A respeito do acampamento alcançado por Teodorico e Topsius pode-se dizer que as instalações eram as mais diversas...
Os que vinham do deserto erguiam tendas negras feitas de pele de carneiro... Os que chegavam da Idumeia montavam barracas de lona... Os de Áscalon tinham “cabanas armadas com ramos”, enquanto os que haviam partido de Neftali armavam varas de cedro sobre as quais estiravam tapetes.
A concentração de peregrinos era oportunidade que os negociantes dos mais diversos artigos não perdiam. É por isso que entre os acampados viam-se “mercadores gregos da Decápola, tecelões fenícios de Tiberíade, e a gente pagã que, através da Samaria, vinha dos lados de Cesareia e do mar”.
(...)
Foi
com dificuldade que Teodorico e Topsius percorreram o grande acampamento...
Sob as oliveiras
notaram grande quantidade de camelos e éguas descansando da longa travessia e
transporte de peregrinos e tralhas.
Através
de uma ou outra fresta das tendas e barracas, os dois reconheciam armas,
utensílios e outros acessórios indispensáveis aos viajantes.
Junto às armações,
moças moíam grãos de centeio... Outras ordenhavam cabras, cuidavam do fogo e
dos filhos. Muitas desciam enfileiradas à fonte de Siloé...
Os homens
aglomeravam-se ao redor de negociantes. Eles notavam a passagem dos dois europeus...
Estranhavam sua vestimenta, achavam graça dos óculos de Topsius e riam de seus
modos.
(...)
O movimento era intenso...
Muitos mendigos posicionavam-se em árvores. Expunham suas chagas e os cacos que
usavam para raspá-las. Dessa forma esperavam obter a compaixão e as esmolas dos
peregrinos.
Cansados e com fome,
muitos reuniam-se em torno das refeições preparadas pelas mulheres... As frutas
eram disputadas... Falava-se de tudo nas rodas... Um velho de Siquém postou-se em
frente de sua cabana armada com ramos e passou a fazer proselitismo do vinho
fresco que trouxera.
Um pastor que se movimentava graças a muletas conduzia seu rebanho de
brancos cordeiros. Ele tocava uma barulhenta buzina para chamar a atenção de
todos os que pretendessem comprar “o anho puro da Páscoa”.
Toda essa movimentação era vigiada de perto por soldados romanos... Eles
podiam ser vistos por todos os lados com seus capacetes ornados com ramos de
oliveira... Caminhavam aos pares entre o povaréu com ares de quem quer prestar
auxílio.
(...)
O anteriormente exposto pretende dar uma ideia
da passagem de Teodorico e Topsius pela multidão que acorria a Jerusalém por
ocasião da Páscoa.
Enfim avistaram a
cidade depois que se aproximaram de duas gigantescas árvores. Inúmeras pombas
brancas revoaram os “frondosos cedros” assim que os dois se chegaram... Da elevada
altitude puderam contemplar a cidade iluminada pelos raios solares da manhã. Emocionados,
os companheiros reagiram abrindo os braços.
Viram a grande muralha, suas torres, portas bem trabalhadas e os
detalhes em ouro. A secura do mês de Nizam repercutia na vegetação à sua
volta... De modo simplificado, a muralha cercava o Sião e estendia-se para os
lados “de Hínon e até aos cerros de Garebe”.
A visão que tiveram
do templo era das mais espetaculares... Dava a impressão de que a grande
construção (com seus “alicerces eternos”, granitos e “bastiões de mármore”) dominava
toda a Judeia... Qualquer estrangeiro concluiria que o local só podia ser
sagrado (uma cidadela de um deus) para o povo local.
(...)
Do
alto de sua montaria, Topsius apontou para o “Pátio dos Gentílicos” de piso
liso e límpido como a água das piscinas... O local era tão vasto que podia
abrigar “todas as multidões de Israel” e mais as das terras pagãs... Enormes
colunas de mármore do entorno formavam “os pórticos de Salomão”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_28.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto