quarta-feira, 25 de novembro de 2015

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – a falta de recursos midiáticos fazia do contato direto com a gente do interior uma necessidade; Lumumba começou sua “pregação política” nas cidades; Kapuscinski define o que seria uma cidade como a Leopoldville da metade do século passado; agitados bares do Congo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/11/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_9.html antes de ler esta postagem:

Podemos depreender que Lumumba pensava como Gandhi... Pode ser que ele achasse necessário conhecer vilarejos e pequenas cidades... No “corpo-a-corpo” procuraria convencer a todos a respeito de suas ideias políticas... Precisaria falar porque não possuía uma imprensa ou equipes de rádio e televisão.
Há que se considerar que os meios de comunicação possuíam vínculos estreitos com os antigos colonizadores belgas... Sendo assim, de que adiantaria possuir um jornal ou uma rádio? Além disso, não eram muitas as casas que possuíam aparelhos... Os leitores eram escassos...
Os vários líderes citados na postagem anterior apresentavam-se com vestimentas típicas de seu povo... Ou então com surrados uniformes militares... Lumumba destoava porque se vestia elegantemente (camisa branca com colarinho impecável, gravata e abotoaduras)... Também seus óculos tinham armação cara... Era o típico evolué (no Congo, desde os tempos coloniais, se referia aos negros “europeizados”)...
Tudo isso o fazia destoar das populações comuns. Mas quando ele visitava os vilarejos africanos vestia-se como um elegante europeu.
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Ao contrário do que se pode pensar, “Lumumba não costumava visitar muitos vilarejos”...
Ele não era um camponês... Também não era um proletário... Sua formação se dera na cidade.
No caso africano, a cidade constituía-se basicamente de “funcionários públicos pequeno-burgueses” e seus agregados... Então pode-se dizer que os que tinham a cidade como origem não conheciam bem o que vem a ser um “aglomerado de trabalhadores braçais”.
De início, a atuação de Lumumba ocorreu entre os que viviam na cidade. Mas é certo que o passado recente da maioria daquelas pessoas fosse ligado ao campesinato... Todavia não eram camponesas.
Kapuscinski registra que “uma coisa é a vida no meio da tribo”... Outra, bem diferente, é a vida na cidade... A tribo era a referência e o equilíbrio... Os que se transferiam para a cidade não tinham dela a mesma sensação...
Em Leopoldville, por exemplo, todos tinham de aprender a se virar sozinhos. Na cidade, o “egresso do campo” passava a conhecer “o patrão, o dono do apartamento, o dono da mercearia” e assim por diante...
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Há pobreza na cidade... E tudo podia se resumir à constatação de que (nela) poucos se conhecem... A quantidade de pessoas a quem se deve dinheiro é sempre muito grande... A angustiada existência levava as pessoas comuns ao vício do álcool.
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Kapuscinski apreciava os “ambientes etílicos” da África.
Ele apresenta algumas observações para comparar os bares do Congo... De certo modo, faz uma “análise sociológica” e explica que os homens preferiam frequentar os bares (e permanecer neles o mais que podiam) a terem de suportar suas casas, ambientes apertados, pobres e tristes... Além disso, nas casas moravam suas esposas briguentas com as crianças agitadas e habituadas a fazer xixi em qualquer canto...
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Os bares ofereciam muitos outros atrativos...
Neste ponto, não há como não fazer referência à comparação que Kapuscinski faz com os bares poloneses... Inicialmente ele destaca a grande quantidade de estabelecimentos que existiam em Leopoldville... Cita o bar Lewicki (de Varsóvia) e deixa claro que em sua terra natal era muito complicado bebericar uma dose de vodca e degustar um pepino em conserva, pois isso requeria paciência para enfrentar uma longa fila*...

                                                           * Isso era muito comum nos países socialistas
                                                           da chamada “cortina de ferro”, onde o
                                                           abastecimento era sempre muito complicado.

Ele sentencia que os bares poloneses eram locais de “frequência rotativa”, pois o cliente não se sentia motivado a permanecer... Já os bares africanos eram sempre muito concorridos por pessoas que desejavam ficar por longas horas, até a alta madrugada...
Os ambientes eram festivos e tinham decoração extravagante... Estavam sempre prontos para atender a quem quisesse comemorar algo... Não faltavam cervejas e jazz que saíam de agulhas e discos desgastados...
Jovens garotas desfilavam entre os frequentadores... Elas enfeitavam suas cinturas com as tampinhas de garrafas, e estavam sempre dispostas a dançar.
(...)
Nas cidades, Lumumba fez peregrinação pelos bares.
Saberemos os motivos.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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