segunda-feira, 17 de julho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 14 de novembro de 1895; convivendo com as tias na casa da Rua Direita; os irmãos discutem o inventário; sobre a “colação” dos bens que dona Teodora havia passado em vida à mãe de Helena; postura passiva de seu Alexandre; a ira de Iaiá

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_14.html antes de ler esta postagem:

Depois da morte da avó, uma das tias de Helena, Dindinha, insistiu para que dona Carolina se mudasse para a grande casa da Rua Direita, onde dona Teodora passou o final da vida.
A mãe de Helena concordou, pois a casa era mesmo muito grande para Dindinha e Iaiá... Com a mudança elas passariam a ter mais companhia. Dona Carolina também considerou a proximidade da escola dos filhos e a oportunidade de se unir aos irmãos e irmãs que residiam na vizinhança.
Com a mudança, a casa da Cavalhada (o antigo endereço da família de Helena) foi alugada para o comandante das tropas do quartel, que ficava bem perto.
(...)
No começo tudo parecia ir muito bem. Os filhos e filhas de dona Teodora passaram a se reunir com frequência na casa. Aos poucos conseguiram suportar de modo satisfatório a dor provocada pela morte da boa mulher. A paz parecia reinar entre os irmãos.
Mas chegou o momento de tratarem do inventário e então as desavenças afloraram. Helena destaca que até ficava com medo de imaginar que a avó tivesse como saber do que estava acontecendo com os seus filhos por causa do dinheiro e propriedades que ela havia deixado.
Os tios tornaram-se irreconhecíveis! Iaiá, conhecida por sua sensibilidade e leitura das obras clássicas da literatura, tornou-se uma “demônia” depois que passou a tratar da herança. Sua intolerância levou Helena a concordar com a mãe, que sempre lhe disse que “dinheiro traz infelicidade”.
A menina notou que também dona Carolina mudou por causa da disputa que se estabeleceu... De um momento para outro ela passou a defender com afinco a parte que considerava sua “por direito”.
(...)
O caso é que Iaiá e o tio Geraldo insistiam que Carolina agregasse ao inventário brilhantes, “escravas” e outras coisas que a mãe lhe dera em vida... Helena não conseguia entender os termos que eram citados nas conversas, sobretudo o que se referia à “colação”.
Em poucas palavras, os tios de Helena pretendiam que os bens repassados por dona Teodora à dona Carolina teriam de ser relacionados ao patrimônio a ser repartido entre os herdeiros. De modo simplificado, aqueles itens não pertenciam plenamente à mãe de Helena... Os irmãos alegavam que eles foram de seu “usufruto” enquanto dona Teodora viveu.
Seu Alexandre não se envolvia naquela discussão... Dona Carolina ficava contrariada com isso, pois achava que ele devia protestar em “favor dos interesses da família”. Helena afirma que o pai apenas assistia à briga como se fosse um S. Francisco de Assis.
Nos registros de 14 de novembro de 1895, uma quinta-feira, a menina explica que as discussões levaram sua mãe a buscar um pouco de sossego no Rio Grande... Passaram o dia no campo e só retornaram no começo da noite.
(...)
Helena conta que resolveu entrar no quarto onde as tias conversavam... Novamente era sobre a herança que discutiam. Ela entendeu que o assunto ali girava em torno de conseguirem “tomar o dinheiro a que sua mãe tinha direito”.
A garota resolveu se intrometer em defesa de dona Carolina... Tia Iaiá irritou-se e chamou-a de “lombriga solitária”... Na sequência ameaçou dar-lhe uma surra de chicote.
A reação de Helena foi imediata... Correu e contou à mãe sobre o que havia presenciado.
Dona Carolina foi ter com a irmã... As duas discutiram aos gritos.
A noite foi terrível... As irmãs não se entenderam... Dona Carolina se trancou no quarto com os filhos... Iaiá demorou-se ainda do lado de fora, berrando e socando a porta como se quisesse derrubá-la.
(...)
No final de sua redação, Helena sentencia que a vida estava um inferno. Sentia-se aliviada por saber que o comandante do quartel havia aceitado devolver a casa que tinha alugado.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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