De fato, a operação de resgate da jovem Aouda provocou um retardamento na viagem de Phileas Fogg. Ele não se importou com isso. Vimos que estava confiante nos registros e cálculos que vinha organizando.
Já o policial Fix ficou transtornado logo que chegou à estação de Calcutá e não o encontrou. Não tinha a quem falar a respeito de suas inquietações. Teria o ladrão escapado a partir de alguma localidade do trajeto?
Sentiu-se aliviado ao reconhecê-lo no desembarque da manhã daquele 25 de outubro. Evidentemente não entendeu a presença de sua acompanhante, mas o mais importante que tinha a fazer era acionar um policial local para interceptá-lo e conduzi-lo ao inquérito.
(...)
A grande preocupação que tomou conta de Passepartout (a
partir do momento em que teve noção de que a queixa se referia à confusão em
que se metera no templo de Bombaim) o impediu de notar que num dos cantos da
sala estava o conhecido policial.
O juiz solicitou o registro da confissão que o francês deixou escapar em
ata. Fix estava muito interessado pelo desenrolar dos fatos porque até o
momento não possuía nenhum mandado de prisão contra o seu suspeito.
Phileas Fogg respondeu que os fatos estavam
confessados. O juiz Obadiah proferiu a sentença destacando que a lei inglesa
protegia as religiões da Índia. O réu confesso Passepartout foi condenado a
quinze dias de prisão e mais trezentas libras por profanar o templo de Malebar
Hill.
O rapaz espantou-se com o valor da multa e protestou. No mesmo momento o
policial que os havia apanhado na estação ordenou que ele permanecesse em
silêncio.
Concluindo a sentença, o juiz anunciou que o patrão Phileas Fogg deveria
cumprir prisão por oito dias e pagar uma multa que correspondia à metade
daquela que foi imposta ao seu criado. O meritíssimo entendeu que não havia
provas de sua conivência para com as traquinagens de seu criado. Todavia deixou
claro que Fog era responsável direto “pelos gestos de seu servidor”.
Passepartout sentiu-se arrasado porque sabia que fora o responsável pelo
dano causado ao projeto de volta ao mundo de seu patrão.
Fix ouviu a tudo e sentiu-se satisfeito. Aquela punição vinha a calhar.
Durante os oito dias de detenção o mandato que tanto esperava chegaria.
(...)
Fogg permaneceu impassível.
Não esboçou reação.
No momento em que o
escrivão se preparava para dar início a outro caso, ele levantou-se e disse que
oferecia uma fiança.
O juiz Obadiah respondeu
que, de fato, ele tinha esse direito. Essas palavras trouxeram preocupação a
Fix. Mas voltou à confiança quando ouviu o valor exigido pelo magistrado. Devido
à condição de estrangeiros naquelas paragens, o valor estipulado foi calculado
em duas mil libras.
O que Fix não esperava era que o seu suspeito não vacilasse diante da
soma. Imediatamente manifestou que pagava a quantia e solicitou que
Passepartout lhe abrisse a bolsa que guardava as cédulas bancárias. Um pacote
dos mais vistosos foi colocado sobre a mesa do escrivão.
O juiz explicou que os
valores lhe seriam devolvidos tão logo se cumprisse o período de prisão
determinado pela sentença. Enquanto isso estavam livres.
(...)
Fogg apressou o seu criado, que sugeriu que lhe
devolvessem os sapatos.
Enquanto retomava os calçados, Passepartout disse que aquela restituição
saía por muito alto valor. Incluindo a multa, cada sapato saía por mais de mil
libras! E ainda por cima eles lhe apertavam os pés!
O patrão deu o braço à jovem Aouda. O criado que
estava deveras chateado por tudo o que acabavam de vivenciar seguiu logo atrás.
Fix tinha esperança de que
seu suspeito retornasse à cadeia para cumprir a pena para reaver o dinheiro,
mas não deixou de acompanhá-los a certa distância. Ele viu que o trio entrou
num carro.
O policial correu o mais que pôde até que os avistou
novamente num cais.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_14.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto