministro*... De repente o chefe de governo do qual faria parte já não existia... Não havia choro ou revolta em seus gestos, simplesmente o desespero caíra sobre o seu ser... O que teria a fazer? De que modo contribuiria para recompor o partido? Sequer sabia a quem poderia recorrer!
Seu silêncio meditabundo foi interrompido quando ele mesmo sentenciou que a morte do líder só podia ter sido obra dos belgas.

                                                           * O próprio Kambi jamais vira Lumumba...
                                                            Conhecia o seu discurso... E isso era tudo.

Ele trouxe um aparelho de som que reproduzia fitas magnéticas de rolo grande... Certo Ngoy fez o equipamento funcionar... Tão logo isso ocorreu, ouviu-se o discurso de Lumumba no Parlamento... Kambi aumentou o volume para que também as ruas pudessem ouvi-lo...
Mas nas ruas de Stanleyville não havia movimentação que indicasse qualquer indignação ou protesto... Nada de tiroteio ou vingança.
(...)
Kapuscinski esclarece que a voz de Lumumba era calma... Só aos poucos, depois de iniciado o seu discurso, é que sua fala se enchia de emoção...
Com clareza, transmitia considerações sobre a situação do Congo... De repente, seu pronunciamento se tornou vibrante ao atacar as “forças de intervenção”...
A fita evidencia uma voz agressiva acompanhada de breves socos num móvel (uma estante ou mesa)...
Depois há o silêncio... Imagina-se que os que o ouviam na ocasião deviam estar bem atentos, reflexivos e paralisados...
Lumumba voltou a falar... Dessa vez parecia expressar amargura e decepção... Entre os ouvintes havia representantes das mais diversas correntes de pensamento... Mas todos o respeitaram.
(...)
A voz que saía do equipamento tornou-se pouco mais do que um sussurro... Por isso Kambi se aproximou mais dos alto-falantes.
Triste fim...
Ouvia-se o discurso, mas aquele que falava não se encontrava mais entre os viventes...
As ruas desertas podiam indicar o ocaso da nação?
(...)
Mas o que Lumumba voltava a dizer?
Kapuscinski emenda que ele parecia saber que aquela era a sua última oportunidade para convencer os congressistas... Por isso utilizava o melhor de seus argumentos... Clamava por unidade, algo que sempre o inspirou e que aspirava para o povo do Congo.
_ L’unité, l’unité...
Impossível voltar atrás... Ele insistiu que deviam avançar para, enfim, alcançar a independência... Em swahili disse “uhuru”, que significa “liberdade”...
Lumumba insistiu que não haveria liberdade, esperança, vitória e país se não houvesse firmeza daqueles que tinham importante papel político na representação das comunidades.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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