quinta-feira, 31 de julho de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – primeiro e segundo atos; vaias e aplausos; Paule aparece no “camarim” onde Henri buscava isolamento; paralelo entre as experiências no Vercors e as cenas do segundo ato; começo da celebração

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_31.html antes de ler esta postagem:

Os três sinais da campainha soaram... Os tipos que conhecia estavam na plateia... No palco, Josette encenava o seu texto e nele percorria (com o belo vestido Amaryllis) a “aldeia calcinada e sufocada pelas vozes alemãs”...
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Uma dona que estava numa das fileiras de destaque se retirou com o seu rico chapéu ao mesmo tempo em que sentenciava não suportar mais “aqueles horrores”... Gritos, vaias e aplausos eram manifestados pelo público... Henri conseguia notar a indecisão de Josette... Ao avistá-lo, a moça encheu-se de coragem e retornou ao texto com desenvoltura...
Para Henri, mais do que assistir à encenação, o público estava ali para “proferir um veredicto”... De vez em quando conseguia ouvir novos gritos de “é uma vergonha”... É claro que ele mesmo não podia interferir, não podia defender-se ou defender a querida Josette... Talvez quisessem acuá-lo com gritos de “culpado!”.
O pano desceu... Fim do primeiro ato... Vaias foram ouvidas em meio ao grande aplauso... O autor se retirou para o escritório de Vernon.
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Henri buscava o isolamento para suas reflexões, mas logo a porta se abriu... Era Paule, que se achava no direito de trocar umas palavras... Mais uma vez ele notou a mudança em sua “ex”... Ela estava muito elegante. Disse que a primeira parte havia sido um “bonito escândalo” e garantiu que ele mesmo deveria estar deslumbrado...
Paule acrescentou que a mulher que tinha se retirado era uma suíça que durante a guerra havia permanecido em Genebra... Disse também que Huguette Volange teria desmaiado, e que o marido estava muito pálido... Cogitou que Louis talvez não suportasse o sucesso de Henri... Robert e Anne estavam encantados com a peça...
Henri ouviu com atenção as observações de Paule. Depois disse que seria normal se os que aplaudiram o primeiro ato despejassem vaias na sequência.
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O segundo ato teve início... Veio a cena do incêndio na igreja em que homens padeceram queimados; a personagem vivida por Josette traiu o marido que ela tanto amava...
Escondido da luz, Henri contemplou o público enquanto pensava sobre as emoções que ele estava provocando... Covas surgiram na “aldeia esquelética”; discursos; som de fanfarras; viúvas em seus trajes enegrecidos... Acusariam Henri de desrespeitar os mortos?
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Ele se expôs em sua peça teatral... Mas não vemos semelhanças entre o que é descrito e os episódios que Henri, Anne e Robert vivenciaram no Vercors enquanto pedalavam pelas montanhas?
A sinceridade daquele que escreve é “tão escandalosa como as crianças”... O autor “mente do mesmo modo que elas e, do mesmo modo, cada um receia, secretamente, ser um monstro”.
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O pano caiu. Fim da estreia...
Incontáveis apertos de mãos... O sucesso tornou-se realidade.
Henri dirigiu-se ao restaurante. A empolgada Lucie Belhomme só tinha palavras para exaltações (“triunfo”)... A mulher não cabia em si de tanta alegria pela excelente apresentação da filha. Fazia questão de dizer que o vestido vermelho (da Amaryllis, é claro) fez a diferença... Josette protestava ao garantir que a tesoura selaria o destino do figurino... Indignada, Lulu exclamou que a “marca da casa” estava naquela preciosidade apreciada por todos...
Henri interveio dizendo que Josette era a estrela da peça... Ao notar que ele se esquivava dos flashes, Lucie o barrou e pediu para que fosse bonzinho, pois a filha precisava de publicidade.
Mais sobre essa celebração nas próximas postagens.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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