quarta-feira, 23 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – a história de Geralda Pereira, violentada pelo patrão advogado e internada no Colônia para não escandalizar a sociedade; degradação e impacto; nascimento de João Bosco

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_21.html antes de ler esta postagem:

Dona Geralda Siqueira S. Pereira foi enviada ao Colônia quando tinha apenas 15 anos de idade... A sua internação tem a ver com o abuso que sofreu em Virginópolis (também no estado de Minas Gerais)... Aconteceu que ela engravidou depois que foi violentada sexualmente pelo patrão... Lançando mão de seu poder, o tipo, que também era advogado, tratou de escondê-la no hospício.
(...)
Geralda é natural da cidade de Coroaci (região do Vale do Rio Doce)... Ela perdeu os pais quando ainda vivia a sua primeira infância. Exatamente por isso é que ela foi criada pelos vizinhos... Não se pode dizer que eles tenham sido cuidadosos com ela, já que ela cresceu longe dos bancos escolares.
Analfabeta, logo arranjaram-lhe trabalho em casa da família de Virginópolis... Foram tempos de muita exploração no trabalho, pois mesmo sendo miúda, devia dar conta da limpeza da casa gigantesca, da comida e de lavar a roupa de toda a família (o casal tinha dois meninos e quatro meninas)... Algumas das crianças da família eram da idade de Geralda, mas ela era mantida afastada de suas brincadeiras... Então ela criou o hábito de brincar sozinha e escondida com uma boneca de pano que fez com retalhos.
Como foi afirmado no início, o patrão era advogado. Ele mantinha um escritório na parte de cima da imóvel. Sua esposa vivia com crises nervosas e por diversas vezes teve de ser internada em clínicas psiquiátricas da cidade de Divinópolis... Aos poucos, exatamente por esse motivo, Geralda foi se encarregando de todas as tarefas da casa.
O patrão a violentou pela primeira vez numa ocasião em que lavava o imenso banheiro da residência... Passado algum tempo, Geralda buscou ajuda ao revelar o seu trauma a uma das irmãs do tipo. Mas tudo o que ouviu foi que “homem é assim mesmo” e que o melhor que tinha a fazer era esquecer as circunstâncias.
Geralda não tinha a quem recorrer... Ninguém a protegia...Então aconteceu novamente... Aproximadamente um ano depois que tinha sofrido a primeira agressão sexual, o advogado a agarrou na cozinha e a estuprou.
Dessa vez ela desejou que a morte a dominasse.
(...)
Quando o inescrupuloso advogado e seus parentes mais chegados notaram que a menina havia engravidado, não tiveram dúvida e consideraram tirá-la de circulação para que a notícia não se espalhasse e escandalizasse a sociedade local... Duas irmãs de caridade (Helena Guerra e Tereza) conduziram Geralda ao Colônia.
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A primeira impressão que a menina gestante teve do local foi aterrorizadora. Temos uma ideia do que ela avistou: mulheres deitadas no pátio sujo e repleto de fezes. Também os gritos e lamentos constantes devem ter assustado Geralda.
Suas reflexões deviam ser sobre os motivos de a terem levado para um lugar tão degradante... Como se não bastassem esses transtornos, aplicaram-lhe o eletrochoque “para amansar”.
Geralda foi encaminhada ao berçário, onde o seu trabalho consistia em cuidar dos filhos dos pacientes e lavar a roupa... Ela se tornou fragilizada porque não se alimentava adequadamente... Quando o filho nasceu no dia 21 de outubro de 1966, ela quase não tinha forças... O evento foi um milagre... Todavia, o bebê era forte e ela pôde amamentá-lo satisfatoriamente.
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Por seis meses a mãe esteve junto ao seu filho. O menino foi batizado pelas freiras com o nome de João Bosco...
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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