Os registros de 26 de agosto de 1895 (uma segunda-feira) dão conta dos graves problemas de saúde que dona Teodora, a avó de Helena, passou a enfrentar.
(...)
A menina explica que
no sábado anterior aconteceu de encontrar a escola ainda fechada às seis e meia
da manhã. A situação era algo rara porque normalmente Helena era das últimas a
chegar.
Esforçou-se para chegar mais cedo e por isso sequer tomou café antes de
sair de casa. Helena decidiu que tinha tempo para uma visita à avó... Seria
ocasião para desejar-lhe um bom dia, tomar café e trocar breves palavras.
Logo
que entrou, viu que algo estranho estava acontecendo... Dona Teodora não estava
lidando com os afazeres do cotidiano, mas estava sentada na cama e com ares de
muito cansaço. Ela foi dizendo que estava rezando para que Helena aparecesse.
Pediu que ela tomasse café e se dirigisse imediatamente à casa do doutor
Alexandre.
A mulher não estava
nada bem e disse à Helena que trouxesse o doutor o mais rápido possível. Nem
adiantava ir à casa do doutor Teles, que habitualmente a atendia, pois ele
estava “no Mendanha”.
Helena
ficou assustada. Saiu sem tomar café e seguiu em disparada para a casa do
doutor. Ele estava de saída, mas ela o convenceu a ir à casa de dona Teodora.
A boa mulher não
principiou a falar com o médico enquanto a neta (a quem chamava de “braço
direito”) não entrasse para tomar o café.
(...)
Desde aquele dia a
saúde da avó de Helena piorou muito.
Dona Carolina e as
demais filhas de dona Teodora se mobilizaram em torno dela.
Helena registrou a
este respeito destacando que sua mãe (dona Carolina) e mais as tias Agostinha e
Carlota até estavam dormindo na casa. A tia Aurélia também passava o dia com as
irmãs, mas em momentos específicos retornava à sua casa (que não era longe)
para dar o almoço (10:00), jantar (16:00) e chá (21:00) ao tio Conrado.
Sobre esse rigor nos horários, Helena não deixou de observar que todos
comentavam o quanto o tio Conrado havia disciplinado a esposa que, quando
solteira, era das “mais geniosas e pirracentas” da família.
(...)
Dona Teodora já estivera doente anteriormente (1891 ou 1892), quando
passou por uma cirurgia na bexiga e retirou uma “pedra do tamanho de um ovo”. O
doutor Felício dos Santos visitou a família em Diamantina especialmente para tratá-la.
Helena conta o quanto se sentiu feliz com o
sucesso da operação... Desde então passou a entender o quanto dona Teodora era
importante para ela.
(...)
A menina escreveu que
já havia feito muitas promessas pedindo a Deus que a avó sarasse... Não se importava
de ter de cumpri-las...
Sem
entrar em detalhes a respeito dessas promessas, ela destaca que podia ser que a
própria dona Teodora sentisse pena dela por causa dos tantos sacrifícios a que
se submeteria.
Não importava mesmo! Helena acreditava que a avó se recuperasse porque
era uma mulher forte. Além disso, ouvira dizer que muitos foram curados de
pneumonia (ela não esclarece, mas ao que tudo indica este era o problema de
saúde de dona Teodora) porque iniciaram o tratamento imediatamente.
Deus
não tiraria uma avó “tão boa e caridosa para todos”. Helena confiava... Eram
muitas orações na família... A família era imensa! E também havia as negras!
Todos rezando o dia inteiro! Muitas velas acesas nos altares...
Os dias eram assim...
Todos ao redor de dona Teodora. Também Helena passou a viver na casa. Mesmo
doente, a mulher insistia para que ela comparecesse à escola regularmente e também
que não deixasse de cumprir as tarefas escolares no quarto logo que retornasse...
(...)
Mas Helena só tinha pensamentos para a querida avó... Não tinha como se
concentrar nos estudos e, quando se trancava no quarto, o máximo que conseguia era
escrever sobre suas angústias em seu diário.
Antes
de sair para a escola (e também quando voltava) passava pelo quarto da avó para
beijar-lhe as mãos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_11.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto