quinta-feira, 20 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – mais sobre os ensinamentos da tia Madge; os registros de 1º de junho de 1893; livros para a formação do caráter; com Samuel Smiles, Helena torna-se “poupadora”; dona Carolina procurou incentivar Renato a ler os mesmos livros

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_19.html antes de ler esta postagem:

A postagem anterior apresenta informações interessantes.
Vimos que nos registros de 4 de março de 1893, Helena escreveu sobre a conversa que teve com a avó a respeito dos ensinamentos transmitidos por sua tia Madge por ocasião da visita que lhe havia feito no dia anterior.
Antes de tratar especificamente desse assunto, ela descreveu os afazeres das agregadas de dona Teodora na chácara e fez breve comentário sobre o motivo de ainda não colher os araçás maduros.
(...)
Os ensinamentos de tia Madge à Helena nos levam a pensar um pouco sobre o que se ensinava aos mais novos, particularmente às meninas. Afinal, o que os adultos esperavam que elas soubessem?
As dicas da tia inglesa revelam sua preocupação de preparar as moças para uma conduta mais educada e mais cuidadosa em relação ao desperdício.
As pessoas educadas deviam saber conversar e como se comportar à mesa. Também deviam saber como “economizar” para que não viessem a passar necessidades no futuro.
(...)
Os registros de 1º de junho de 1893 nos revelam mais a respeito das orientações de Madge. Ela era professora e desejava que Helena também terminasse o Curso Normal para que um dia pudesse exercer o mesmo ofício com inteligência e autonomia.
Não era por acaso que ela providenciava leituras específicas para a sobrinha. Podemos notar que o “embasamento teórico” dava alguns resultados. E eles eram notados por todos da família.
É a própria Helena que admite que logo que aprendeu a ler recebeu da tia (que “só achava bom o que era inglês”) “O Poder da Vontade”.
Madge a fez ler inteiro para ela. Na sequência veio “O caráter”, livro que Helena teve de estudar para depois explicar todo o conteúdo à tia. Para a garota, os dois conteúdos se resumiam a “economia, correção e força de vontade”.
Em que esses livros contribuíram para a formação de Helena? De acordo com suas palavras, eles não serviram para nada. Não adquiriu mais bondade ou força de vontade do que a que já possuía e não mudou o caráter.
É claro que temos de considerar que essas conclusões são da época anterior ao aniversário de treze anos. Mesmo assim considerava-se madura para admitir que o seu único ganho talvez tivesse sido a leitura de Samuel Smiles*. Os textos dele a ajudaram a “ser poupada” e a guardar tudo o que tinha.

                  * autor da “era Vitoriana” de fins do século XIX que escrevia sobre grandes personagens ingleses, “feitos heroicos” e virtudes. Conhecido também por seus textos de “autoajuda”.

(...)
Helena deu um exemplo de sua conduta de “poupada” (ou “poupadora”).
Explicou que em casa cada um dos filhos possuía duas ou três galinhas. Seus irmãos não tinham paciência e faziam gemada ou assavam ovos na colher logo que suas aves botavam. Mas ela adotou procedimento diferente desde que lera os livros fornecidos pela tia. Passou a juntar os ovos de suas galinhas e os vendia sempre que completava uma dúzia.
Foi dessa maneira que ela conseguiu comprar uma escova de dentes, um par de meias...
E não é só isso! Normalmente a avó os presenteava com queijos e doces feitos na chácara. No mesmo dia seus irmãos comiam toda a parte que lhes cabia. Helena guardava e comia aos poucos. Então todos notaram que ela sempre tinha um pouco para repartir com os demais.
Certa vez seu Alexandre mandou uma caixa de mangabas da Boa Vista. Os filhos repartiram e cada um ficou com o seu bocado. Mas aconteceu que os irmãos comeram as suas e passaram a furtar algumas que Helena havia guardado.
Isso a fez pensar que eles acabavam se saindo bem em todas as situações apesar de não serem precavidos como ela.
(...)
Dona Carolina gostou tanto dos procedimentos adotados por Helena que visitou a tia Madge para que ela emprestasse os mesmos livros para Renato.
O rapaz começou, mas não finalizou um capítulo sequer. A mãe insistiu com ele, pois assim ele se tornaria poupador como Helena. Renato respondeu que “os dedos das mãos não são iguais” e com isso quis dizer que não era como a irmã.
Ele comentou que Helena até parecia filha do tal Smiles. Ela leu o livro e decorou tudo! Este não era o caso dele. Ele não gostava de ler. E se gostasse não perderia tempo com Samuel Smiles!
De acordo com Helena, o irmão disse que “leria Júlio Verne, que é muito melhor e mais divertido”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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