quinta-feira, 24 de abril de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – monitores e os abusos contra os internos do Padre Cunha; João Bosco é transferido para a Febem; Geralda tornou-se mãe de mais três crianças; sua luta não tem fim e passa a ser ainda mais sofrida após a morte do marido

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/04/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_24.html antes de ler esta postagem:

São as recordações do João Bosco adulto que permitem resgatar alguns dramas que os meninos do internato Padre Cunha enfrentaram nos anos 1970...
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Havia um funcionário que era como que um monitor dos garotos... O nome dele era Roberto, um tipo que abusava da bebida e, normalmente por causa dela, também dos maus tratos aos internos.Aquele que fazia xixi na cama sempre sofria humilhações e tinha de ficar a noite inteira sob o chuveiro frio... O algoz gostava de torturar suas vítimas dizendo que cortaria o pênis dos que continuassem a “molhar a cama”...João Bosco não gostava desse Roberto e cansou-se de suas maquinações. A maldade do funcionário não tinha limites e, para termos uma ideia, ele gostava de enfileirar os meninos de mãos dadas e provocar um choque coletivo para que estatelassem no chão.
Certa vez João Bosco protestou e o monitor acabou ferindo o seu rosto com uma vara... O menino não teve dúvida e dirigiu-se imediatamente às madres, que estavam na capela... O tipo seguiu atrás dele, mas a irmã Dita quis ouvir o que João tinha a dizer.
Depois de conhecer as reclamações de João, a madre ficou mais atenta até confirmar que o funcionário representava mesmo perigo às crianças. Roberto foi demitido e para o seu lugar foi contratado um tipo simpático, que conquistou a confiança das religiosas.
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O novo monitor se chamava Rodrigues, era filho de italianos e tinha acabado de sair do exército... O que os meninos não aprovavam em sua conduta era o contato muito próximo, que ele parecia gostar de manter... De fato, os internos começaram a se afastar dele. Vários meninos reclamaram do assédio que sofriam do tipo durante as noites... Um deles teve a ideia de dormir com um cutelo para se defender no caso de ser atacado pelo malfeitor...
João Bosco chegou a articular um plano com outros dois companheiros. Sua ideia consistia em derrubar uma parede sobre o monitor... Fariam isso durante a noite com um trator de esteiras que estava a serviço do asfaltamento da estrada que chegava ao internato... Aprenderam a conduzir a máquina, mas ao se aproximarem de seu intento desistiram da ideia... Apesar disso, a ação dos meninos chamou a atenção das religiosas...
Rodrigues acabou demitido e denunciado, porém se livrou de qualquer complicação com a justiça... Holocausto Brasileiro destaca que aqueles eram tempos em que crimes contra as crianças eram acobertados.
Quando completou 13 anos, João Bosco (com outros sete internos do Padre Cunha) teve de se mudar para o município de Antônio Carlos, onde viveria na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor). Haviam se passado 14 anos desde que o separaram de sua mãe.
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Um ano depois de ter sido expulsa do Colônia, Geralda casou-se e teve mais três filhos (Décio, Dirceu e Elaine). Naturalmente sua angústia em relação à falta de notícias sobre João era uma constante em sua vida... É bem verdade que numa oportunidade chegou a visitar o patronato... Mas ela não se sentia segura em relação às freiras que a afastaram do próprio filho e, sem dinheiro, não tinha como visita-lo outras vezes. Seus pensamentos se tornaram mais pesarosos quando ouviu que João Bosco havia sido transferido para a Febem... Muitas dúvidas a torturaram e a pior de todas era a sua incerteza sobre a sobrevivência do filho no novo internato. Pensava mesmo que ele poderia morrer na Febem.
(...)
O marido de Geraldo faleceu... Então, ela teve de dar conta de sustentar as três crianças sozinha. Tornou-se ainda mais debilitada e trabalhou em casas de família. Não foram poucas as vezes em que conseguiu matar a fome dos filhos com as sobras de comida que as patroas davam a ela.
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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