Faltava uma hora para a embarcação partir para Hong Kong.
O Rangoon (este era o nome do navio) estava a cerca de oitocentos metros. Ao longe podia-se ver a bandeira que dava conta que o momento de zarpar se aproximava.
Fix viu que Fogg, Passepartout e a jovem entraram numa canoa que os conduziu ao grande “vapor de ferro”. A embarcação pertencia à Companhia Peninsular e Oriental e era tão rápida quanto ao Mongólia, mas suas instalações não ofereciam o mesmo conforto.
O policial lamentou que o dinheiro roubado do Bank of England estivesse sendo gasto pelo suspeito. Duas mil libras desperdiçadas com a caução paga ao juiz Obadiah! Nem dava para acreditar numa coisa dessas. O pior era saber que no final sua recompensa seria menor por causa desse desfalque e de outros que certamente o excêntrico ladrão vinha fazendo.
Apesar disso, não lhe restava alternativa a não ser persegui-lo até o fim do mundo se isso fosse necessário.
(...)
Previa-se que as três mil e quinhentas milhas que
separavam Calcutá de Hong Kong seriam vencidas pelo Rangoon em uns onze ou doze
dias.
Apesar da precariedade, Fogg fez de tudo para que Aouda se sentisse bem
acomodada no navio. Ela não se importava com as condições e pouco exigia.
Estava profundamente agradecida por tudo o que lhe proporcionaram. Sem dúvida
isso facilitava as coisas.
Os primeiros dias de viagem foram de muitas oportunidades para que os
dois se falassem, assim Aouda pôde conhecer um pouco a respeito daquele que a
protegia. Ela não se cansava de manifestar seu reconhecimento, pois sentia que lhe
devia a vida.
De sua parte, Fogg não expressava nenhum sentimento. As palavras da
jovem pareciam não despertar nele nenhum tipo de emoção. Evidentemente isso a
deixava um tanto confusa. Ela nem sabia como reagir a cada vez que ele a
procurava para saber se não lhe faltava nada.
(...)
Aouda chegou a algumas conclusões em relação ao inglês. Ele era muito
educado, a respeitava, zelava por sua segurança e gostava de ouvi-la.
Foi Passepartout quem lhe
explicou a respeito da aposta e da viagem que seu patrão empreendia ao redor do
mundo. Assim ela soube que o homem se tratava de um tipo diferenciado.
Sentia-se feliz por tudo o que ocorrera, já que se não fosse aquela sua estranha
viagem certamente não estaria viva.
O francês gostou de saber
que a narrativa que o guia parse fez a respeito de Aouda era verdadeira. De fato,
ela pertencia àquele povo considerado superior entre os indianos. Muitos de
seus parentes haviam se enriquecido graças ao comércio de algodão possibilitado
pelos investimentos ingleses na região.
Ela contou que um de
seus parentes, certo James Jejeebhoy, prosperara tanto que foi agraciado com um
título de nobreza do governo inglês. Aliás, buscava encontrar em Hong Kong um
primo de James Jejeebhoy, o honrado Jejeeh.
(...)
Em seus desabafos deixava escapar a preocupação a respeito do destino.
Encontrariam Jejeeh logo que chegassem a Hong Kong? Receberia a assistência
necessária?
Phileas Fogg procurava tranquilizá-la.
Dizia-lhe que não adiantava se preocupar e que tudo se arranjaria como sempre
ocorre com as equações matemáticas.
Os grandes olhos de Aouda, “límpidos como os lagos
sagrados da Himalaia”, o fixavam de modo penetrante.
Mas o senhor Fogg era muito misterioso. E ao que tudo indica não era do
tipo que se lançava inadvertidamente “neste tipo de lago”.
(...)
As condições climáticas
eram das melhores e o Rangoon venceu o longo trecho da baía conhecida como “braços
de Bengala”.
Os mais experientes marinheiros diziam que a
primeira parte da travessia havia sido vencida.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_1.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto