Lambert disse que havia sido convidado por Volange para trabalhar numa publicação semanária, o “Les Beaux Jours”... Henri notou que o rapaz estava se aproximando cada vez mais do grupo conservador.
(...)
Henri Perron o alertou que, trabalhando em L’Espoir, devia se sentir
pouco a vontade para servir a uma “publicação de direita”... Lambert destacou
que o interesse do semanário era unicamente a literatura... Henri quis saber
como ele conciliaria as duas ideias, e deixou claro que os que se declaram
apolíticos são os mais reacionários.
Lambert lembrou que várias
vezes havia manifestado que partilhava das ideias de Louis Volange... Ambos
desprezavam a política... Henri advertiu que aquele era mesmo o limite da ação
de Louis, seu “inimigo político”. Essa parte final da conversa demonstrou o
quanto Lambert estava mesmo mais próximo do outro... Certamente o rapaz era
atraído pela neutralidade de Volange, e não se podia desconsiderar o quanto era
lisonjeado por ele... Com um tipo como aquele Lambert se reconciliava “com sua
consciência em relação à absolvição do pai e à fortuna herdada”...
Henri não tinha dúvida de que não podia permitir que
Lambert se afastasse mais.
(...)
Era com sinceridade que Henri gostaria que “alguém de fora” assistisse a
um ensaio da peça. Mas viu que Lambert se mostrava hostil, e devia mesmo ter “os
seus motivos secretos” para não acompanhá-lo.
Os ensaios suscitavam dúvidas... Henri devia levá-las a
sério? Salève e Josette não se entendiam; Lulu Belhomme não aceitava rasgar o belo
vestido Amaryllis confeccionado especialmente para a peça; Vernon insistia que
após o ensaio ofereceria uma ceia...
O autor se esforçava, mas parecia que ninguém lhe dava atenção... Foi
assim que começou a admitir que “uma peça bem sucedida ou malsucedida não é
coisa tão grave”... Apesar de insistir consigo mesmo que Josette deveria triunfar
no fim de tudo.
Como os Dubreuilh tinham acabado de regressar de Saint-Martin, decidiu
convidá-los ao ensaio... Anne aprovou, já que seria ocasião para Robert deixar
o trabalho um pouco de lado.
(...)
Henri tinha receio de que Dubreuilh passasse a falar sobre o dossiê dos
campos soviéticos de trabalho forçado... Mas isso não ocorreu... Podia ser
mesmo que ele nem estivesse preocupado com a situação.
O ensaio teve início e foi Henri que se viu acanhado por estar junto a
Anne e Robert que assistiam ao texto de sua autoria sendo dramatizado... Ao
final, Robert sentenciou-lhe que o texto era “muito melhor no palco”, Garantiu
que Henri podia ficar contente porque “aquilo era o que ele havia feito de
melhor”... Anne concordou.
É claro que as palavras de
Robert deixaram Henri animado... De sua parte, começou a pensar que talvez a
peça tivesse chance de aprovação...
(...)
A noite do “ensaio
geral” (que pode ser entendida como a “pré-estreia“) trouxe agitação ao coração
de Henri... Ele também possuía sonhos que alimentava desde a juventude...
Também ele imaginava alcançar a glória.
As pessoas chegavam e se posicionavam na plateia... Escondido, o autor
recordava o seu tempo de estudante, quando escrevia peças que chegavam a ser
bem recebidas... Mas eram outros tempos e outro público também...
Em breve ele saberia se
suas expectativas se dariam em frustradas ou não.
(...)
Os três sinais da campainha soaram.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_2.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto