Como Lumumba é descrito pelo livro de Kapuscinski?
Patrice Lumumba era um tipo “alto e ágil; seu rosto escuro tinha traços europeus”...
Ele caminhava por logradouros Leopoldville e refletia sobre a luta política...
Mas isso não é tudo... Ainda “ouviremos” muito a seu respeito por aqui.
(...)
O
polonês explica que estava recolhido ao quarto (setembro de 1960) com seus
companheiros quando Kambi entrou anunciando que Lumumba estava morto...
Kambi
havia sido nomeado ministro*... De repente o chefe de governo do qual faria
parte já não existia... Não havia choro ou revolta em seus gestos, simplesmente
o desespero caíra sobre o seu ser... O que teria a fazer? De que modo
contribuiria para recompor o partido? Sequer sabia a quem poderia recorrer!
Seu
silêncio meditabundo foi interrompido quando ele mesmo sentenciou que a morte
do líder só podia ter sido obra dos belgas.
* O próprio
Kambi jamais vira Lumumba...
Conhecia o seu discurso... E isso era tudo.
Ele trouxe um aparelho de som que reproduzia fitas magnéticas
de rolo grande... Certo Ngoy fez o equipamento funcionar... Tão logo isso
ocorreu, ouviu-se o discurso de Lumumba no Parlamento... Kambi aumentou o
volume para que também as ruas pudessem ouvi-lo...
Mas nas ruas de
Stanleyville não havia movimentação que indicasse qualquer indignação ou
protesto... Nada de tiroteio ou vingança.
(...)
Kapuscinski esclarece que a
voz de Lumumba era calma... Só aos poucos, depois de iniciado o seu discurso, é
que sua fala se enchia de emoção...
Com clareza, transmitia
considerações sobre a situação do Congo... De repente, seu pronunciamento se
tornou vibrante ao atacar as “forças de intervenção”...
A
fita evidencia uma voz agressiva acompanhada de breves socos num móvel (uma
estante ou mesa)...
Depois há o silêncio...
Imagina-se que os que o ouviam na ocasião deviam estar bem atentos, reflexivos
e paralisados...
Lumumba
voltou a falar... Dessa vez parecia expressar amargura e decepção... Entre os
ouvintes havia representantes das mais diversas correntes de pensamento... Mas
todos o respeitaram.
(...)
A
voz que saía do equipamento tornou-se pouco mais do que um sussurro... Por isso
Kambi se aproximou mais dos alto-falantes.
Triste
fim...
Ouvia-se
o discurso, mas aquele que falava não se encontrava mais entre os viventes...
As
ruas desertas podiam indicar o ocaso da nação?
(...)
Mas
o que Lumumba voltava a dizer?
Kapuscinski emenda que ele parecia saber que aquela
era a sua última oportunidade para convencer os congressistas... Por isso
utilizava o melhor de seus argumentos... Clamava por unidade, algo que sempre o
inspirou e que aspirava para o povo do Congo.
_ L’unité, l’unité...
Impossível voltar atrás...
Ele insistiu que deviam avançar para, enfim, alcançar a independência... Em
swahili disse “uhuru”, que significa “liberdade”...
Lumumba insistiu que não haveria liberdade,
esperança, vitória e país se não houvesse firmeza daqueles que tinham
importante papel político na representação das comunidades.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto