Kapuscinski manifesta todo o seu encantamento com o discurso de Lumumba...
Especificamente aquela ocasião (marcada por sua morte, desolação de seus partidários, vazio das ruas e também pela audição a partir de um aparelho para fitas de rolo) fixou-se em sua memória como uma das mais especiais.
(...)
Na sequência o autor faz
referências às grandes concentrações em comícios caracterizados pela presença e
discursos de homens como Patrice Lumumba... Kapuscinski explica que seria
preciso “ver como eles eram ouvidos na África”.
Nasser, Mkrumah, Sékou Touré... Multidões festivas e
emocionadas reconheciam o momento que vivenciavam... Aplaudiam, divertiam-se e
revoltavam-se...
Os comícios eram como “feriados populares”, eventos carregados de
dignidade e de alegria... Momentos também consagrados pelas lideranças
religiosas, pois os feiticeiros sempre se faziam presentes com seus rituais
e/ou citações do Alcorão...
Nasser fazia um discurso “duro, categórico, sempre
dinâmico, impulsivo e dominador”.
Touré era daqueles que fazia gracejos com a assistência... Era pelo bom humor
que começava a conquistar o público.
Nkrumah adotava “ares patéticos” mesclados aos “trejeitos de pregador”,
algo que incorporara desde a época em que falava “nos templos negros na América”.
E o que dizer dos encerramentos em que todos requebravam ao som de jazz?
A poeira subia às fitas coloridas embaladas pelo vento enquanto
formava-se grande alvoroço provocado pelo público que tentava se aproximar dos
veículos que faziam a retirada de seus líderes do evento.
(...)
Para Kapuscinski, também
chama a atenção o fato de tantos nomes despontarem de uma hora para outra num
continente historicamente colocado em posição de inferioridade... Quando foram
exploradas pelos europeus, suas riquezas tiveram destino certo... Também os
europeus são os responsáveis pelo sequestro e escravização de suas gentes...
Ocorreram muitas resistências
durante todo esse processo que durou séculos... É claro! Tribos inteiras foram
dizimadas... Como reconhecer os nomes dos que foram escravizados? A própria
África não tinha como nomear a todos os que tombaram na defesa de sua
dignidade...
No entanto, desde o
final dos anos 1950 o continente parecia viver uma grande e histórica marcha...
A cada ano novos personagens passavam a ser reconhecidos internacionalmente:
Gamal Nasser (1956); Kwame Nkrumah (1957); Sékou Touré (1958); Patrice Lumumba
(1960).
Em comum, além da contemporaneidade, esses líderes alimentaram o desejo
de uma grande unidade continental e, sobretudo, que as capitais de seus países
se tornassem referências pan-africanistas.
(...)
Depois, Kapuscinski volta a
tratar especificamente de Lumumba...
Havia líderes congoleses que atuaram antes de
Lumumba... O escritor cita Kasavubu e Bolikango, militantes que conseguiram
muitos adeptos... Mas a sua causa priorizava a defesa de suas tribos sem levar
em conta uma visão mais abrangente da questão, como fazia Lumumba.
Não seria possível notar a atuação de Lumumba em interação com os dois
citados anteriormente... Primeiro porque ele era mais jovem... Também há que se
considerar que ele amargou temporadas na prisão... Como vimos, seu projeto
incluía a libertação e unificação de todo povo do Congo.
(...)
Kapuscinski conta que
Lumumba tentou percorrer todo o Congo em seis meses...
O país é imenso! Para termos uma ideia, Gandhi
demorou 20 anos para atravessar toda a Índia! As dificuldades em relação ao
Congo se tornavam ainda mais penosas se considerarmos que o seu território era
povoado por “pequenos grupos de pessoas” espalhados por savanas e selvas (a
densidade demográfica era mesmo muito baixa, 6 hab/km²).
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto