Você há de concordar...
Os causos do Calundú e do “Madurêra” são assustadores e típicos do folclore sertanejo e vaqueiro.
Também os vaqueiros se tornaram figuras folclóricas... O seu modo de ser, pensar, falar, se vestir e lidar com a boiada ficaram no passado...
E fazem parte do arcabouço cultural de nossa gente.
(...)
O
Major Saulo exclamou que faltava bem pouco para chegarem... Desde o alto onde
se encontravam já podiam avistar o arraial e sua igrejinha toda branca no cimo
do morro... Lá estavam “as casas, da Rua de Baixo e da Rua de Cima; e a estação
com os trens parados, no meio da fumaça das locomotivas”.
Por fim o patrão
comentou que ao que parecia tudo estava nos conformes e chegariam bem com todo
o gado. A respeito da conversa sobre Badú e Silvino, ele disse que concordava
com Raimundo... Aquela rixa não daria em nada! Prova disso era o fato de tudo
ter acabado em risada após a topada de Badú com o zebu enlouquecido.
Raimundo confirmou que todos haviam levado na brincadeira.
O
major quis saber se Silvino respeitava o irmão dele (o Tote)... O vaqueiro
respondeu que pelo menos até o dia anterior aquilo era uma verdade. Mas no
momento não tinha certeza porque os dois estavam sem se falar por causa de uma
discussão.
Discussão? O Major
Saulo perguntou, pois tinha interesse de tirar uma conclusão definitiva sobre
os temores de alardeados por Francolim. Raimundo não sabia os motivos, mas
sugeriu que talvez fosse por causa de um dinheiro que Tote devia ao irmão.
O patrão deu a
entender que ficou satisfeito com o que ouviu... Ele sorriu como sempre fazia
nessas ocasiões e disse que estava “direito”, “tudo em ordem”.
(...)
Não havia mais o que
especular a respeito das intrigas entre Badú e Silvino...
O Major Saulo disse a
Raimundo que sua companhia e prosa tinham sido muito boas. Então o vaqueiro
podia se adiantar para assumir posição na dianteira da tropa e logo que
chegasse ao João Manico devia dizer-lhe que estava sendo chamado pelo patrão
para que sua montaria fosse destrocada com a de Francolim.
O “imediato” foi o primeiro a chegar com o Sete-de-Ouros... O burrinho
deu o ar da graça sem que se notasse cansaço em suas passadas, e obviamente
totalmente alheio à falação do homem que estava carregando.
O major foi dizendo que precisava saber se ele prestava “atenção nas
coisas” que envolviam o trabalho de liderar a condução da boiada pela estrada.
Francolim vivia se colocando como “homem de sua confiança”, então era
necessário saber se, de fato, era assim mesmo.
Depois o major perguntou se ele sabia o que o
vaqueiro Silvino levava de bagagem. O rapaz respondeu que o outro levava a
patrona (cartucheira ou sacola de couro) cheia e mais um saco carregado até a
metade na garupa. No capote, Silvino havia enrolado outras tranqueiras que ele
não podia adivinhar... Mas acrescentou que se o patrão quisesse era só mandá-lo
para junto do encrenqueiro para uma breve sondagem.
O Major Saulo
garantiu que não havia necessidade de maiores incômodos. Na sequência chegou
João Manico, que recebeu a ordem para destrocar a montaria. O patrão brincou
dizendo-lhe que era preciso ter paciência e que “este burrinho é hoje só”.
Francolim tratou de ajeitar o gorro antes de retomar o cavalo que estava
com o Manico. Mais uma vez o major fez gracejos sobre as manias de seu
“imediato”, pediu para ele se apressar e posicionar-se ao seu lado, pois logo
entrariam no arraial e todo o povo saberia quem era o “secretário” do
fazendeiro.
(...)
A
tropa passou pela ponte que atravessava o ribeirão...
Primeiro o subúrbio e
seus casebres miseráveis... Lavadeiras carregando trouxas de roupas na cabeça
se assustaram e saíram às carreiras tal como as formigas lava-pés ao perceberem
o formigueiro sendo atacado.
Foi
nesse momento que o major confidenciou ao Francolim que não voltaria à fazenda,
pois permaneceria no arraial com a família... Sendo assim, esperava que ele
liderasse os demais vaqueiros no retorno à Tampa... O patrão estava
transferindo sua autoridade para “a algibeira” do “imediato”. Mas aquilo devia
ficar entre os dois.
O Major Saulo
salientou que Francolim devia permanecer de “boca fechada” a respeito da ordem
dada. O rapaz garantiu que a palavra de seu patrão era lei e ele a cumpriria
nem que tivesse de morrer.
(...)
A boiada seguiu pelo
beco... Tchou... Tchou... Tchou...
Leofredo recontou os
animais... Não faltava nenhum...
(...)
O Major Saulo tinha
mais a dizer ao Francolim...
Ele devia vigiar o Silvino o tempo todo... Depois de tudo o que ouvira,
o major tinha certeza de que o rapaz tentaria matar Badú e depois escapar.
Enfatizou que os dois deviam ser vigiados... E para mais deixá-lo alerta
exclamou:
“Não
perde os dois de olho, Francolim Ferreira!”
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_89.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto