segunda-feira, 21 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – Adelino e Nilta se casam; a cerimônia, uma festa; a vivência, um constante partilhar; feliz Páscoa

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_18.html antes de ler esta postagem:

O casal se separou... Adelino, um tipo reconhecidamente autônomo, passou a viver numa residência terapêutica... Nilta permaneceu por mais meio ano no Colônia amargurada por não saber se ainda dividiriam suas existências.
Mas estava claro que seus destinos estavam vinculados. Adelino jamais deixou de visitá-la aos finais de semana, e nunca se esquecia de levar-lhe presentes. Ele entendeu que precisava dela ao seu lado. E para sempre! Então decidiu que deviam se casar e dividir o mesmo teto.
É claro que a decisão de Adelino apresentava-se monumental, principalmente porque os benefícios que recebia do governo não passavam de um salário mínimo... Mas nem isso o impediu de prosseguir... Reconhecido por sua perseverança e “táticas de sobrevivência” que marcaram o seu tempo de Colônia, Adelino calculou que a soma dos seus recursos com os de sua amada, apesar de não resultar em valores exorbitantes, daria para alugar uma casa modesta.
Ele seguiu até a casa terapêutica para onde Nilta havia sido transferida e revelou-lhe seu projeto...
(...)
Sonhos se realizam.
Muita gente ajudou para que o casamento do dia 2 de dezembro de 2005 fosse digno e inesquecível para o casal... Adelino e Nilta fizeram tudo conforme o solicitado pela igreja, inclusive o curso para noivos...
Eles receberam agradados de todo pessoal das residências terapêuticas. Assim, participaram de “chá de panela” e tiveram enxoval. Todos ajudaram de alguma forma para que a festa ocorresse.
Os dois frequentaram curso de alfabetização e aprenderam a assinar o nome, assim, puderam fazer bonito no cartório.
Adelino empolgou-se e decidiu usar terno, gravata e camisa azul... Nilta conseguiu um vestido de noiva costurado especialmente para ela e uma tiara a altura do evento. Não faltou nem mesmo o seu “dia de noiva”...
(...)
Os dois receberam todo tipo de agrado.
A psicóloga Tânia Cristina de P. Paiva engajou-se nos eventos e envolveu toda a sua família no evento. Ela mesma foi madrinha do casal, enquanto que o seu marido, além de ajudar Adelino com os últimos detalhes, fez a vez de motorista dos noivos... As filhas de Tânia foram damas de honra da cerimônia.
O enlace se deu na igreja Bom Pastor, que foi cuidadosamente enfeitada... O enorme bolo, colaboração da comunidade paroquial, foi saboreado pelos muitos convidados... Até o prefeito e seus familiares marcaram presença.
A felicidade do casal era contagiante. Adelino e Nilta, que haviam entrado juntos na igreja para a cerimônia, decidiram, ao final da festa, prosseguir direto para a casa que alugaram no bairro Grogotó. Ali iniciaram uma nova fase de suas vidas sem nunca se separarem. Estão sempre juntos, seja nas compras ou nas consultas médicas.
O companheirismo e a simplicidade são as marcas do casal, que não deixa de agradecer a Deus pela vida que levam e pelas pessoas que os assistem. Esse é o caso de Tânia, a psicóloga.
A amizade e o reconhecimento que Adelino e Nilta (e também os demais moradores das residências terapêuticas) dispensam a ela são comoventes. Não há como não se sensibilizar com o episódio em que a doutora teve o carro roubado e os seus assistidos se prontificaram a ceder o que possuíam para que ela continuasse a fazer as suas visitas clínicas... Houve quem oferecesse vale-transporte e o passe livre (utilizados nos ônibus) a que têm direito... Adelino, que possuía uma poupança de R$3 mil, se dispôs a entregá-la para que ela comprasse outro carro.
(...)
Nesses últimos dias pensei um pouco sobre as histórias que Holocausto Brasileiro revela, e também sobre a sua relação com a Páscoa...
Os cristãos devem reconhecer nas vítimas do Colônia a imagem do Cristo que sofre?
Acho que sim. Mas não é fácil entrar numa temática desse tipo...
Todas as vítimas do Colônia e de outros manicômios devem ser reconhecidas pelo cristão como aquele que se apresenta necessitado, ao qual devemos amparar...
Essas reflexões podem nos levar a juízos piegas...
No entanto, podemos dizer que as transformações que muitos deles viveram são uma “feliz Páscoa”.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto 

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