Era inevitável... Tudo indicava que o momento do duelo havia chegado.
Tudo muito simples. As testemunhas trancaram o vagão onde ninguém, além dos dois contendores, teve permissão de ficar.
A locomotiva apitaria, e este seria o sinal que daria início à troca de tiros. Depois...
Depois as testemunhas entrariam no compartimento “para remover os restos dos dois cavalheiros”...
Por motivos diferentes, Passepartout e Fix sentiam o coração disparar.
(...)
Para
os que se posicionaram fora do vagão, não havia mais o que fazer. Era esperar o
apito do trem e a saraivada de tiros que ocorreria a seguir.
Mas o trem não
apitou... Em vez disso, ouviu-se uma “gritaria infernal”... Além dos gritos de
pânico, ouviam-se disparos que não vinham do vagão dos duelistas.
Deu para notar que os
tiros partiam do trem, que também estava sendo alvo de balaços. Proctor e Fogg
retiraram-se do vagão que havia sido reservado para eles. Os dois tinham suas
armas em punho e se encaminharam diretamente para a locomotiva, que era o local
onde as detonações estavam ocorrendo.
(...)
Acontece que
guerreiros sioux atacavam a composição... Verne os chama de “insolentes”
habituados a interromper o curso dos comboios que passavam pela região... O
trem estava em pleno movimento e os índios lançavam-se de seus cavalos com
rifles para cima dos vagões... Pareciam “malabaristas de circo”.
O barulho era
ensurdecedor também porque os passageiros (praticamente todos eles) revidavam
os disparos.
No início de seu ataque, os guerreiros sioux invadiram a locomotiva e
desferiram golpes de porretes nas cabeças dos maquinistas e do foguista... Os
dois desmaiaram enquanto um dos índios passou a manipular o manete. Sua
intenção era a de parar a composição, mas, em vez disso, abriu totalmente a
entrada de vapor, e a fez acelerar ainda mais.
Foi por isso que o trem passou a desenvolver velocidade maior. Os índios
que haviam pulado sobre os tetos dos vagões realizavam manobras incríveis
(Verne os compara a “macacos enfurecidos”, e isso denota mais uma vez a sua
visão etnocêntrica). Eles arrombavam portas e atracavam-se com os passageiros.
Alguns deles assaltaram o compartimento das bagagens e arremessaram malotes e
outros volumes para fora.
(...)
Como os passageiros não estavam dispostos a
perder suas bagagens, o confronto tornou-se acirrado...
O trem estava
desenvolvendo uma velocidade espetacular. Certamente passava dos cento e
cinquenta quilômetros por hora. Mesmo assim, nos vários vagões ocorriam
conflitos corpo a corpo.
A jovem Aouda mais uma vez demonstrou destemor. Diante da ameaça sioux,
pegou um revólver e o disparou contra índios que haviam saltado de seus cavalos
e que tentavam entrar nos vagões pelas janelas.
Uns
vinte sioux foram atingidos por balaços disparados pelos passageiros. Os que
não morriam por causa dos tiros terminavam esmagados pelas rodas dos vagões.
Também entre os passageiros contavam-se baixas significativas. Muitos deles
haviam sido atingidos por balas ou porretes e estavam fora de combate.
O maior problema para
os passageiros talvez fosse o descontrole do trem... À toda velocidade, a
composição passaria direto pela estação do forte Kearney... Ali estava
instalado um destacamento americano que certamente colocaria fim ao assalto
indígena.
(...)
Fogg combatia ao lado do condutor... De repente o funcionário caiu ao
ser atingido por um balaço. Antes de desmaiar, o homem teve o cuidado de
alertar o inglês sobre a necessidade de parar o trem em cinco minutos.
Se
não fizessem isso estariam perdidos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_30.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto