Mesmo contra a vontade, Helena seguiu para a escola da tia Madge no segundo dia, um sábado. Dona Carolina deu a ideia de fazerem os “queimados” para incentivar os alunos a permanecerem bem comportados.
Mas logo que chegou, a menina percebeu que não seria nada fácil mantê-los em ordem.
Vimos que ela fez um discurso duro... Explicou que tinha conversado com a “mestra Madge”, e que ela havia orientado que os indisciplinados deviam ser punidos exemplarmente. Conforme a gravidade do caso permaneceriam presos na escola até à noite.
Sabemos que suas palavras tinham o objetivo de assustá-los. Mas era evidente que ela não esperava chegar ao ponto de prendê-los. E é por isso que também disse aos meninos que havia trazido os caramelos para premiar os que se comportassem melhor.
Mas vimos que os alunos não deram importância às advertências. Em vez de preocupação, demonstraram-se mais debochados e riram das palavras da substituta.
(...)
Helena
tinha certeza de que se começasse com o hino a bagunça do dia anterior se
repetiria. Decidiu pular essa parte e entregou os cadernos para que fizessem
registros escritos.
Mas não demorou e a
baderna se reiniciou. Uma das crianças gritou que o Tonico estava atrapalhando
e “borrando a sua escrita”... Outro protestou ao dizer que o Chico
empurrava-lhe o braço... Também o João apoquentava um colega.
O
desânimo foi tomando conta de Helena... Não teve mais ânimo nem mesmo para
adverti-los verbalmente. Aos poucos os cadernos sujos de borras, desordenados e
mal escritos chegaram à sua mesa.
De repente alguém
gritou à “mestra” que o Juquinha estava tramando com outros para furtar os “queimados”.
(...)
As provocações
prosseguiram.
De todas as carteiras
a chamavam para que ela se deslocasse. No fim das contas todos sabiam que não
havia a menor necessidade de incomodá-la.
Um dos maiores pediu
a “tabuinha” e se retirou para o quintal. Assim que saiu, ele soltou um grito e
atirou-se ao chão... Helena se assustou e correu ao seu encontro, mas, no mesmo
instante em que ela se abaixou para prestar auxílio, o tipo levantou-se soltando
uma gargalhada.
Quando Helena retornou à sala, viu que não havia mais caramelos. Aquilo
foi como que a “gota d’água”. Notando que não tinha mais condições de fazer
nada, retirou-se da escola e correu para a casa de Zinha, que não era longe
dali.
(...)
Logo que foi recebida, Helena perguntou se ela estava adoentada. Zinha
respondeu que não... Então só podia haver um mal entendido porque a tia Madge
afirmara que a moça estava impossibilitada de substituí-la por motivo de saúde.
Pelo visto, Zinha dissera que estava doente
apenas para ficar livre da substituição. Helena pediu-lhe encarecidamente para
que assumisse as aulas.
Zinha entendeu que a
garota só podia enlouquecer numa situação como aquela. Era certo que não tinha
a menor estrutura para aguentar aquelas “pestes de inferno”.
Do ponto de vista de Zinha, nem dava para acreditar que a dona Madge
fosse capaz de colocar a sobrinha numa enrascada daquelas... Era muita maldade!
Zinha explicou que também ela não tinha condições de lidar com aqueles “demônios”
e por isso dissera que não estava bem de saúde.
Helena
pediu para que a acompanhasse até a escola... Pelo menos para ensiná-la a
proceder mais adequadamente.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/06/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_24.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto