domingo, 24 de junho de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir. Henri procura convencer Paule a "ocupar" melhor os seus dias; ele mesmo não sabe como encaminhar as próprias tarefas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Henri Perron despertara de sua noite de inquietações sobre os rumos que deveria tomar em seus projetos de intelectual engajado. Paule preparou-lhe um café da manhã digno. Flores estavam dispostas sobre a mesa. Ela ajeitava as fotografias que ele trouxera de Portugal num antigo álbum... Nadine aparecia em várias.
A entrevista que Henri concedeu à repórter de Lendemain já havia sido publicada... Paule parecia lamentar a publicação, pois o casal resolveu no passado que Henri não falaria com jornalistas... Ele refletiu sobre isso, já que a companheira o desejava “o mais glorioso de seu meio”, porém sua publicidade a deixava descontente. Henri apenas diz que quis ajudar a repórter principiante. Depois de passar os olhos pelos escritos de Marie-Ange, de fato concordou que “não se deve falar com jornalistas”... Considerou medíocre o texto da moça... Em síntese, concluiu, os jornalistas compreendiam pouco do que Henri e seu pessoal produziam. Ele considerou que a admiração deles pelo seu novo texto devia-se mais pelo fato de ser o primeiro romance lançado após o fim da guerra... Os jornalistas “são obrigados a elogiá-lo”.
Depois dessa conversa, Henri perguntou a Paule sobre como seria o seu dia... Suas respostas giravam em torno de futilidades (entrar em contato com a costureira sobre os tecidos trazidos por Henri). Ele sentenciou que não se conformava com o fato de Paule passar os dias “apenas vegetando”. Ela retrucou dizendo que “quando se ama, não se vegeta”... Queria dizer que se realizava dedicando-se integralmente a ele. Mas isso o incomodava demais, então voltou a tratar dos mesmos assuntos da noite de Natal. Disse que ela poderia se tornar a estrela do Clube 45. Os amigos colaborariam com o repertório, Julien escreveria as canções e Brugère cuidaria da música...
Paule era decidida, disse que levava em consideração apenas a opinião de Henri e que voltaria a cantar se, para ele, fosse muito importante ver o nome dela em cartazes. Isso o faria amá-la mais?... Quis mostrar-se decidida, contava 37 anos e não se aventuraria a iniciar uma carreira de “segunda categoria” (citou uma renúncia de outrora quando, em vez de partir em excursão ao Brasil, decidiu permanecer na companhia de Henri). Para ela, aquilo era uma situação definitiva.
As palavras de Paule, de alguma forma, levaram à reflexão sobre se teria mesmo se sacrificado (em relação à carreira artística) para permanecer com ele, ou se não se importava mesmo com a música... Ele se sentia incomodado, pois sabia que não sentia mais por Paule o mesmo de quando se conheceram. E isso era ainda mais pesado quando notava que a moça se anulava para viver ao seu lado... Para ela, voltar a cantar, não traria novo elã... Inicialmente, até que os intelectuais do circulo que participavam poderiam prestigiá-la, mas depois... A conversa se encerrou e novamente ela disparou que Henri não entendia o seu “amor de doação”.
Enfim, Henri retornou aos seus papéis. Com satisfação recolheu a centena de rascunhos que permaneceram sem alterações durante o seu mês de férias... Impressões desconexas... Em comum, os rabiscos possuíam a “atmosfera do anteguerra”... De súbito, nova angústia se apossou de Henri... O que escrever? Para quê escrever? Como construir um texto sobre uma época passada, envolvendo pessoas de sua convivência, que não as reduzisse à condição de “bonecos”? Todos tão diferentes do que foram no passado... Ele pensava essas coisas obviamente imaginando um novo romance sobre a própria existência.
De que forma organizar todos aqueles papéis? Coletá-los ao acaso? Não... Definitivamente esse não é o melhor método. Refletiu sobre a existência comum a todos, “nascer, padecer, morrer, alimentar vermes”...
Pensou sobre os últimos dias, no encontro com Dubreuilh, sobre a provocação de que L’Espoir é apena uma gazeta local... E os estudos dos textos de Marx?... Devia conversar com Sézenac... Preston arranjaria papel para as impressões? E a carta do velho das Viernas, de Portugal? Devia ser entregue ao Ministério das Relações Exteriores... Devia resolver isso também. Por que não começar por aí?
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_27.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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