sábado, 25 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – percorrendo o acampamento dos que buscavam a Páscoa em Jerusalém; alojamentos, negociantes e afazeres de homens e mulheres; avistando Sião e o templo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_23.html antes de ler esta postagem:

A respeito do acampamento alcançado por Teodorico e Topsius pode-se dizer que as instalações eram as mais diversas...
Os que vinham do deserto erguiam tendas negras feitas de pele de carneiro... Os que chegavam da Idumeia montavam barracas de lona... Os de Áscalon tinham “cabanas armadas com ramos”, enquanto os que haviam partido de Neftali armavam varas de cedro sobre as quais estiravam tapetes.
A concentração de peregrinos era oportunidade que os negociantes dos mais diversos artigos não perdiam. É por isso que entre os acampados viam-se “mercadores gregos da Decápola, tecelões fenícios de Tiberíade, e a gente pagã que, através da Samaria, vinha dos lados de Cesareia e do mar”.
(...)
Foi com dificuldade que Teodorico e Topsius percorreram o grande acampamento...
Sob as oliveiras notaram grande quantidade de camelos e éguas descansando da longa travessia e transporte de peregrinos e tralhas.
Através de uma ou outra fresta das tendas e barracas, os dois reconheciam armas, utensílios e outros acessórios indispensáveis aos viajantes.
Junto às armações, moças moíam grãos de centeio... Outras ordenhavam cabras, cuidavam do fogo e dos filhos. Muitas desciam enfileiradas à fonte de Siloé...
Os homens aglomeravam-se ao redor de negociantes. Eles notavam a passagem dos dois europeus... Estranhavam sua vestimenta, achavam graça dos óculos de Topsius e riam de seus modos.
(...)
O movimento era intenso... Muitos mendigos posicionavam-se em árvores. Expunham suas chagas e os cacos que usavam para raspá-las. Dessa forma esperavam obter a compaixão e as esmolas dos peregrinos.
Cansados e com fome, muitos reuniam-se em torno das refeições preparadas pelas mulheres... As frutas eram disputadas... Falava-se de tudo nas rodas... Um velho de Siquém postou-se em frente de sua cabana armada com ramos e passou a fazer proselitismo do vinho fresco que trouxera.
Um pastor que se movimentava graças a muletas conduzia seu rebanho de brancos cordeiros. Ele tocava uma barulhenta buzina para chamar a atenção de todos os que pretendessem comprar “o anho puro da Páscoa”.
Toda essa movimentação era vigiada de perto por soldados romanos... Eles podiam ser vistos por todos os lados com seus capacetes ornados com ramos de oliveira... Caminhavam aos pares entre o povaréu com ares de quem quer prestar auxílio.
(...)
O anteriormente exposto pretende dar uma ideia da passagem de Teodorico e Topsius pela multidão que acorria a Jerusalém por ocasião da Páscoa.
Enfim avistaram a cidade depois que se aproximaram de duas gigantescas árvores. Inúmeras pombas brancas revoaram os “frondosos cedros” assim que os dois se chegaram... Da elevada altitude puderam contemplar a cidade iluminada pelos raios solares da manhã. Emocionados, os companheiros reagiram abrindo os braços.
Viram a grande muralha, suas torres, portas bem trabalhadas e os detalhes em ouro. A secura do mês de Nizam repercutia na vegetação à sua volta... De modo simplificado, a muralha cercava o Sião e estendia-se para os lados “de Hínon e até aos cerros de Garebe”.
A visão que tiveram do templo era das mais espetaculares... Dava a impressão de que a grande construção (com seus “alicerces eternos”, granitos e “bastiões de mármore”) dominava toda a Judeia... Qualquer estrangeiro concluiria que o local só podia ser sagrado (uma cidadela de um deus) para o povo local.
(...)
Do alto de sua montaria, Topsius apontou para o “Pátio dos Gentílicos” de piso liso e límpido como a água das piscinas... O local era tão vasto que podia abrigar “todas as multidões de Israel” e mais as das terras pagãs... Enormes colunas de mármore do entorno formavam “os pórticos de Salomão”.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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