terça-feira, 29 de dezembro de 2015

“Apartheid” – fragmentos de documentos sobre o fundamentalismo religioso da Igreja africânder

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/12/apartheid-fragmentos-de-documentos_65.html antes de ler esta postagem:

Fragmentos de documentos selecionados por Kapuscinski para o seu A Guerra do Futebol no capítulo em que trata da África do Sul e seu regime de segregação racial (1965).

Os africânderes fundamentavam-se em sua religião.

A Igreja africânder ensinava que a segregação tinha explicação bíblica. Dessa forma, na luta do Bem contra o Mal, os brancos tinham a missão de concretizar as “promessas de Deus”, os negros deviam ser submetidos e estariam fadados ao extermínio divino.
Também graças a isso, os africânderes impuseram-se politicamente e nutriram-se de determinação para resistir até o fim (contra todos) em sua “cruzada”. Pois eram convictos de sua “predestinação”.

Fragmentos de G.D. Scholtz – historiador africânder:

                                                           A religião tornou possível a sobrevivência africânder entre os negros, já que lhes permitiu comparar o seu papel com o representado pelo povo bíblico de Israel – assim como era proibido a um israelense misturar-se com os pagãos, os africânderes consideram uma proibição divina misturar-se com aqueles que não têm pele branca.

Fragmentos extraídos de The History of apartheid, de L. E. Neame (1962):

                                                           Ameaças e advertências não surtem efeitos sobre os africânderes. Um observador de fora não tem condições de imaginar com que força interior os africânderes tratam das questões de raça e do futuro de sua nação. Nesse campo, não há para ele nenhuma possibilidade de compromisso. Trata-se de calvinistas que acreditam fanaticamente que Deus os encaminhou para a África do Sul, que os conduziu por inúmeros perigos, e eles se mostram prontos a morrer em defesa de seu destino. Acreditam que, ao colocá-los na África do Sul, o Onipotente confiou-lhes uma missão divina e que é sua obrigação defender o país para seus filhos e netos. Eles se trancam em sua fortaleza, dispostos a enfrentar uma nova guerra contra hordas de bárbaros e, caso a Providência abra um túmulo diante deles, entrarão nesse túmulo – lutando.

Fragmentos de A. B. Dupresh – um teólogo africânder muito influente no governo:

                                                           Se tivermos que desaparecer do sul da África e o nosso destino for morrer como Nação Branca, anunciamos ao mundo todo, em sã consciência e em nome da nação dos africânderes, que preferiremos desaparecer, como deseja Deus, que dirige o nosso destino, a cometer o suicídio que seria assumir o caminho da integração e da assimilação com os negros, Se os não-brancos nos massacrarem será um novo triunfo da barbárie, que Deus tão milagrosamente evitou às margens do Rio de Sangue (batalha contra os zulus, vencida em 1882 pelos africânderes). Apesar disso, acreditamos piamente que Deus, na Sua grandeza, continua a zelar pelo destino de nossa nação. Preferimos morrer confiantes na predestinação a nos ligar aos negros, perdendo assim nossa singularidade e traindo a missão que Ele nos confiou.
A imagem selecionada para ilustrar a postagem foi extraída de http://www.abcdesign.com.br/especial/design-subversivo/.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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