terça-feira, 7 de junho de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – o fim da guerra do futebol; uma análise conclusiva; a histórica ocupação de camponeses salvadorenhos em terras hondurenhas; pressões por reforma agrária; United Fruit e as “terras intocáveis”; corrigindo datas; persistência de impasses

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/06/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_77.html antes de ler esta postagem:

A ”guerra do futebol” chegou ao fim depois de cem dias.
O saldo apresentado pelo livro é de seis mil mortos e milhares de feridos... Vilarejos inteiros foram destruídos por incêndios e cerca de cento e cinquenta mil pessoas ficaram desabrigadas.
O final dos conflitos contou com a intervenção diplomática dos países da América Latina... Todavia Kapuscinski registra que após o fim das agressões militares, alguns confrontos persistiam nas fronteiras.
(...)
O autor apresenta sua análise conclusiva.
Não podemos esquecer que suas considerações datam de 1969, o ano em que o homem chegou à Lua... E também da “Guerra do futebol”.
(...)
Afinal, as partidas de futebol disputadas em junho (e não em março, como aparece no livro) seriam o principal motivo da guerra?
Kapuscinski destaca que as razões devem ser buscadas em fatores “mais sérios” e científicos, de ordem social, política e econômica, que envolviam as duas nações.
Em síntese, devemos considerar que El Salvador é o menor país da América Central e que concentra um contingente populacional bem elevado (cento e sessenta hab/km² naquela época)...
Quatorze famílias dividiam as terras do país... Dizia-se que “El Salvador pertence a quatorze famílias”...
Dois terços da população rural simplesmente não possuía terra. A proporção destacada pelo autor acusa que de um lado havia 100 grandes proprietários que detinham “dez vezes mais terras do que cem mil camponeses juntos”.
Muitas famílias campesinas que demandavam terras decidiam partir para Honduras (que “é quase seis vezes maior do que El Salvador” e possuía menos da metade da população deste país).
(...)
A imigração ocorria sem provocar alardes e, ao que tudo indica, Honduras fez “vista grossa”. Aos poucos se formaram vilarejos salvadorenhos nas áreas de fronteira... Informações dão conta de que sua população atingiu os trezentos mil habitantes. Apesar da precariedade, era certo que a maioria considerava que vivia muito melhor do que em seu país de origem.
Os problemas começaram durante a década de 1960, quando os camponeses de Honduras se organizaram para lutar por terras. O governo, também de latifundiários, fiel e “subserviente aos Estados Unidos”, realizou uma reforma agrária sem comprometer as vastas áreas de cultivo de bananas exploradas pela United Fruit. Assim, as terras visadas para o programa foram as que os salvadorenhos vinham ocupando.
Os imigrantes tiveram de retornar ao seu país, onde nada possuíam... Para complicar sua situação, o governo oligarca de El Salvador rejeitou-os. Evidentemente temiam-se distúrbios sociais no campo.
(...)
Aquela pobre e vulnerável gente ficou no meio da disputa entre os dois governos... A agressividade tornou-se a tônica e as duas partes passaram a praticar “uma campanha de ódio, calúnias e provocações”...
Não havia limites para os ataques... Uns chamavam os outros de “nazistas, pigmeus, bêbados, sádicos, bichos peçonhentos, provocadores, ladrões”... Enquanto isso vilarejos inteiros eram incendiados.
(...)
Os jogos eliminatórios para a Copa Mundial de Futebol que se realizaria no México ocorreram nesse clima tenso. Eles podem ser considerados a “gota d’água” que faltava para enlamear ainda mais a frágil relação entre as duas nações.
Kapuscinski destaca que um jogo para desempate foi realizado no México (3x2 para El Salvador)... Apenas para efeito de correção, e conforme está destacado em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/05/a-guerra-do-futebol-de-ryszard.html, vale destacar que as datas das três partidas são 8/junho/1969 (Tegucigalpa), 15/junho/1969 (San Salvador) e 26/junho/1969 (Cidade do México).
O último jogo havia sido marcado por forte presença policial... Cinco mil militares se posicionaram entre as duas torcidas. A “histeria patriótica” foi potencializada pela rivalidade notada nos campos de jogo e estendida para fora deles.
(...)
A guerra que se desencadeou (teve duração de 14 a 18 de julho) serviu apenas para “reforçar o poder das oligarquias nos dois países”.
Os salvadorenhos iniciaram as ofensivas... Como pudemos depreender, o confronto foi dos mais agressivos e resultou em prejuízos significativos, sobretudo para os mais pobres... O fim das hostilidades resultou em impasse, pois nada foi alterado na fronteira (imprecisa, se considerarmos as densas florestas localizadas em montanhas que eram objeto de litígio) entre os dois países.
Muitos salvadorenhos que haviam se instalado em terras hondurenhas retornaram ao seu país após o conflito... Porém houve quem quisesse permanecer onde havia se instalado.
Os latifundiários nada perderam...
Os governos dos dois países parecem ter saído satisfeitos, já que por alguns dias os “olhos do mundo” se voltaram para as pobres nações...
Parece que apenas nas ocasiões trágicas, quando “decidem derramar sangue”, atraem a atenção mundial.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas