quarta-feira, 19 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 4 de março de 1893; frutos maduros no pé de araçá da chácara; Helena conta à avó sobre os ensinamentos de tia Madge sobre “Educação” e “Economia”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_16.html antes de ler esta postagem:

Para os registros de 4 de março de 1893, Helena reservou um diálogo que ela teve com a sua avó naquele mesmo dia a respeito de suas visitas à tia Madge e sobre o que com ela podia aprender.
Ela conta que logo que chegou à chácara encontrou dona Teodora atenta aos afazeres das negras na confecção de velas de sebo. Como de costume, pediu a benção e a avó respondeu com o tradicional “Deus te abençoe”.
Na sequência, dona Teodora apontou para o pé de araçá e observou que os frutos estavam bem maduros. Ela queria que a sua neta preferida percebesse que já era tempo de aproveitá-los. Todos sabiam o quanto Helena gostava das árvores da chácara e como, mais do que ninguém, ela as conhecia e se esbaldava com os seus frutos.
A menina lembrou para a avó que na quinta-feira havia chegado à chácara bem tarde e por isso o pomar já estava às escuras. No dia anterior aos registros, 3 de março, ela não pudera visitar a avó. Dona Teodora sabia o motivo.
Helena estivera na casa de sua tia inglesa e jantou com ela. A esse respeito, a boa senhora comentou que achava muito bom que a neta visitasse Madge com regularidade, pois ela tinha muito a ensiná-la.
(...)
O que Helena aprendeu? A avó quis saber.
A garota respondeu que recebera muitas lições, principalmente de “Educação e de Economia”.
Em relação aos ensinamentos de Educação, Madge explicou sobre a “falta de educação dos outros”. Helena comentou com a avó que, ao falar da “falta de educação” manifestada pelas pessoas, a tia pretendia que a sua sobrinha evitasse “cuspir no chão”, “coçar a cabeça” quando estivesse numa sala com outras pessoas ou as interrompesse quando estivessem falando.
A tia inglesa ensinou que, também durante as refeições, era importante ter “bons modos”. Helena deu alguns exemplos à avó: não é correto “empurrar o prato” tirando-o de sua posição na mesa; depois de se tomar sopa, o certo é esperar que a criada retire o prato para voltar à refeição; não se deve palitar os dentes enquanto se está à mesa...
Dona Teodora ficou admirada de ouvir todo este aprendizado. Parabenizou a neta e disse que só faltava praticar os ensinamentos. Helena brincou que dificilmente isso ocorreria porque em casa era ela mesma que fazia o próprio prato direto no fogão e que o lavava após a refeição.
A avó brincou ao dizer que tudo aquilo devia ser praticado depois que ela se tornasse adulta. Helena manteve o mesmo tom de humor e respondeu que “até lá” teria se esquecido de tudo.
(...)
Dona Teodora quis saber a respeito dos ensinamentos de Economia transmitidos pela tia Madge. Helena respondeu que que ela era mesmo muito boa e que “nem seu Herculano” a pegava.
Ela havia lhe ensinado que sempre que fosse necessário ir à horta teria de mudar o sapato. Além disso, explicou que não era certo dormir com a roupa do dia-a-dia, e assim por diante.
Helena contou à avó que já era noite quando sua tia inglesa resolveu levá-la para casa. Disse que ela entrou na despensa e colocou um pingo de querosene na lamparina. Explicou que aquilo era suficiente para manter a luz na casa até que Marciana dormisse. Se colocasse mais seria desperdício porque a luz permaneceria acesa queimando querosene sem a menor necessidade.
Depois ela pegou três palitos de fósforos e os colocou numa caixa. A esse respeito a tia ensinou que um ou dois podiam falhar no momento de serem riscados, mas os três falharem não era possível. Era por isso que ela mantinha três palitos na caixa, nem mais nem menos.
(...)
Dona Teodora comentou que a tia Madge era mesmo extraordinária.
Mais uma vez disse que Helena podia aprender muito com ela.
Por fim comentou que não era por acaso que com os oitenta mil-réis que recebia pelo trabalho de professora vivia bem, sustentava a casa, as irmãs, e ainda podia convidar outras pessoas para jantar.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas