domingo, 9 de julho de 2017

“A Volta ao Mundo em Oitenta Dias”, de Júlio Verne – da “Coleção eu Leio” – Forsters, o maquinista disposto a ultrapassar o desfiladeiro com a aprovação dos destemidos passageiros; Proctor e a defesa da arriscada proposta; Passepartout não consegue sugerir o razoável aos demais; louca travessia e destruição da ponte do Medicine Creek

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_9.html antes de ler esta postagem:

Cabisbaixo, Passepartout seguiu para o vagão. Pensava que teria de interromper o jogo de cartas que tanto era apreciado por Fogg. Teria de dizer-lhe que estavam a vinte quilômetros da próxima estação, teriam de fazer o percurso a pé... Certamente a viagem de “volta ao mundo em oitenta dias” estava comprometida de vez.
Mas no momento em que estava para entrar no trem, o francês ouviu o maquinista dizer a alta voz para que todos ao seu redor escutassem que talvez houvesse um modo de passar.
O homem era um típico ianque e se chamava Forster... As pessoas perguntaram se podiam passar com o trem... O coronel Proctor foi incisivo e quis saber se passariam com aquele trem no qual viajavam...
Forster respondeu afirmativamente a todas as questões que levantaram. Isso fez Passepartout parar e a prestar atenção ao debate que se iniciava. O condutor advertiu que a ponte estava para cair... Então o maquinista respondeu que aquilo não importava.
Em sua opinião, se imprimissem alta velocidade à composição, teriam chance de ultrapassar o perigoso obstáculo.
Passepartout arrepiou-se sem poder acreditar na seriedade do que estava ouvindo... Assustou-se ainda mais ao notar que vários passageiros se interessaram pela ideia de Forster. E o mais entusiasmado era o coronel Proctor!
O coronel passou a dizer que o maquinista tinha razão... Ele lembrou que não poucos engenheiros diziam que os rios podiam ser vencidos sem as pontes desde que os trens atingissem toda velocidade possível.
(...)
Não demorou e os demais passageiros presentes à assembleia improvisada começaram a dar suas opiniões a respeito da arriscada manobra... Uns achavam que tinham cinquenta por cento de chance... Outros foram bem mais otimistas e chegaram a dizer que tinham noventa por cento de chance!
(...)
Passepartout estava interessado no projeto que discutiam... Entendia que tinham mesmo de tentar ultrapassar o Medicine Creek, mas pensava até que ponto podiam se arriscar na tentativa ao “modo americano”.
De repente ousou dizer que havia algo simples que ninguém estava pensando... Chegou perto de um dos viajantes e começou a falar da arrojada proposta do maquinista e ia acrescentar algo quando o tipo o interrompeu sentenciando que a probabilidade de se saírem bem era de oitenta por cento. O tipo disse isso e virou-lhe as costas.
O francês aproximou-se de outro e começou a dizer que propunha uma simples reflexão... Este também antecipou-se a contrariá-lo falando que não era caso para reflexões, pois o maquinista havia afirmado que a composição passaria.
Passepartout concordou... A composição podia passar, mas quando ia acrescentando sua observação sobre o que seria “mais prudente” foi interrompido pelo coronel Proctor que deu um salto ao ouvi-lo.
O homem vociferou que o caso não era para “prudência”... Tudo o que o maquinista tinha a fazer era imprimir toda velocidade possível à locomotiva... Será que o rapaz podia compreender?
Passepartout respondeu que compreendia... Mas tinha a acrescentar que não era no sentido de desanimar que falava sobre “prudência”... Havia algo que lhe parecia “natural”, mas parece que ninguém queria ouvi-lo.
Perguntaram o que ele queria dizer com “natural”... Proctor perguntou se ele estava com medo... Passepartout deu a entender que não era este o caso, mas não insistiu em fazê-los ouvir o que estava pensando.
Decidiu pensar que podia mostrar que era um francês que “podia ser tão americano” quanto todos os que ali estavam.
(...)
Logo o condutor passou a gritar que todos deviam voltar para o trem... Passepartout concordou sem pestanejar.
Os passageiros estavam confiantes... Pelo menos não demonstravam outro tipo de sentimento enquanto retornavam aos seus vagões.
O que Passepartout achava mais “natural” e que não teve chance de expor?
Ele considerava que os passageiros deviam passar a pé pela ponte... Esperariam o trem do outro lado do desfiladeiro.
O francês não deixou de pensar que tinha razão... E nós sabemos que se os demais o tivessem escutado também entenderiam que ele estava certo.
(...)
De volta ao trem, Passepartout não disse nada do que havia se passado aos jogadores de uíste. Eles estavam compenetrados demais.
Na sequência, o trem apitou... O maquinista fez com que a composição recuasse nos trilhos por mais de um quilômetro. Depois novo apito foi soprado e iniciou-se uma espetacular aceleração.
Uma espessa fumaça desprendeu-se das rodas... A velocidade aumentou assustadoramente e logo atingiu os cento e cinquenta quilômetros por hora... Assim, aquele monstro tornou-se leve e “como um relâmpago” passou pela ponte danificada.
A velocidade era tanta que o maquinista não conseguiu frear a composição... Ela só parou oito quilômetros depois de passar pela estação.
O que nem todos os passageiros ficaram sabendo é que, depois que o trem passou pela ponte, ela ruiu e caiu provocando estrondo tremendo no desfiladeiro de Medicine Bow.
Leia: A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas