sábado, 18 de junho de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – sobre a morte do Che na Bolívia e o engajamento de jovens em novos “focos guerrilheiros”; a bodega “El Canto”, as cantigas tristes do índio Diego Fernandez e os encontros dos jovens agitadores; sobre Romulo, editor de “jornal marrom” e pai de Chato Peredo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/06/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_7.html antes de ler esta postagem:

Depois do texto sobre a “Guerra do Futebol” Kapuscinski dedicou algumas páginas de seu libro para episódios que ocorriam na Bolívia.
Como se sabe, Che Guevara embrenhara-se nas florestas daquele país com um grupo de guerrilheiros com a finalidade de derrubar o regime ditatorial local... Enquanto viveu não abandonou o seu ideal de contribuir para que a revolução socialista se estendesse a outros países (depois de triunfo em Cuba participou de ações no Congo em 1965).
Mas o Che foi capturado e executado pelo exército boliviano em 9 de outubro de 1967. Sua morte representou grande revés aos revolucionários de todo o continente... Ao mesmo tempo motivou muitos jovens, sobretudo estudantes universitários, ao engajamento nos movimentos anti-imperialistas.
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Kapuscinski transcreve o relato (a partir de fita magnética) de Guillermo Veliz, jovem que fez parte de um desses grupos.
Em meados de 1970 o rapaz seguiu com dezenas de companheiros para o interior das florestas bolivianas... Esperavam vingar o Che... Esperavam concluir sua tarefa revolucionária.
Evidentemente o autor não travou diálogos com os personagens citados... Todavia seus registros nos levam a reflexões a respeito da realidade dos países latino-americanos desde a segunda metade da década de 1960 e sobre o envolvimento dos jovens nas lutas pela superação da condição de subdesenvolvimento.

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O polonês inicia o seu texto tecendo considerações sobrea bodega “El Canto”, localizada num porão de um velho prédio nas proximidades do Plaza Murillo, em La Paz.
O ambiente era dos mais decadentes e o acesso se dava a partir de uma “escada quase em ruína”... Na entrada, o frequentador recebia uma caneca de vinho tinto e depois seguia com dificuldade para um ambiente escuro.
A principal atração do lugar era um índio chamado Diego Fernandez. Ele tocava uma guitarra e cantava canções tristes. Não iniciava sua apresentação sem acender uma vela, o que tornava a atmosfera das mais sombrias.
Kapuscinski destaca o conteúdo de uma das composições apresentadas por Fernandez... A música fala de uma donzela apaixonada por certo Rosendo. Ela implora ao amado para que não morra, pois estão de casamento marcado para o dia seguinte e todas as providências (convites entregues, a única vaca que possuíam fora sacrificada para os festejos, o salão de festas estava limpo e a cerveja estava reservada nos jarros...).
Todas as cantigas eram sobre as durezas da vida e sobre os amores impossíveis de se concretizarem.
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Os frequentadores da bodega eram jovens de “espíritos agitados”... Reuniam-se ruidosamente para trocar ideias a respeito das possibilidades de agitações conspiratórias e golpes... Os revoltados mais exaltados jamais desconsideravam a possibilidade de participar de grupos guerrilheiros.
O mais exaltado era Chato Peredo, de 29 anos.
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Kapuscinski concorda que a história da família desse rapaz podia render um romance. Sobre Romulo Peredo, o pai de Chato, diz-se que era um borracho e que no passado editava um “jornal marrom”, “El Imparcial”, em Cochabamba.
Sobre os textos de Romulo sabe-se que eram escandalosos e que provocavam muita confusão nos meios políticos e entre os tipos mais influentes da sociedade boliviana.
O polonês cita publicação do “Imparcial” a respeito da “violação cometida pelo vigário de Pocon a uma menina de seis anos”... O religioso exigiu reparações, o que foi realizado mediante o pagamento de cem pesos... A retificação foi publicada no dia subsequente, mas no mesmo texto a acusação recaía sobre outro vigário, o de Colon...
Nova confusão estabelecida... Novos protestos e retificações... Era sempre assim...
Mas começou a ocorrer de os injuriados não aceitarem pedidos de desculpas e retificações... Vários foram os que se dirigiram a Cochabamba para surrar o senhor Romulo Peredo. E foi por isso que ele decidiu contratar um lutador de boxe, famoso na Bolívia, Ernesto Alduante, para dirigir o “El Imparcial”. Isso deu resultado, já que aos poucos as ameaças ao jornal e ao editor-chefe diminuíram.
(...)
Na próxima postagem teremos mais algumas informações sobre Romulo e seus filhos... Pelo menos dois deles se envolveram diretamente na guerrilha da qual o Che participou.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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