quarta-feira, 25 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – África e a histórica “grande marcha” empreendida por lideranças como Lumumba; da sua diferente atuação em relação aos que lutavam especificamente por suas comunidades; da “tarefa hercúlea” a que se propôs

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_23.html antes de ler esta postagem:

Kapuscinski manifesta todo o seu encantamento com o discurso de Lumumba...
Especificamente aquela ocasião (marcada por sua morte, desolação de seus partidários, vazio das ruas e também pela audição a partir de um aparelho para fitas de rolo) fixou-se em sua memória como uma das mais especiais.
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Na sequência o autor faz referências às grandes concentrações em comícios caracterizados pela presença e discursos de homens como Patrice Lumumba... Kapuscinski explica que seria preciso “ver como eles eram ouvidos na África”.
Nasser, Mkrumah, Sékou Touré... Multidões festivas e emocionadas reconheciam o momento que vivenciavam... Aplaudiam, divertiam-se e revoltavam-se...
Os comícios eram como “feriados populares”, eventos carregados de dignidade e de alegria... Momentos também consagrados pelas lideranças religiosas, pois os feiticeiros sempre se faziam presentes com seus rituais e/ou citações do Alcorão...
Nasser fazia um discurso “duro, categórico, sempre dinâmico, impulsivo e dominador”.
Touré era daqueles que fazia gracejos com a assistência... Era pelo bom humor que começava a conquistar o público.
Nkrumah adotava “ares patéticos” mesclados aos “trejeitos de pregador”, algo que incorporara desde a época em que falava “nos templos negros na América”.
E o que dizer dos encerramentos em que todos requebravam ao som de jazz?
A poeira subia às fitas coloridas embaladas pelo vento enquanto formava-se grande alvoroço provocado pelo público que tentava se aproximar dos veículos que faziam a retirada de seus líderes do evento.
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Para Kapuscinski, também chama a atenção o fato de tantos nomes despontarem de uma hora para outra num continente historicamente colocado em posição de inferioridade... Quando foram exploradas pelos europeus, suas riquezas tiveram destino certo... Também os europeus são os responsáveis pelo sequestro e escravização de suas gentes...
Ocorreram muitas resistências durante todo esse processo que durou séculos... É claro! Tribos inteiras foram dizimadas... Como reconhecer os nomes dos que foram escravizados? A própria África não tinha como nomear a todos os que tombaram na defesa de sua dignidade...
No entanto, desde o final dos anos 1950 o continente parecia viver uma grande e histórica marcha... A cada ano novos personagens passavam a ser reconhecidos internacionalmente: Gamal Nasser (1956); Kwame Nkrumah (1957); Sékou Touré (1958); Patrice Lumumba (1960).
Em comum, além da contemporaneidade, esses líderes alimentaram o desejo de uma grande unidade continental e, sobretudo, que as capitais de seus países se tornassem referências pan-africanistas.
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Depois, Kapuscinski volta a tratar especificamente de Lumumba...
Havia líderes congoleses que atuaram antes de Lumumba... O escritor cita Kasavubu e Bolikango, militantes que conseguiram muitos adeptos... Mas a sua causa priorizava a defesa de suas tribos sem levar em conta uma visão mais abrangente da questão, como fazia Lumumba.
Não seria possível notar a atuação de Lumumba em interação com os dois citados anteriormente... Primeiro porque ele era mais jovem... Também há que se considerar que ele amargou temporadas na prisão... Como vimos, seu projeto incluía a libertação e unificação de todo povo do Congo.
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Kapuscinski conta que Lumumba tentou percorrer todo o Congo em seis meses...
O país é imenso! Para termos uma ideia, Gandhi demorou 20 anos para atravessar toda a Índia! As dificuldades em relação ao Congo se tornavam ainda mais penosas se considerarmos que o seu território era povoado por “pequenos grupos de pessoas” espalhados por savanas e selvas (a densidade demográfica era mesmo muito baixa, 6 hab/km²).
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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