O dia 3 de agosto de 1966 ficou marcado pela libertação de Obafemi Awolowo.
O grande líder dos iorubas permaneceu preso por anos na carceragem de Calabar... O regime do tenente-coronel Gowon o libertou.
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A leitura de “A Guerra do Futebol” permite conhecer um pouco do
prestígio de Awolowo que, mais do que líder político, era considerado um
“messias iluminado”.
O “Nigerian Tribune”
destacou que a libertação de Awolowo ao meio-dia provocou um fenômeno que todos
deviam conhecer: “as trevas se desfizeram e, no céu, raiou a aurora”.
Bola Oragbaiye era daqueles
que labutava em reflexões que pretendiam entender os motivos de Awolowo possuir
tanta “grandeza”... Qual seria o segredo?
Oragbaiye escrevia no
“Nigerian Tribune” sem alimentar expectativas de que, um dia, pudesse
apresentar resposta ao mistério fenomenal...
Havia outros, como Omo
Exum, que entendiam que as virtudes de Awolowo eram infinitas...
O consenso era o de que o líder era dotado de “aura divina” e estava
“acima de todos”. Então, qualquer manifestação de ceticismo devia ser vista
como “insanidade mental”.
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G. B. A. Akinyede escreveu
“Awo Homem, Awo Profeta, Awo Salvador”, brochura que circulava em meio à
população. Para o autor, a libertação do líder havia provocado “explosões de
alegria em toda a África, em todos os países da Comunidade Britânica e em todo
o mundo”...
Passava-se a ideia de que a
Providência Divina havia intercedido para que sua libertação se efetivasse... E
que, graças a Ela, “as trevas se dissiparam”...
É o próprio Akinyede
quem dava a entender que, com a prisão (o Hades de Awolowo), “o mundo caiu na
escuridão”, “o céu se cobriu de nuvens e o dia se fez noite”... Houve “terremotos,
epidemias, perfídias e grandes sofrimentos”.
A libertação permitiu que Awolowo “solicitasse o retorno da luz”...
Assim, a paz retornou e os terremotos (as epidemias, perfídias e demais
sofrimentos) cessaram.
A partir desse ponto de vista, Awolowo, devia ser encarado como “glorioso
salvador”... Sua personalidade só poderia ser comparada à dos profetas do
Antigo Testamento... Uma vez que o consideravam profeta, devia ser entendido
como “líder extraordinário”, a “grandiosidade em pessoa”.
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Relacionavam-no ao próprio Jesus Cristo.
Assim como o Crucificado, o
líder político nigeriano também conviveu com traidores e pessoas que o
renegavam... Sua presença em meio aos demais era um “milagre”, obra de Deus,
que a todos perdoara ainda que “soubessem o que faziam”.
Elleh Kcorr ia ainda mais longe com suas apreciações sobre Awolowo... No
“Nigerian Tribune” (saberemos por que este jornal publicava tanto, e de modo
exagerado, a respeito da dignidade do grande líder) afirmava que a sua
libertação representava o “nascimento do tão necessário messias” que salvaria a
Nigéria “de um colapso total, excepcionalmente sua região oriental”.
Kcorr acrescentava que era
espantoso que alguém tão grandioso como Awolowo tivesse corpo e alma (e
“aparência de homem comum”) como os demais mortais.
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O poeta Jola West escreveu
“A história de coragem de Awolowo”, poema que celebra a libertação do grande
herói e canta a sua majestade, direito de reinar e sua celebridade diante de
uma multidão de anjos e almas...
Norte,
Sul Leste e Oeste deveriam se curvar diante dele.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto